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Por Valmir Moratelli
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Jô Soares: “O Brasil não perdeu a graça”

Jô Soares, 79 anos, abriu seu apartamento em São Paulo para uma conversa sobre humor, política, televisão e os planos para 2018

Por Bruno Meier Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 nov 2017, 15h27 - Publicado em 24 nov 2017, 00h00

Em janeiro do ano que vem,  Soares completa 80 anos. Após meio século de carreira humorística, durante a qual criou cerca de 300 personagens, e 28 anos de seu talk-show, com mais de 14 000 entrevistas realizadas – contadas aí suas fases no SBT e na Globo, Jô está lançando O Livro de Jô (Companhia das Letras), o primeiro dos programados dois volumes de suas memórias, escritas com a colaboração do jornalista Matinas Suzuki Jr.  recebeu o jornalista Bruno Meier em seu apartamento em São Paulo para uma conversa sobre humor, política, televisão e os planos para 2018.

O Livro de Jô foi feito a partir de 104 encontros com o jornalista Matinas Suzuki Jr. O que mais o emocionou nessas conversas sobre sua vida? Falar do Rafa (Rafael Soares, filho de Jô, morto em 2014). Diziam que eu escondia meu filho. Mentira! As pessoas não entendem que falar de um filho autista é difícil. Eu saía muito com o Rafinha. Ele amava música, era um pianista extraordinário. Ele olhava para você e dizia: “Sua música é tal”, de acordo com seu estado. É uma coisa sobrenatural, meio mágica.

 

Dos personagens cômicos que o senhor fazia, algum seria rejeitado hoje? Praticamente todos. A patrulha está um inferno.  Qualquer um deles poderia ser patrulhado, porque a patrulha não vê nada. A patrulha é burra, sempre. Mas talvez os mais problemáticos fossem o Pai da Bicha e o Capitão Gay. Se bem que eu sempre fui contra qualquer forma de preconceito. Sou um anarquista.

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É mais difícil fazer humor hoje, então? Tenho 58 anos de profissão, com carteira assinada, e nunca vi uma coisa tão raivosa e medíocre de certas pessoas. Você viu o o ódio que as pessoas colocam nos comentários sobre o João Gilberto? E com a Fernanda Montenegro? Ou sobre a Daniela Thomas? Disseram: “ah, mas ela é ligada a toda-poderosa Globo” ou “Claro, uma pessoa que fez o show de abertura das Olimpíadas”. Ah, pera lá, ligar a Daniela Thomas ao Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, do Comitê Olímpico Brasileiro)Mas há de se fazer humor mesmo assim. A grande arma do humor é a anarquia. Falo para os humoristas: façam, mesmo sob risco de serem apedrejados.

(Lailson Santos/VEJA)

O Brasil ainda tem graça? Tem. O humor, para mim, é uma visão de mundo. Perguntei tempos atrás ao cardeal de São Paulo, dom Odilo Scherer: “Padre, pode doar sangue?”. “Claro”, ele respondeu. “E esperma?”. Ele caiu na gargalhada. Tem pessoas que devem ter ficado chocadíssimas de eu fazer uma pergunta dessa para um cardeal.  Mas temos de fazer.  Gente, é humor. Não há limite. O Brasil não perdeu a graça. Eu só tenho medo que se perca a esperança, porque se você chega num momento em que se discute se vai votar em Lula ou Bolsonaro, quer dizer que não surgiu ninguém? Que ninguém quer? Que a política foi apodrecendo? Sem a política, não há como salvar o país. A esperança é a Lava Jato. Quando se poderia imaginar que um governador como Sérgio Cabral, esse senhor que quando criança andou muito nos meus ombros, pegaria muitos anos de cadeia?

O Brasil ficou mais conservador ou os conservadores, a partir das redes sociais, mostraram suas caras? As duas coisas. O brasileiro é conservador. Sempre foi, mas disfarçava. “Êêê, tem Carnaval, oba”. Oba? Que oba? Como assim? Você vê que a grande música do Ary Barroso começa dizendo que o brasileiro é um “mulato inzoneiro”. As pessoas pensam que é um elogio. Inzoneiro, quer dizer, vagabundo, preguiçoso. Hoje, talvez ele seria preso por botar mulato numa música.

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(Lailson Santos/VEJA)

Depois de 28 anos à frente de um programa de entrevistas, no SBT e na Globo, o senhor encerrou essa fase em 2016. Alguma angústia por isso? Não. Estava na hora. Conversei com o (Carlos Henrique) Schroder (diretor-geral da Globo) e disse: “Eu não tenho mais o mesmo prazer que eu tinha”. Ele respondeu: “Quanto tempo você acha que precisa para terminar o programa, para ele não cair de uma forma melancólica?”. Demos dois anos. Terminei e foi um alívio.

Como está sua relação hoje com a Globo? Veio até a minha casa a Vanessa (Pina), que é uma pessoa super encantadora, dos Recursos Humanos. A única coisa que eu não concordo é trocar “recursos humanos” por “capital humano”. Até brinquei com ela: “Ainda bem que não estamos nos tempos dos escravos”, porque “capital humano” nos tempos dos escravos eram os escravos. Mas minha relação com eles é ótima. Sou amigo do Roberto Irineu, quando ele ainda era o Robertinho. A gente jantava toda semana juntos. Então não teria porquê ser diferente. A Vanessa veio aqui, ano passado, e disse: “Vamos fazer o seguinte: vamos fazer uma coisa assim de dois anos você ganhando…”. Eu falei: “Não, não quero mais nada. Chegou”. Mas meus amigos sugeriram de propor um ano de contrato sabático, como as grandes empresas. Claro, ganhando menos, mas fazendo muito menos.

E 2018? Houve um momento em que quis fazer o Meninas do Jô, na GloboNews. Aí, me convenceram que o programa seria mais um sobre política num canal que só fala disso. Fiz televisão por 60 anos. Posso me dar ao luxo de não fazer mais. Em 2018, farei a peça A noite de 16 de Janeiro, de Ayn Rand. E sabe o que aconteceu de mais importante na noite de 16 de janeiro? Eu nasci.

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