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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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‘Todo mundo’ ou ‘todo o mundo’? Tanto faz, mas…

“Prezado Sérgio, na construção da expressão ‘todo o mundo’ em frases como ‘todo o mundo sabia disso’, é obrigatório o uso do artigo ‘o’ no meio da expressão? A frase poderia ficar assim, ‘todo mundo sabia disso’? A dúvida veio justamente em uma de minhas aulas em que um de meus alunos me fez este […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h52 - Publicado em 16 mar 2015, 12h35

“Prezado Sérgio, na construção da expressão ‘todo o mundo’ em frases como ‘todo o mundo sabia disso’, é obrigatório o uso do artigo ‘o’ no meio da expressão? A frase poderia ficar assim, ‘todo mundo sabia disso’? A dúvida veio justamente em uma de minhas aulas em que um de meus alunos me fez este questionamento. Em princípio disse-lhe que desconhecia essa ‘obrigatoriedade’, mas que iria pesquisar. Como não encontrei fontes seguras nas gramáticas, venho me socorrer de sua ajuda. Abraço.” (Luann Alves)

Não há “obrigatoriedade” no uso do artigo definido na expressao “todo (o) mundo”, quando ela tem o sentido de “todas as pessoas”. Para Domingos Paschoal Cegalla, Antonio Houaiss e outros estudiosos, as duas formas estão corretas: “todo o mundo” e “todo mundo”.

Se o Houaiss não faz distinção alguma entre elas, Cegalla anota, em seu “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa”, que “todo o mundo”, com artigo, “deve merecer a preferência” – preferência, diz ele, e não exclusividade.

O que se vê no português brasileiro contemporâneo, porém, é o oposto. Generalizando um pouco, podemos afirmar que, de algumas décadas para cá, todo mundo – inclusive escritores clássicos, referenciais – fez uma opção clara pela forma “todo mundo”, sem artigo. É minha opção também.

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Nesse sentido é significativo o que fez Carlos Drummond de Andrade em seu poema dramático Todo Mundo e Ninguém, do livro “Discurso de primavera e algumas sombras” (1977). Trata-se de uma adaptação moderna de um trecho do “Auto da Lusitânia”, peça teatral do escritor português Gil Vicente, escrita em 1531.

Ocorre que no texto original os personagens principais eram “Todo o Mundo”, um ricaço, e “Ninguém”, um pobretão. Drummond manteve seus nomes e perfis, mas tratou de desaparecer com o artigo.

É evidente que, em sua origem, a ideia de “todo o mundo” como “todas as pessoas” partia de uma hipérbole (“o mundo inteiro”), um exagero semelhante ao que se encontra na expressão “um mundo de gente”, que significa uma grande quantidade de pessoas. Ora, o artigo definido era – e continua sendo – obrigatório quando “todo o mundo” quer dizer “o mundo inteiro”: “As consequências do aquecimento global estão sendo sentidas em todo o mundo”.

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O sumiço do artigo se dá num contexto em que a velha locução, já distante da ideia de “o mundo inteiro”, cristaliza-se com seu novo sentido de “todas as pessoas, toda a gente” – seja de um conjunto amplo e indefinido, seja de um grupo restrito e conhecido. Evidentemente, o planeta como um todo não tem nada a ver com uma frase como “Hoje todo mundo tem tatuagem” ou “Todo mundo na minha turma passou de ano”.

Tudo indica que existe uma funcionalidade maior a trabalhar pela supressão do artigo em “todo mundo”: diferenciar de forma clara, já a partir da grafia, duas expressões semanticamente muito distantes.

*

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