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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Abrupto ou ab-rupto? Uma polêmica bem brasileira

“Assistindo à transmissão de treinamento da F1, o comentarista pronunciou a palavra ‘abrupto’. Ocorre que já estudei uma doutrina que defendia a pronúncia dessa palavra como ‘ab-rupto’ e não ‘abru…’ como normalmente escutamos. Alguma saída?” (Gualter Sena de Medeiros) Embora exista mesmo um vespeiro em torno desse adjetivo, a saída pela qual pergunta Gualter, em […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 07h16 - Publicado em 6 dez 2012, 12h15

“Assistindo à transmissão de treinamento da F1, o comentarista pronunciou a palavra ‘abrupto’. Ocorre que já estudei uma doutrina que defendia a pronúncia dessa palavra como ‘ab-rupto’ e não ‘abru…’ como normalmente escutamos. Alguma saída?” (Gualter Sena de Medeiros)

Embora exista mesmo um vespeiro em torno desse adjetivo, a saída pela qual pergunta Gualter, em minha opinião, é bem simples: devemos ficar com a grafia “abrupto” e com a pronúncia que obrigatoriamente a acompanha, segundo as regras do português, com o br soando como em “abrir” e “abrigo”.

Em Portugal é assim, não existe discussão. É só no Brasil que se estabeleceu a polêmica, mas ela tem muito de artificial: simplesmente não existiria mais se alguns lexicógrafos e gramáticos não fossem tão apegados a um uso antigo, um tanto pedante e praticamente caído no esquecimento – o da pronúncia ab-rupto, que os portugueses chamam de brasileirismo. Mas quantos brasileiros você conhece que falam assim?

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras reconhece como corretas as duas grafias (e supõe-se que as duas pronúncias): ab-rupto e abrupto. O dicionário Houaiss faz o mesmo, mas dá ab-rupto como forma preferencial (!), explicando que “manteve-se a grafia assim consagrada”, embora ela fira o acordo ortográfico, como forma de representar graficamente a pronúncia clássica ab-rupto.

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É difícil entender essa opção ultraconservadora do melhor dicionário da língua portuguesa. Até um estudioso como Napoleão Mendes de Almeida, que não podia ser chamado de progressista, considerava absurda a grafia “ab-rupto” por se tratar de uma palavra que – diferente por exemplo de “sub-reitor” – não surgiu em português, mas veio formada do latim abruptus.

A maioria dos dicionários atuais não registra a forma ab-rupto – embora alguns continuem recomendando a pronúncia ab-rupto mesmo assim, numa incongruência entre letra e som. Pelo menos o Houaiss acrescenta em seu verbete a ressalva de que “a ABL aceita também a grafia sem hífen por sua pronúncia se ter popularizado na língua com o r do encontro br soando como uma vibrante alveolar”.

Ou seja, soando como em “abrir” e “abrigo”, exatamente como a (quase?) totalidade dos brasileiros fala e escreve na vida real. A língua já fez sua escolha no caso de abrupto. Só falta os lexicógrafos se emendarem, deixando de tratar como variante tolerada o que é hegemônico e consagrado dos dois lados do Atlântico.

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