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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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As 10 melhores séries de 2015

Boa tarde a todos que acompanham este blog. Antes de entrar no tema desta postagem, gostaria de desejar um feliz final de ano! Acredito que este não seja um ano que deixará saudades em termos gerais mas, no que diz respeito às produções televisivas, 2015 foi bom! Diversas produções consagradas fizeram seu retorno e outras encerraram […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 30 jul 2020, 23h47 - Publicado em 26 dez 2015, 13h30

10Boa tarde a todos que acompanham este blog. Antes de entrar no tema desta postagem, gostaria de desejar um feliz final de ano!

Acredito que este não seja um ano que deixará saudades em termos gerais mas, no que diz respeito às produções televisivas, 2015 foi bom! Diversas produções consagradas fizeram seu retorno e outras encerraram suas produções à sua altura. O ano também trouxe a estreia de séries que se estabeleceram rapidamente junto à crítica e/ou público.

Faltando poucos dias para o fim do ano, publico minha lista das melhores séries de 2015. Alguns leitores me perguntaram se existe uma data fixa para a publicação desta lista. Cheguei a pensar em fixá-la mas, considerando que os canais estão cada vez mais programando a estreia de novas séries ou minisséries para o mês de dezembro, acabo não definindo uma data. Assim, para aqueles que têm interesse em acompanhar esta lista anualmente, fica estabelecido que ela será publicada sempre entre o natal e o ano novo.

Esta lista é dividida em duas partes. A primeira são as dez séries que, em minha opinião, atingiram um alto nível de qualidade. Minha avaliação leva em consideração a proposta e o desenvolvimento de personagens e situações.  A segunda parte é composta das produções que, de alguma forma, se destacaram entre as boas séries do ano, fazendo com que valesse a pena assiti-las.

Para aqueles que ainda não conhecem meu trabalho (e minhas listas), informo que não valorizo as séries pelo nível de sua audiência/popularidade ou pela quantidade de prêmios/indicações que recebem. Também não valorizo uma produção por seu orçamento ou pelos nomes dos profissionais envolvidos. Meu interesse em listar as melhores séries a cada ano é o de reconhecer o trabalho daqueles que atingiram o potencial de uma produção, tendo como referência seu conteúdo e não os interesses da audiência ou do mercado.

Portando, esta lista é o resultado da minha opinião do que é uma boa série. Quem tiver interesse de deixar nos comentários sua própria lista, fique à vontade. Informo apenas que comentários agressivos ou que faltam com o respeito não serão publicados.

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Quem tiver interesse em conferir minhas listas anteriores basta entrar neste link.

Rectify

1. Rectify – 3ªT – Drama – Estados Unidos

Esta é uma série que surpreende por conseguir se manter fiel à sua proposta ao longo das três temporadas já produzidas. Sem sofrer pressões para alterar sua linha narrativa, Rectify cresce e se estabelece como uma das produções mais ousadas da TV americana nos últimos anos. Na contramão de boa parte da programação americana, a série ousa ao contar sua história em um ritmo extremamente lento (comparável aos filmes europeus), colocando os sentimentos e os movimentos internos dos personagens acima da ação, de forma contemplativa.

A história apresenta a trajetória de Daniel Holden (Aden Young), um homem condenado à morte pelo estupro e assassinato de sua namorada. Depois de passar quase duas décadas no corredor da morte, ele é liberado graças às novas evidências de DNA. Por ter passado muito tempo no isolamento, Daniel sente dificuldades de se readaptar à sociedade e à sua família.

Na primeira temporada, a trama é narrada ao longo de seis dias, nos quais Daniel tenta assimilar a ideia de que agora tem uma vida pela frente. Neste primeiro momento, ele ainda reage como um prisioneiro recebendo ordens e seguindo as regras impostas, evitando ao máximo criar problemas. Na segunda temporada, Daniel está acordando para sua atual realidade. Com base em suas opiniões e desejos, ele começa a tomar decisões que definirão seu futuro e seus relacionamentos.

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Em sua terceira temporada, a série mostra Daniel lutando para controlar sua força interior, que se manifesta em rompantes. Momentos de revolta, depressão e frustração são intercalados com aqueles em que ele se eleva e contempla a vida como algo que vai além dos problemas que o cercam.

