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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Antes de mais nada, cuidado com os sabichões

“Caro Sérgio, já li que não se deve usar a expressão ‘antes de mais nada’. Essa expressão é muito usada ao se iniciar uma elocução, discurso ou afim. Alguém, condenando tal expressão, justificou que não vislumbrava algo que vem antes de nada. Como pode algo vir antes do nada, perguntou-me. O que você acha?” (Carlos […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 12h20 - Publicado em 7 abr 2011, 15h09

“Caro Sérgio, já li que não se deve usar a expressão ‘antes de mais nada’. Essa expressão é muito usada ao se iniciar uma elocução, discurso ou afim. Alguém, condenando tal expressão, justificou que não vislumbrava algo que vem antes de nada. Como pode algo vir antes do nada, perguntou-me. O que você acha?” (Carlos Vasconcelos)

“Antes de mais nada” (que significa “em primeiro lugar”) é mais uma expressão do português que, embora tenha uma história nobre e bonita, vem sofrendo nos últimos tempos com a patrulha de quem tenta enquadrar a língua em moldes de pensamento literais demais. É perda de tempo condená-la ou dar ouvidos a quem a condena.

Isso porque a locução faz perfeito sentido, como prova o fato de ser compreendida por qualquer falante. Muitas vezes é peculiar a lógica do idioma, um dos traços daquilo que se chama com algum romantismo de “espírito da língua” – com o qual me parece sábio estar em comunhão, não em guerra. “Antes de mais nada” significa (e tem sonoridade melhor que) “antes de tudo”, assim como “pois não” significa sim e “pois sim” significa não.

Claro que cada um fala como quiser e tem o direito, se assim o desejar, de banir “antes de mais nada” do seu discurso. Pode até fazê-lo por razões inatacáveis: se busca objetividade e concisão, essa locução pode mesmo parecer palavrosa. O problema começa quando se tenta transformar tal decisão em lei universal. Ao sair corrigindo seus semelhantes com o argumento de que a expressão “não tem lógica”, o sujeito demonstra ignorância sobre como funcionam as línguas. Julga-se sabido, mas é apenas sabichão.

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Entre os autores consagrados que, numa rápida busca, confirmei terem usado sem o menor constrangimento essa locução adverbial está o português Camilo Castelo Branco, que durante boa parte do século 19 era considerado um prosador-modelo. A lista inclui ainda Machado de Assis, Rui Barbosa, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. No fim das contas, trata-se de uma escolha simples entre ficar na companhia deles ou abraçar os patrulheiros do literalismo.

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