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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Review: a 2ª Temporada de Downton Abbey

O mais popular drama inglês da atualidade encerrou a exibição de sua segunda temporada conquistando cerca de 10.5 milhões de telespectadores, chegando a 10.7 milhões com a reprise na mesma noite. Segundo a imprensa, os números equivalem a 35% da audiência em seu horário. Criada por Julian Fellowes, que se inspirou em seu próprio filme, […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 10h14 - Publicado em 8 nov 2011, 12h43

O mais popular drama inglês da atualidade encerrou a exibição de sua segunda temporada conquistando cerca de 10.5 milhões de telespectadores, chegando a 10.7 milhões com a reprise na mesma noite. Segundo a imprensa, os números equivalem a 35% da audiência em seu horário.

Criada por Julian Fellowes, que se inspirou em seu próprio filme, “Assassinato em Gosford Park”, a série “Downton Abbey” foi sucesso de crítica e de público quando estreou em 2010. Tendo ganho o Emmy deste ano na categoria Melhor Minissérie (embora seja uma série de TV), a produção frustrou parte de seu público ao oferecer uma segunda temporada inferior à qualidade desenvolvida na primeira.

Nesta temporada, Fellowes cruzou a linha que separa o drama familiar da novela, que em “Downton Abbey” já era tênue. Como ele fez isso? Reduzindo falas que retratam a rotina e o cotidiano para enfatizar diálogos expositivos das situações propostas, aumentando o número de personagens centrais em um elenco já grande, apresentando situações mal desenvolvidas e praticamente eliminando as cenas mudas. Também deixou em segundo plano o desenvolvimento interno dos personagens para priorizar uma quantidade exagerada de reviravoltas, em uma temporada que ofereceu, pelo menos, nove tramas ao longo de oito episódios. Para completar, solucionou a maioria delas no último episódio.

O texto abaixo contém spoilers.

 

Ethel Parks

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A temporada já começou mal ao introduzir Vera Bates, vilã típica de novela, que entrou para a história com o único objetivo de esgarçar a relação entre Bates e Anna (que terá consequências na próxima temporada). Alguns poderão argumentar que sua principal função nesta temporada era a de forçar Mary a se comprometer com Richard. Mas, ao meu ver, esta questão poderia ter sido levada por qualquer outra personagem que estivesse de posse do segredo de Mary, sem ter a  necessidade de fazer parte ativa da trama (como, por exemplo, a empregada que contou a história para a Sra. Bates).

Ao longo da temporada, a série também introduziu mais dois personagens: Patrick e Ethel, que ganharam um destaque desnecessário, desperdiçando o pouco tempo que a história tinha para oferecer aos personagens fixos. A participação de Patrick, que alegava ser o herdeiro morto no naufrágio do Titanic, à la Princesa Anastácia, não apenas foi mal construída como banalizou a situação vivida pela família no primeiro episódio da série, iniciada após a tragédia. Se o interesse de Fellowes é de resgatar Patrick no futuro, ele poderia ter sido introduzido na trama em outra temporada, sob outras circunstâncias.

Já Ethel teve uma participação mais consistente. Mas visto que sua história não interferiu na vida dos demais, tendo como único elo a Sra. Hughes (que servia como a leva-e-traz de informações), a personagem literalmente roubou o tempo que poderia ser gasto com o desenvolvimento mais apurado de outras tramas que envolviam o elenco fixo. Além disso, Ethel protagonizou uma das diversas cenas de novela vistas nesta temporada, ao invadir a sala de jantar dos Crawley, com seu bebê no colo, para tentar convencer os pais do oficial com quem teve um caso, de que a criança era neta deles.

Daisy Robinson e William Mason

Em contrapartida, Fellowes abandonou diversos personagens importantes, entre eles Thomas que retornou da guerra muito cedo. Antes tivesse voltado apenas nos últimos episódios, a tempo de protagonizar sua tentativa de entrar para o mercado negro.

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Fellowes inicia introduzindo duas situações importantes: a decisão de Lady Sybil de trabalhar como enfermeira, como uma forma de contribuir com o esforço de guerra; e a vida de Matthew no front e suas consequências. Mas em seguida abandona os dois personagens, banalizando as situações que eles protagonizam.

Após se formar enfermeira e retornar para a mansão, transformada em hospital para oficiais em convalescênça, Sybil praticamente desaparece, sendo vista em cenas com o motorista, que constantemente declara seu amor por ela. Foram estas as cenas que Fellowes considerou importantes para justificar a decisão de Sybil de assumir sua relação com Tom, o chofer. Como resultado, o público não acompanha as experiências que ela têm ao trabalhar como enfermeira, as quais são responsáveis pelo seu processo de transformação. No lugar, o autor nos obriga a acompanhar a transformação de Lady Edith, irmã de Sybil, que por instinto, sem qualquer treino ou noção, oferece palavras de conforto aos pacientes, também servindo de ouvinte.

Ambas vivenciaram estas mudanças, não havendo motivo para ignorar uma personagem em favor da outra. Teria sido muito mais proveitoso se Fellowes tivesse nos mostrado Lady Edith acompanhando de perto e silenciosamente o trabalho da irmã enfermeira, ocasionalmente conversando com os pacientes. Assim, teríamos testemunhado o processo de transformação das duas, cada uma respeitando suas próprias personalidades. De quebra, ainda veríamos a forma como a guerra aproximaria estas mulheres que, embora vivam na mesma casa, têm uma relação distante.

