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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Homossexualismo ou homossexualidade?

“Já fui corrigido algumas vezes por usar a palavra ‘homossexualismo’, por pessoas (em geral gays) que dizem que ‘ismo’ tem sentido de doença e que ‘homossexualidade’ é o termo certo. Isso tem fundamento? Uso a palavra ‘homossexualismo’ sem maldade, por julgá-la de uso generalizado.” (Paulo Rogério de Lima) A questão é uma daquelas em que […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 10h17 - Publicado em 3 nov 2011, 16h51

“Já fui corrigido algumas vezes por usar a palavra ‘homossexualismo’, por pessoas (em geral gays) que dizem que ‘ismo’ tem sentido de doença e que ‘homossexualidade’ é o termo certo. Isso tem fundamento? Uso a palavra ‘homossexualismo’ sem maldade, por julgá-la de uso generalizado.” (Paulo Rogério de Lima)

A questão é uma daquelas em que – como no caso de presidente x presidenta e de americano x estadunidense – a língua vira um campo de batalha. O combate pode envolver diversos tipos de argumento – linguísticos, históricos, etimológicos, científicos – mas eles não passam de armas. O que está em jogo para valer é uma questão política.

Sim, ao ser cunhada, naquele ambiente infestado de ideias pseudocientíficas de fins do século 19, a palavra homossexualismo vinha impregnada de conotações médicas, patológicas. Incrivelmente, só em 1990 a Organização Mundial de Saúde a excluiu de sua lista de distúrbios mentais.

Não, a palavra homossexualismo, ao longo da história, não ficou presa a essa primeira acepção. O sufixo de origem grega ‘ismo’, além de denotar “condição patológica”, é o mesmo que usamos para indicar “doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso”; “ato, prática ou resultado”; “peculiaridade”; “ação, conduta, hábito, ou qualidade característica” (Aurélio). Como se vê, o termo homossexualismo pode soar inocente e até positivo, como turismo, patriotismo, lirismo, escotismo etc. E o que dizer das conotações negativas de ruindade, fealdade, crueldade, calamidade, orfandade – “parentes” sufixais de homossexualidade?

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Naturalmente, os adversários do uso de “homossexualismo” argumentam que nada disso importa, pois o que está em questão é uma luta simbólica. Ao transformar a palavra em ícone de tudo o que é preconceituoso e opressivo contra os gays, tomando-a ao pé da letra de seu pecado original, provoca-se um estranhamento que desperta consciências. Se, em vez de homossexualidade, o vocábulo proposto para seu lugar fosse “maracujá”, o efeito seria o mesmo. Para não mencionar que, sendo homossexualismo um termo típico do Brasil, pouco usado em Portugal, há quem imagine que só por isso já deve ter algum problema…

No entanto, os defensores de “homossexualismo” podem não ficar convencidos. Talvez alertem então para o exagero de uma condenação tão sumária: não haveria o risco de, criminalizando-se um uso bem intencionado, alienar as pessoas em vez de sensibilizá-las para uma causa justa? Isso não é um pouco como inventar o inimigo para justificar uma guerra declarada de antemão? E sendo os usos linguísticos tão notoriamente impermeáveis a qualquer tipo de regulamentação, não valeria a pena poupar a energia desse combate para empregá-la em outras frentes da guerra contra o preconceito e a intolerância à diferença?

A esta altura, claro, já entramos faz tempo no terreno da política. O fato é que as duas palavras estão no dicionário. O resto é com você.

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Você usa a palavra “homossexualismo” ou “homossexualidade”?

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