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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Santo erro de tradução: por que o céu virou ‘firmamento’

São Jerônimo em pintura (de 1480) do italiano Domenico Ghirlandaio É curiosa a história da palavra “firmamento”, um sinônimo culto – e na língua contemporânea um tanto preciosista – de “céu, abóbada celeste”. Mais curiosa ainda por conter, tudo indica, um erro de tradução. No latim, no qual o português foi buscar a palavra ainda […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h59 - Publicado em 3 mar 2015, 14h09
São Jerônimo em pintura (de 1480) do italiano Domenico Ghirlandaio

São Jerônimo em pintura (de 1480) do italiano Domenico Ghirlandaio

É curiosa a história da palavra “firmamento”, um sinônimo culto – e na língua contemporânea um tanto preciosista – de “céu, abóbada celeste”. Mais curiosa ainda por conter, tudo indica, um erro de tradução.

No latim, no qual o português foi buscar a palavra ainda no século XIII, firmamentum demorara séculos a ganhar tal acepção cósmico-religiosa.

Como seu radical sugere claramente a ouvidos neolatinos, a palavra tinha no latim clássico sentidos ligados apenas à ideia de firmeza: queria dizer “sustentáculo, apoio, arrimo, esteio” (Saraiva). Como o céu acabou entrando nessa história?

Tal sentido surgiu no latim eclesiástico, na tradução da Bíblia (a Vulgata) feita por Eusebius Sophronius Hieronymus, mais conhecido como São Jerônimo (347-420).

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Firmamentum coeli ou apenas firmamentum foi a versão latina encontrada por Hieronymus para o hebraico rakia, “céu, extensão, amplidão”, ou para sua tradução grega steréoma, “construção sólida”. Há indícios de que esta tenha sido a fonte, mesmo porque Hieronymus sabia muito mais grego do que hebraico.

O filólogo catalão Joan Corominas conta que o termo do original hebraico, totalmente desligado da ideia de firmeza ou solidez, tinha sido “mal compreendido pelos tradutores gregos”, enganados por uma palavra semelhante em siríaco, e tal equívoco a tradução de São Jerônimo transportou para o latim.

Com erro e tudo, o firmamento celeste não demorou a se consagrar. Afinal, não era tão difícil encontrar uma justificativa para ele, como se vê nesta explicação do etimologista brasileiro Antenor Nascentes: “apoio do céu, abóbada cristalina que não deixa caírem sobre a terra as águas de cima, separadas das de baixo, o mar”.

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