Matthew Crawley

Outro personagem jogado fora foi Matthew, que foi aproveitado até o momento em que descobre ter ficado paralítico. A partir desse momento, ele é deixado de lado pelo autor. Choramingando pelos cantos sua má sorte, repetindo incansavelmente como se sente (ao invés de nos contar sem palavras), Matthew se transformou em caricatura (alguém notou o ator balançando as pernas em uma cena que conversa com Mary no jardim, no episódio seis?). Fellowes nos impediu de acompanhar o processo lento e doloroso de recuperação do personagem. Como se não bastasse, negligenciou sua situação solucionando-a de qualquer jeito e de forma sensacionalista.

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Fellowes também abandonou Isobel, mãe de Matthew, que devido à situação do filho tinha a obrigação de se fazer mais presente. Ao saber que Matthew não poderá mais andar, o que faz esta mulher que na primeira temporada recusava-se a aceitar um não como resposta, passando por cima de todos para levar o melhor atendimento médico a pessoas que ela nem conhecia? Nada.

Isobel deveria ‘colocar o filho nas costas’ e correr atrás dos melhores médicos e tratamentos disponíveis em sua época. Mas ao invés disso, ela se omite e se resigna. Depois de forçar a personagem a tomar uma atitude oposta à sua personalidade, Fellowes se esquece de sua existência, privando o público de testemunhar a relação desta mulher, ávida por ser útil, com seu único filho, frágil e carente.

Desta forma, as duas tramas propostas no início da temporada (Sybil e Matthew) teriam um desenvolvimento sólido e coerente, tendo em paralelo a situação de Mary que, ao saber do noivado de Matthew com Lavínia, toma a decisão de seguir em frente com sua relação com Richard. Esta personagem acabou sendo a única que recebeu toda a atenção de Fellowes.

Mary Crawley

Lutando para controlar racionalmente suas emoções, Mary passa por diversos estágios conforme as situações em torno de Matthew vão se apresentando. Frustração, medo, compaixão, desespero, cumplicidade, amor, alívio, alegria e dor. Até chegar no rancor por ser obrigada a assumir uma relação que não deseja, algo contra o qual vinha lutando desde a primeira temporada, resignando-se no final.

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Outros dois personagens também tiveram presença importante vivendo situações semelhantes: a moral testada pelas circunstâncias. Daisy e Lord Robert Crawley representam o extremo oposto da sociedade que se formou na mansão. Robert é o chefe da casa, a pessoa que está acima de todos, e Daisy é a auxiliar de cozinha, a menor função entre os empregados da casa. Robert é refém da situação que se formou durante a Primeira Guerra Mundial e que voltaria a ocorrer durante a Segunda Guerra: as mulheres tomaram conta, exercendo diversas funções na sociedade depois que os homens partiram para a guerra.

Confuso, sentindo-se deslocado e sem voz de comando, a ponto de levar o polido Lord a levantar a voz algumas vezes, Robert perambula pela mansão praticamente sem função. A frustração de não poder servir ativamente seu país o leva a se sentir atraído por Jane, uma das novas empregadas, viúva de guerra que tem um filho de 12 anos.

Ele passa a ajudá-la e a conversar com ela, relação que chega ao ponto de um envolvimento romântico. Antes que cheguem às últimas conseqüências, ambos tomam a decisão de se separar. Ela vai embora, mas levando consigo um auxílio financeiro para seu filho, o que nos leva a crer que a personagem poderá retornar mais tarde.

Lord Robert Crawley e Jane Moorsum

Daisy também se torna refém da Guerra. William, um dos empregados da casa, parte para os campos de batalha, mas antes arranca de Daisy a promessa de que na sua volta eles irão se casar. A jovem não está apaixonada por ele, mas é convencida pela Sra. Patimore, a cozinheira, a aceitar o pedido de William para não comprometer o estado de espírito de um homem que está partindo para a guerra. Gravemente ferido, ele é levado de volta a Downton para morrer. Novamente convencida pela cozinheira, Daisy se torna uma viúva de guerra.

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Em sua visão, ela cometeu um crime. Mentiu para um moribundo e enganou o governo ao se declarar esposa de um militar, sendo que o casamento durou apenas algumas horas e não foi consumado. Sem ter com quem compartilhar sua confusão mental, Daisy vai contra sua natureza assumindo uma postura grosseira e agressiva.

Por fim, a temporada também contou com a presença de Lady Violet, interpretada por Maggie Smith, que pairou sobre todos os problemas da segunda temporada. Sem se abalar com os altos e baixos da série, Violet se manteve fiel à sua personalidade e comportamento, surgindo como ‘coringa’ na solução de alguns problemas. É ela quem consegue transferir William para Downton, visto que ele não é um oficial, é ela quem convence o padre a casar William e Daisy, e é ela quem informa a Matthew que Mary ainda está apaixonada por ele. Indiretamente, Violet também auxilia Sybil quando esta informa a família que pretende se casar com o motorista. Sem oferecer apoio incondicional, ela é responsável por suavizar a reação de Robert, que a princípio não aceita a decisão da filha.

Com a promessa de superar os episódios produzidos em 2010, a segunda temporada de “Downton Abbey” não conseguiu definir a série como uma das melhores do ano. Ao contrário, criou um abismo entre as duas temporadas. O que ainda segura a série são seus personagens, motivo pelo qual continuei assistindo e pelo qual aguardo a terceira temporada. Mas torcendo para que ela resgate a abordagem vista na primeira.

A série também tem um especial de natal que será exibido em dezembro na Inglaterra. A história que será desenvolvida ainda não foi divulgada, mas deverá ser situada no período natalino de 1919. A série está disponível em DVD e Blu-Ray no mercado internacional.

 

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Por Fernanda Furquim: @fer_furquim

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