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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Do charque ao ‘jerked beef’, com incas de entremeio

“Prezado Sérgio, gostaria de saber a etimologia do termo ‘charque’. A semelhança de pronúncia com o termo inglês ‘jerked’ (de ‘jerked beef’) é incrível. O que você acha?” Aloísio Celeri Aloísio observou bem: a semelhança entre essas palavras não é fortuita. Embora a raiz mais profunda de “charque” seja controversa, como veremos em seguida, não […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h04 - Publicado em 19 abr 2012, 13h51

“Prezado Sérgio, gostaria de saber a etimologia do termo ‘charque’. A semelhança de pronúncia com o termo inglês ‘jerked’ (de ‘jerked beef’) é incrível. O que você acha?” Aloísio Celeri

Aloísio observou bem: a semelhança entre essas palavras não é fortuita. Embora a raiz mais profunda de “charque” seja controversa, como veremos em seguida, não existe dúvida sobre seu parentesco com jerky e, na forma mais usada, jerked beef, dois nomes da versão ianque de nossa carne-seca. (Hoje, carne-seca, charque e jerked beef são palavras empregadas com sentidos sutilmente diferentes no jargão da indústria, do comércio e do marketing, mas isso não vem ao caso aqui.)

Tal parentesco não quer dizer que o português tenha ido buscar seu charque no vocábulo jerky, como qualquer um pode se sentir tentado a imaginar quando leva em conta o fluxo caudaloso de empréstimos vocabulares no sentido Norte-Sul. Segundo o dicionário etimológico de Douglas Harper, jerk existe como verbo (“charquear, cortar a carne bovina em tiras e salgá-la”) desde 1707, enquanto o substantivo jerky (“charque”) ganhou seu primeiro registro em 1850. Ambos são derivados do espanhol charqui ou charque, um vocábulo datado de 1602, de idêntico significado.

Todos os etimologistas parecem estar de acordo sobre o nosso charque – termo que estreou oficialmente em português no dicionário de Antonio de Morais Silva, em 1858 – ter a mesma origem. E quase todos vão procurar o étimo do vocábulo espanhol numa palavra do quíchua, língua indígena sul-americana falada no império inca: ch’arque, de 1560.

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Resumindo: o quíchua teria influenciado o espanhol, que por sua vez teria influenciado o inglês e o português. Faz sentido, certo?

Talvez, mas, como eu disse acima, a conexão inca é bancada por quase todos os filólogos. O catalão Joan Corominas (1905-1997), um dos papas dos estudos etimológicos, nunca engoliu essa história. O motivo de seu ceticismo não é fácil de descartar: o fato de existir em português pelo menos desde o século 15 – antes, portanto, de tudo o que foi dito acima – o vocábulo enxerca (ou enxarca), “carne de rês cortada em tiras, salgada e seca ao sol ou ao fumeiro” (Houaiss). Derivada do árabe ax-xarq, a palavra enxarca indica, segundo Corominas, uma origem ibérica para o espanhol charqui, que neste caso teria contaminado o quíchua e não o inverso.

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