‘Só que’ é bom português?
“Caro Sérgio, é moda falar ‘só que não’. Sei o que significa, minha curiosidade é sobre a expressão ‘só que’, que aparece também em outras frases. Por exemplo: ‘Eu vou lavar a louça, só que agora estou vendo o jogo’. É bom português? Se é, como foi que ‘só que’ chegou a ter esse significado, […]
“Caro Sérgio, é moda falar ‘só que não’. Sei o que significa, minha curiosidade é sobre a expressão ‘só que’, que aparece também em outras frases. Por exemplo: ‘Eu vou lavar a louça, só que agora estou vendo o jogo’. É bom português? Se é, como foi que ‘só que’ chegou a ter esse significado, já que ele não é evidente pelas palavras isoladamente? Obrigado e parabéns pela importante coluna.” (Marcelo Melo)
“Só que” é uma locução já consolidada que se sente mais à vontade na linguagem informal, embora apareça com desenvoltura crescente em registros mais apurados. Faz papel de conjunção adversativa, isto é, de elemento que introduz uma oposição, negação ou restrição do que foi afirmado antes.
Pode ser substituída por “mas”, “contudo” ou “no entanto” sem prejuízo para a compreensão da mensagem, só que carrega uma ênfase opositiva maior do que a contida nessas conjunções.
A construção que Marcelo traz como exemplo é boa e pode ser parafraseada assim: “Vou lavar a louça, mas não agora, porque agora estou vendo o jogo”.
Só que, ao contrário do que ele diz, não é impossível deduzir esse papel adversativo de “só que” das palavras que compõem a locução.
Se tornarmos a paráfrase acima um pouco mais palavrosa, podemos acabar, talvez, com a seguinte afirmação: “Prometo que vou lavar a louça. Ocorre apenas que agora estou vendo o jogo”.
Ou ainda: “Vou lavar a louça, pode contar com isso. Só tem um problema, é que agora estou vendo o jogo”.
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