Os sentimentos de culpa e de frustração dominam Daniel e os demais personagens. Ele precisa provar constantemente a todos que não é um homem perigoso. Mas a frustração e a raiva contida o levam, em alguns momentos, a tomar atitudes que colocam em dúvida sua sanidade ou intenções. Seu sentimento de culpa o persegue, seja por não saber ao certo o que aconteceu, seja por ter sido um jovem orgulhoso, ou seja por ser um peso para sua família. O sentimento de culpa dos demais personagens varia de acordo com sua situação.

Esta não é uma série sobre heróis dando a volta por cima, provando seu valor, ou sobre vilões querendo se vingar do mundo; nem uma produção sobre o sistema judiciário e suas falhas, ou um drama policial que precisa encontrar um culpado. Esta é uma história sobre evolução espiritual, na qual cada um precisa ter coragem de olhar para dentro de si mesmo e para o próximo com generosidade, para aprender a aceitar e a perdoar, apreciando as ‘pequenas’ coisas da vida.

Rectify já foi renovada para sua quarta temporada. Ainda não foi divulgado se ela será a última, mas é bem possível que seja.

 

MadMen

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2. Mad Men – 7ªT (2ª parte) – Drama – Estados Unidos

Ao longo de sete temporadas e dez anos de produção, Mad Men estabeleceu um canal e marcou uma década. Fiel à sua proposta, a série chegou ao fim apresentando personagens que passaram pelas transformações sócio-culturais dos anos de 1960.

Seu protagonista, Don Draper (Jon Hamm), é um homem dividido. Por um lado egoísta e determinado, ele sabe identificar os anseios do público e transformá-los em breves momentos de felicidade, vendendo-lhes o sonho americano, um negócio rentável que poderia lhe dar a satisfação que todos procuram na vida. Mas dentro dele existe Dick, um sujeito traumatizado e sensível que questiona a toda hora o sentido da vida.

Essas duas pessoas vivem juntas sem se aceitarem completamente, embora elas necessitem uma da outra. Seus conflitos e sua incapacidade de mudar radicalmente o rumo de suas vidas ou determinar quem está no comando, levam o personagem a cometer os mesmos erros e repetir atitudes, deixando passar oportunidades. Fugindo de Dick, Don se sente incapaz de se conectar emocionalmente com as pessoas. Sem aceitar Don, Dick sente que nunca foi amado.

Na última temporada, Don coloca o pé na estrada, afastando-se da vida que construiu e buscando a si mesmo. Ele vai parar em uma comunidade esotérica, onde se vê obrigado a se conciliar com Dick. Abraçando seus temores e chorando suas dores, Don parece encontrar o equilíbrio emocional que tanto almejava.

Sem deixar para resolver tudo no último episódio, a série também definiu a situação dos demais personagens que fizeram parte da história de Mad Men. Sem sensacionalismos ou grandes reviravoltas, sem forçar situações para agradar o público, a série encerrou como começou: suavemente, preservando a integridade da trama e dos personagens, que mostram que continuarão a se reinventar.

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TheLeftovers1

3. The Leftovers – 2ªT – Drama – Estados Unidos

Em sua estreia em 2014, a série dividiu a opinião pública e a crítica, tornando-se uma produção ‘ame-a ou deixe-a’. Ao retornar para sua segunda temporada, The Leftovers trouxe algumas mudanças criativas as quais permitiram que muitos daqueles que tinham ‘torcido o nariz’ para sua forma de contar história mudassem de opinião. A principal delas foi a de acelerar o ritmo e introduzir mais ação. Apesar destas mudanças, a série não se perdeu, mantendo a complexidade e profundidade dos personagens e da trama.

The Leftovers é uma adaptação de Damon Lindelof e Tom Perrotta da obra de Perrotta escrita com base nos sentimentos dos americanos, e nos efeitos sócio-culturais, que os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001 provocaram nos EUA.

Na história, o público acompanha a forma como as pessoas reagem à perda inexplicável de familiares ou amigos em larga escala, depois que 2% da população da Terra desaparece. Três anos após o evento, vivendo em uma sociedade culturalmente diferente daquela que conhecemos hoje, os personagens criam formas de sobreviver ao trauma da perda, à tristeza, às crises de fé e às atividades de cultos religiosos extremistas. Em entrevistas, os produtores já disseram que não há intenção de oferecer uma explicação sobre o desaparecimento.

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Na série, cada episódio apresenta o ponto de vista de um personagem ou grupo de personagens. Visto que a primeira adaptou toda a obra de Perrotta, os produtores se viram obrigados a reformular a trama e reconstruir os personagens para que a história pudesse continuar a ser contada. Assim, a segunda temporada traz uma mudança de cenário, com alguns dos personagens deixando Mapleton para ir morar em Jarden, uma cidade do Texas mais conhecida como Miracle, visto ser a única cidade dos EUA a não registrar nenhum dos desaparecimentos que alteraram o mapa populacional do planeta.

A cidade oferece a eles a ilusão da segurança, um oásis que resgata o estilo de vida do passado, dominado pelo ideal americano de uma existência idílica. Mas por trás das aparências escondem-se os temores, a raiva, as frustrações, os preconceitos e os sacrifícios que são feitos para manter esta sociedade perfeita e ditatorial isolada do resto do mundo violento e desorganizado. Novos personagens foram introduzidos, como a família Murphy, que se torna um dos principais focos da trama.

Na primeira temporada, os personagens ainda estão em um estado letárgico, o que os torna incapazes de tomar atitudes que possam mudar o rumo de suas vidas. Na tentativa de retomar uma existência normal, dentro de uma sociedade que não compreendem mais, elas se tornam pessoas frustradas e depressivas, que têm dificuldades de aceitar as transformações culturais pelas quais o mundo passou (ou está passando). Ao final da temporada, o caos toma conta do restinho de mundo que elas conhecem.

Na segunda, esses personagens partem para a ação pois, ao se transferirem para uma cidade que resgata seu passado, e ao tentar se ajustar às regras pré-estabelecidas, eles acabam se tornando os agentes de mudança influenciados pelos traumas vividos no mundo do qual tentam fugir.

Outra mudança importante que foi feita nesta segunda temporada é a do tom da série. Na primeira, o clima era mais depressivo, oferecendo poucas oportunidades para os personagens sonharem com um futuro melhor.

Em seu retorno, a série oferece um ambiente que dá à eles a esperança de construir um novo começo. Assim, os obstáculos são encarados como desafios a serem solucionados: Kevin (Justin Theroux) vai às últimas consequências para se livrar de Patti (Ann Dowd); Nora (Carrie Coon) está determinada a reconstruir sua vida e uma família; Matt (Christopher Eccleston) sacrifica tudo para que sua esposa possa voltar ao normal; e assim por diante (não vamos falar de spoilers). Mas logo eles percebem que, para conseguir conquistar seus objetivos, precisarão de ajuda. Assim, mesmo quando tudo parece desmoronar à sua volta, a experiência de já ter sobrevivido ao caos faz com que eles se unam de uma forma positiva, mantendo a esperança.

A série já foi renovada para sua terceira e última temporada. Ainda não sabemos qual será o foco da trama, visto que a segunda oferece, de certa forma, uma finalização às situações vividas pelos personagens. Em entrevistas, Lindelof e Perrotta disseram que têm interesse em explorar a história do pai de Kevin, vivido pelo ator Scott Glenn, que não participou de fato da segunda temporada.

 

Better Call Saul

4. Better Call Saul – 1ªT – Dramédia – Estados Unidos

Esta é uma produção que, antes mesmo de sua estreia, já gerava grandes expectativas por parte de fãs e críticos por ser uma spinoff/prelúdio de Breaking Bad, uma série cultuada em sua própria época.

A proposta é apresentar a transformação de Jimmy McGill (Bob Odenkirk) em Saul Goodman, o advogado de Walter (Bryan Cranston). Se em Breaking Bad temos a transformação de um homem bom em um criminoso frio e calculista, em Better Call Saul temos, neste primeiro momento, a tentativa de um vigarista de se tornar um homem honesto.

A história tem início cerca de seis anos antes da primeira temporada de Breaking Bad. Jimmy é um advogado de porta de cadeia que luta para se estabelecer profissionalmente. Astuto e com boa lábia, ele se esforça para se manter dentro da lei enquanto tenta ganhar dinheiro e cuidar do irmão Chuck (Michael McKean), um advogado renomado que passa por um momento difícil em sua vida.

Jimmy era um vigarista com excesso de confiança que aplicava golpes com a ajuda de um amigo. Tentando provar ao irmão que é capaz de refazer sua vida, Jimmy se forma em Direito e começa a sonhar com o sucesso. O problema é que, embora tenha consciência do que é certo e errado, embora suas intenções sejam boas, e embora ele seja leal ao irmão, aos clientes e aos amigos, os métodos de Jimmy continuam sendo os de um vigarista.

Ele não se apresenta como um profissional que tem paixão em aplicar as leis e fazer justiça. Para Jimmy, ser advogado é uma extensão dos golpes que costumava aplicar. Tudo é uma questão de lábia: convencer uma vítima a cair em seu golpe ou os jurados/juízes sobre a inocência de seus clientes.

A relação entre os irmãos é o tema principal da temporada. É ela que define a consciência e as atitudes de Jimmy. Chuck é um homem que acredita profundamente no sistema judicial e na aplicação das leis. Ele coloca a justiça acima de qualquer necessidade ou interesse. Homem orgulhoso, determinado e de princípios e opiniões fortes, ele domina o irmão apesar de estar passando por um momento de fraqueza, que o deixa exposto e dependente de Jimmy.

Com uma bela fotografia e ótimos diálogos, a temporada trabalha a transformação íntima de um personagem que todos pensavam conhecer. Ao longo dos episódios produzidos, vemos o sofrimento de Jimmy que luta contra sua natureza e instintos a fim de preencher os requisitos necessários para se tornar um bom e honesto advogado como seu irmão. Mas cada derrota o faz lamentar sua situação e questionar sua decisão. Até que o golpe final é dado levando o telespectador a compreender que Saul Goodman está prestes a assumir o lugar de Jimmy.

A segunda temporada estreia em fevereiro, nos EUA.

 

Detectorists

5. Detectorists – 2ªT – Dramédia – Inglaterra

Esta é uma despretensiosa série britânica exibida pelo canal BBC4 da Inglaterra, o qual é voltado para produções mais segmentadas e programas de arte. Criada e estrelada pelo ator Mackenzie Crook, Detectorists foi bem recebida pela crítica e pelo público, chegando a ganhar o BAFTA de melhor comédia de 2014, quando foi exibida sua primeira temporada.

A história apresenta a vida de Andy (Crook), um sujeito simples e humilde que sonha em trabalhar como arqueólogo. Morando em uma cidade pequena, ele tem como melhor amigo Lance (Toby Jones), um motorista de empilhadeira. Os dois têm em comum a paixão por detectar metais na esperança de um dia encontrar um objeto histórico e precioso.

Andy é casado com Becky (Rachael Stirling), uma professora de escola primária, com quem tem um filho, Stanley, nascido nesta segunda temporada. Quando Becky decide se mudar para a África do Sul, força Andy a fazer uma escolha: deixá-la ou acompanhá-la, afastando-se de sua vidinha e de seu amigo Lance, um homem divorciado e solitário.

Os dois pertencem ao clube dos detectores de metal da região rural em que vivem, o qual é composto por pessoas tão simples e excêntricas quanto eles. O grande desafio do clube é o de encontrar algum metal precioso antes de uma dupla de caçadores de tesouros conhecida pelo apelido de Simon & Garfunkel.

Esta não é uma série de ação, mas de personagens. A narrativa lenta apresenta pessoas sem grandes ambições ou expectativas de viver uma aventura. Seus dilemas são simples, bem como seu modo de olhar para a vida. Todo aquele que se dedica a um hobby conseguirá se identificar com Andy e Lance, dois sujeitos que organizam seus horários e gastam seu dinheiro com uma atividade pela qual são apaixonados. Um hobby visto por aqueles que estão de fora como algo sem sentido ou desinteressante (um total desperdício de tempo e dinheiro).

Na prática, os dois são pessoas que se escondem da vida, recusando-se a assumir os compromissos e os problemas do mundo adulto. Andy está desempregado e não faz questão de correr atrás de um trabalho que poderá afastá-lo de seu hobby. Até que Becky obriga o marido a acordar para a vida, interrompendo sua infância prolongada. Por trás desta trama está o tema principal da série: a amizade que existe entre os dois protagonistas, que têm dificuldades de falar sobre seus sentimentos, fazendo uso de comentários banais ou do humor para expressá-los.

Como metáfora, temos a ideia de que o objeto de valor que os dois procuram é a amizade sincera. Os objetos de pouco ou nenhum valor que encontram pelo caminho são as diversas pessoas que passam por suas vidas, sem deixar uma marca ou uma lembrança. Quando um deles encontra, por fim, o tão desejado ouro, ele é levado embora, deixando-o sozinho e incapaz de sequer encontrar outros objetos de menor valor. Para quebrar a ‘maldição do ouro’, ele se vê obrigado a ‘dar algo para receber algo em troca’.

 

Fargo1

6. Fargo – 2ªT – Drama – Estados Unidos

Esta série é uma adaptação do filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, exibido nos cinemas em 1996. Cada temporada narra uma história diferente, sendo que elas estão de alguma forma interligadas.

A segunda temporada é compartilhada por grupos diferentes de personagens, cada um contribuindo com sua parte para dar andamento à trama, que é conduzida pelo jovem Lou Solverson (Patrick Wilson), personagem interpretado por Keith Carradine na primeira temporada.

Situada no ano de 1979, a história tem início quando um homem mata três pessoas em uma lanchonete de beira de estrada. Por trás do esperado banho de sangue que marca a série, ela conseguiu oferecer em seu retorno personagens complexos, extremamente ricos em sua cultura e menos caricaturados que os da primeira temporada, dando consistência à trama e às situações que viviam.

Com uma belíssima fotografia, a temporada retrata o período em que está inserida. No final da década de 1970, os EUA viviam importantes mudanças políticas e econômicas. Ainda passando por uma recessão, o país testemunhou o crescimento dos conglomerados que rapidamente adquiriam pequenas empresas (muitas delas de economia manufaturada) para expandir seu território. Com a crise, o povo perdeu a fé no governo e a visão cínica da vida substituiu a postura otimista que tinha dominado as décadas de 1950 e 1960.

As questões políticas e econômicas do período aparecem na série em duas formas. Uma delas é a presença de Ronald Reagan (Bruce Campbell) que, em campanha à presidência, percorre o interior dos EUA. A outra é a própria história que sustenta a temporada: uma grande empresa criminosa deseja expandir território e, para isso, precisa tomar uma decisão: incorporar as atividades de uma pequena família de gângsters que há anos atua na região, ou destruir a concorrência e tomar seu território. Assim, propostas são apresentadas e negociações são feitas para que a expansão possa ser realizada.

A série também explora as questões feministas do período. Na década de 1970, a mulher ganhou mais espaço na sociedade e no mercado de trabalho. Além de buscar se estabelecer como profissional, elas também exigiam mais igualdade de direitos sociais e salariais. Na série, vemos Floyd Gerhardt (Jean Smart) assumir os negócios da família de gângsters depois que seu marido sofre um derrame. Lutando para ser valorizada neste mundo dos homens, ela enfrenta o preconceito dentro de seu próprio ambiente.

Outra personagem que representa sua época é Peggy (Kirsten Dunst), uma cabeleireira ambiciosa. Aparentemente uma mulher sem noção ou foco, Peggy se revela uma pessoa forte e determinada, que traça um objetivo de vida e utiliza todos os meios para alcançá-los, embora o caminho seja difícil, obrigando-a a pegar alguns desvios.

O oposto de Peggy é Betsy (Cristin Milioti), uma dona de casa com uma visão realista da vida, que luta contra o câncer. A esposa de Lou (Patrick Wilson) e mãe de Molly (uma das protagonistas da primeira temporada) é a representante da mulher das décadas de 1950 e 1960, que se dedicava totalmente à família e ao lar. Conformada, companheira de todas as horas, ela não reclama da vida ou se revolta com sua situação. Oferece conforto ao marido, sem exigir nada em troca. Mas a série mostra que este tipo de mulher está morrendo.

Enquanto isso, seu marido Lou é o herói que luta para manter os valores do passado em meio ao caos do presente. Neste faroeste moderno, ele é um homem dedicado à família e ao trabalho, que sacrifica as horas que poderia estar passando ao lado da esposa e da filha para cumprir sua missão, como os cowboys de antigamente que não perdiam o foco ou deixavam seus problemas pessoais interferirem em seu trabalho de limpar a cidade e impedir que a violência de fora destruísse a tranquilidade do local.

Vários elementos típicos da década também se fazem presentes, como o cinema Blaxploitation, retratado aqui na figura do gângster Mike Milligan (Bokeem Woodbine); as teorias da conspiração (que aumentaram com os escândalos políticos da Era Nixon), aqui representadas pelo personagem Karl Weathers (Nick Offerman), um advogado que conhece o sistema e sabe fazer uso dele; bem como as aparições inexplicáveis de discos voadores, testemunhadas por alguns dos personagens.

 

Transparent1

7. Transparent – 2ªT – Dramédia – Estados Unidos

Esta é a série que colocou o site de streaming Amazon no ‘mapa televisivo’. Bem aceita pela crítica, ela também tem feito carreira no circuito de premiações.

A história acompanha a vida de Mort (Jeffrey Tambor) que, ao chegar na terceira idade, assume a identidade de Maura, uma transexual. A série não se restringe a apresentar a vida de Maura e as dificuldades que ela enfrenta, tanto pessoais quanto sociais. A história também apresenta a vida e os problemas enfrentados por seus filhos e sua ex-esposa.

Como ocorreu na primeira temporada, a segunda também é narrada em dois períodos de tempo. No presente continuamos a acompanhar as dificuldades de Maura e de sua família em manter relacionamentos. No passado, vemos a avó e a mãe de Maura serem forçadas a abandonar tudo para fugir da Alemanha nazista.

O que desperta interesse na série é a situação de Maura e a forma como ela lida com suas questões pessoais e sociais. Mas a cada temporada a personagem tem sua presença reduzida. Se na primeira ela precisou dividir espaço com os problemas e loucuras de sua família, nesta segunda ela compartilhou os episódios não só com os filhos e a ex-esposa, mas também com sua mãe e sua avó. Desta forma, a série vai se definindo mais como uma dramédia familiar do que com a trajetória de um homem que assume ser mulher. Maura já é parte do elenco de personagens e não mais a protagonista da história.

Ao longo dos episódios de meia-hora de duração, Sarah (Amy Landecker) e Josh (Jay Duplass) destroem mais um relacionamento; Ali (Gaby Hoffmann), que assumiu de vez sua homossexualidade, busca agora por pessoas com quem possa se relacionar intelectualmente; e Shelly (Judith Light), novamente abandonada pelo ex-marido, busca um novo substituto.

Para Maura, a temporada retrata sua conscientização de que se assumir socialmente é apenas o primeiro passo. Agora ela precisa definir seu corpo, o espaço que pretende ocupar, bem como suas amizades. Seu maior obstáculo neste momento é fazer com que as pessoas compreendam sua transformação e enxerguem a fundo seu ser, deixando de tratá-la como um homem que virou mulher. Em contrapartida, Maura está começando a compreender que um dia já foi homem e que precisa reconhecer que este período está profundamente enraizado em sua alma, fazendo parte de sua personalidade e história.

Em meio a estes conflitos pessoais e familiares, a temporada questiona o uso do corpo e sua função, seja social, como mero identificador de gêneros, seja para o indivíduo como um instrumento de expressão da sexualidade e de sentimentos.

 

GettingOn

8. Getting On – 3ªT – Comédia – Estados Unidos

Remake americano de série britânica produzida entre 2009 e 2012, Getting On chega ao fim com a produção de sua última temporada. A versão americana seguiu seu próprio caminho, embora utilize personagens e algumas situações vistas na série original. Com uma abordagem mais leve e cômica, a série traz uma visão crua e depressiva do ambiente retratado.

A história é situada na ala geriátrica feminina de um hospital municipal. A médica responsável é a Dra. Jenna James (Laurie Metcalf), uma mulher sem qualquer tato social que mantém seu foco no trabalho, mesmo estando sobrecarregada em sua função. Na equipe está a enfermeira Dawn Forchette (Alex Borstein), uma mulher que se importa com as pessoas, mas tem problemas de autoestima e deixa seus problemas pessoais interferirem em seu trabalho. Sua colega é Denise Ortley (Niecy Nash), mais conhecida como Didi, uma enfermeira que consegue ter mais empatia com as pacientes, tornando-se a representante moral do hospital.

Em Getting On, médicos e enfermeiras têm a missão de amenizar o sofrimento daquelas pessoas que estão chegando ao fim da vida. Mas em meio a este clima e aos problemas administrativos do hospital também estão o ego e os sentimentos de rejeição daqueles que trabalham lá.

A série consegue fazer um bom equilíbrio entre a comédia (retratada nas situações absurdas pelas quais pacientes e funcionários passam no dia a dia do hospital), e o drama (que aparece em gestos, olhares e atitudes de compaixão daqueles que enfrentam o caos e o medo).

A terceira temporada inicia oito meses após os fatos ocorridos no final da segunda. Em seu retorno, a série explorou mais a fundo a comédia física, oferecendo situações previsíveis e típicas de produções que existem só para fazer o público rir, beirando a comédia pastelão. No entanto, elas estavam cercadas de reações emocionais e dramáticas que serviram como uma compensação, evitando que personagens e história perdessem seu sentido ou dignidade.

A Dra. James é quem se destaca nestes últimos episódios produzidos para a série. Lutando para ser reconhecida em sua área de trabalho, ela e sua mania de grandeza sofrem duros golpes, os quais a forçam a expor para o público seu lado mais sensível.

Por curiosidade, Joanna Scanlan e Vicki Pepperdine, que criaram e estrelaram a série original, aparecem em um dos episódios interpretando a enfermeira Den Flixter e a Dra. Pippa Moore. Só faltou Jo Brand, cocriadora da série britânica, na qual interpretou a enfermeira Kim (a versão de Didi). As três também são responsáveis pela versão americana, na qual atuam como produtoras executivas.

 

AmericanCrime

9. American Crime – 1ªT – Drama – Estados Unidos

Criada por John Ridley e Michael McDonald, a série é uma produção antológica que narra uma história diferente por temporada, com boa parte do elenco interpretando outros personagens.

Narrada por diversos pontos de vista, a história da primeira temporada gira em torno de um assassinato, a busca pelo culpado, o julgamento do acusado e a reação dos familiares dos envolvidos. Neste cenário são tratados temas como preconceitos étnicos, de diferenças de classe, religião e de opiniões políticas, entre outros.

Bem recebida pela crítica, ela dividiu a opinião pública, em especial nas redes sociais. Por ser exibida em um canal da rede aberta, a série foi considerada por muitos como impessoal em sua narração. Acostumados a dramalhões ou melodramas, com personagens que facilmente conquistam a simpatia da audiência, muitos telespectadores não gostaram da proposta de American Crime.

No entanto, a ideia aqui é a de apresentar de forma seca e crua um dos temas sociais que predominam na TV americana no momento: o preconceito. Pela maneira como os personagens são retratados, o público é capaz de compreender suas atitudes e, muitas vezes, concordar com elas, mas isto não significa que o telespectador consiga sentir por eles. A série mantém um palpável distanciamento afetivo do público, chegando a se tornar desconfortável pela forma negativa com que alguns dos personagens agem ou opinam em relação a uma situação de preconceito.

Este preconceito, em diferentes formas, é apresentado na série como parte da história de alguns dos personagens, que já têm este sentimento enraizado em suas vidas e personalidades.

Barb (Felicity Huffman) é uma mulher amarga que, anos atrás, foi abandonada pelo marido Russ (Timothy Hutton), um jogador que perdeu as economias da família. Sem ter como sustentar seus dois filhos pequenos, ela se viu obrigada a buscar ajuda em uma instituição pública, onde eles sofreram bullying. Sem nunca ter conseguido perdoar o ex-marido, Barb jogou os filhos contra ele. Agora, Russ está recuperado de seu vício, mas não consegue reatar os laços familiares que perdeu.

A vítima do crime que movimenta a primeira temporada é um dos filhos de Barb e Russ. O primeiro suspeito é um rapaz latino, que Barb acredita ser imigrante ilegal. Ao longo das investigações, ela conclui que o filho foi vítima de crime racial e exige que a polícia trate o caso desta forma.

O rapaz hispânico é filho de Alonzo (Benito Martinez), um mexicano que vive há anos nos EUA, onde sofreu diversas formas de preconceito. Razão pela qual ele acredita que precisa se esforçar em dobro para provar seu valor à sociedade. No entanto, pela forma como se comporta, seus filhos acreditam que o pai, no fundo, deseja ser branco.

Logo as investigações revelam que o crime pode ter sido cometido por Carter (Elvis Nolasco), um negro viciado que mantém um relacionamento com Aubrey (Caitlin Gerard), uma jovem branca que largou o convívio com os pais e o irmão para morar nas ruas. O caso contra Carter leva Aliyah (Regina King), convertida ao islamismo, a buscar ajuda jurídica para o irmão, ao mesmo tempo em que exige que ele se afaste de Aubrey, por ela ser branca.

American Crime consegue se destacar de outras produções que já trabalharam, essencialmente, o tema do preconceito, mantendo seu foco sem tomar partido. Com isso, estamos livres de grandes discursos moralistas ou situações criadas para conduzir o público a formar uma determinada opinião. Além disso, os personagens são pessoas com motivações que trabalham sua complexidade e nuances, o que os distancia da caricatura que representa ideias ou tipos. A série também não se prende ao crime e à revelação de quem o cometeu, mas à forma como as pessoas envolvidas reagem à tragédia.

 

10. Wolf Hall – Minissérie – Drama – Inglaterra

Esta minissérie é uma adaptação da obra de Hilary Mantel, que narra em três livros a trajetória de Thomas Cromwell (Mark Rylance) o filho de um de um ferreiro que se torna advogado e membro da corte de Henrique VIII (Damian Lewis). O terceiro livro ainda não foi publicado, mas a BBC já teria adquirido os direitos de adaptação para a TV.

Wolf Hall retrata a história narrada nos dois primeiros livros. O primeiro inicia com a ascensão de Cromwell na corte do Rei e a queda de Thomas More (Anton Lesser). O segundo retrata o período em que Henrique VIII, casado com Ana Bolena (Claire Foy), se apaixona por Jane Seymour (Kate Philips).

A história de Henrique VIII e suas esposas já foi contada diversas vezes, seja em livros, peças de teatro, filmes, minisséries ou séries, sendo a mais recente The Tudors, que narrou a trajetória destes personagens ao longo de quatro temporadas.

Wolf Hall narra esta história sob o ponto de vista de Cromwell, relegando Henrique e suas esposas à função de coadjuvantes. Mas o que mais chama a atenção na série é seu tom melancólico e sua visão mais antropológica e racional dos fatos que levaram a Inglaterra a se afastar da igreja católica, bem como à morte de diferentes personagens que transitavam pela corte.

O sensacionalismo, as cenas de sexo gratuitas e o dramalhão foram deixados de lado. Cada personagem compreende sua função na história. Não temos sequer uma narração que explica ideias ou sentimentos; nem mesmo uma trilha sonora que manipule o emocional do público a fim de criar um clima de tensão ou compaixão. As músicas que são executadas ao longo das cenas trabalham o clima do ambiente e não da ação.

Henrique não é apresentado como um bufão ou um mulherengo. Aqui ele é um homem extremamente preocupado com o futuro da monarquia. Se sentindo pressionado a gerar um herdeiro homem, ele vive em um constante conflito pessoal e político, se agarrando a qualquer justificativa que possa levá-lo à solução de sua situação. Tentando manter o controle, ele busca por aliados que sejam capazes de lhe oferecer conselhos para este e outros problemas. Assim, logo percebe o potencial de Cromwell para ocupar este cargo.

 

Outras séries que valeram a pena assistir em 2015. A lista abaixo está em ordem alfabética:

Comédia/Dramédia: Broad City (2ªT), Car Share (1ªT), Catastrophe (1ª e 2ªT), Episodes (4ªT), Girls (4ªT), Happyish (1ªT), Inside Nº9 (2ªT), Looking (2ªT), Louie (5ªT), Nurse Jackie (7ªT), Orange is the New Black (3ªT), Parks and Recreation (7ªT), Silicon Valley (2ªT), Toast of London (2ªT), Togetherness (1ªT), Veep (4ªT), You’re the Worst (2ªT).

Drama: 1992 (1ªT), The Affair (2ªT), The Americans (3ªT), Deutschland 83 (1ªT), The Doctor Blake Mysteries (3ªT), Doctor Foster (1ªT), Downton Abbey (6ªT), Fortitude (1ªT), Foyle’s War (8ªT), The Good Wife (6ªT – 2ªP), House of Cards (3ªT), Inspector George Gently (7ªT), Isabel a Rainha de Castela (1ª e 2ªT), Justified (6ªT), The Knick (2ªT), The Legacy/Arvingerne (2ªT), The Man in the High Castle (1ªT), Manhattan (2ªT), Outlander (1ªT), Mr. Robot (1ªT), Narcos (1ªT), Le Bureau des Légendes (1ªT), Unforgotten (1ªT), UnREAL (1ªT), Vera (5ªT).

Ficção Científica/Fantasia: Doctor Who (9ªT), El Ministerio del Tiempo (1ªT), Game of Thrones (5ªT), Les Revenants (2ªT).

Minisséries: Cucumber, Deadline Gallipoli, Desconectados, Show Me a Hero.

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