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Por Sérgio Praça
A partir do que há de mais novo na Ciência Política, este blog do professor e pesquisador da FGV-RJ analisa as principais notícias da política brasileira. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Michel Temer é pior que Richard Nixon

71% dos ministros de Michel Temer estão implicados em algum tipo de escândalo

Por Sérgio Praça 11 abr 2017, 19h40

 

Aproveitei alguns dias em Chicago, a trabalho, para ler um livro recente de Bob Woodward, chamado “The Last of the President’s Men”. É o jornalista do Washington Post que, junto com seu colega Carl Bernstein, desvendou o caso Watergate. Watergate é o nome do prédio que abrigava uma parte da organização do Partido Democrata. A sala foi invadida por integrantes de uma organização comandada, informalmente, pelo então presidente Richard Nixon, do Partido Republicano. Durante o escândalo, Nixon não perdeu popularidade. Foi reeleito com acachapantes 61% dos votos (e 49 estados, para lembrar das esquisitas regras norte-americanas) em 1972. A coisa engrossou apenas quando seus assessores mais próximos confessaram crimes e, para jogar a pá de cal, Alexander Butterfield, que trabalhava diariamente com Nixon, disse a parlamentares que havia um sistema de escuta no Salão Oval registrando tudo. As “Nixon Tapes” levaram o presidente a renunciar.

Com a divulgação da lista dos 108 políticos e asseclas com inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal, a comparação entre a Operação Lava Jato e Watergate voltou à memória. Coitados dos americanos. Watergate se apequena diante da Lava Jato. Não se trata de apenas um presidente e seu partido sob suspeita, mas de um terço dos ministros (9 de 28) e os presidentes da Câmara dos Deputados (Rodrigo Maia, DEM) e Senado Federal (Eunício Oliveira, PMDB). O governo todo perdeu legitimidade de um modo nunca antes visto no país. Nos escândalos Collor, Anões do Orçamento e Mensalão, havia partidos de oposição relativamente fortes que não estavam implicados. Hoje não. Todos os partidos com alguma forca parlamentar estão no esquema.

Dos 28 ministros, 9 estão na lista de Edson Fachin (STF) . São Eliseu Padilha (Casa Civil, PMDB), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência, PMDB), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia, PSD), Roberto Freire (Cultura, PPS); Bruno Araújo (Cidades, PSDB); Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores, PSDB); Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços, PRB); Blairo Maggi (Agricultura, PP) e Helder Barbalho (Integração Nacional, PMDB).

Além desses, uma pesquisa rápida na internet mostra que mais onze ministros já foram ou estão sendo investigados por outras irregularidades. São os da Justiça (PMDB), Defesa (PPS), Meio Ambiente (PV), Desenvolvimento Social e Agrário (PMDB), Trabalho (PTB), Transportes (PR), Educação (DEM), Turismo (PMDB), Esporte (PMDB), Saúde (PP) e Secretaria de Governo (PSDB).

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Resumindo: 20 dos 28 ministros de Michel Temer têm envolvimento suficiente com corrupção outros tipos de crimes para não merecerem o cargo que ocupam. São 71%, um percentual alto demais para qualquer país que se queira decente.

A divulgação da lista de Fachin, elaborada a partir das delações de executivos da Odebrecht, não deve trazer só desânimo. É prova de que os políticos tentaram, mas não conseguiram, parar a Operação Lava Jato (já escrevi sobre isto). Judiciário e Ministério Público Federal agem sem interferência partidária e seus trabalhos não são influenciados pelos investigados.

Richard Nixon também não gostava de ser investigado. Sua situação se complicou no segundo semestre de 1973. O ministro da Justiça assegurou aos parlamentares que nomearia um procurador independente para investigar Watergate. Archibald Cox, o procurador, pediu acesso formal às fitas do sistema instalado por Alexander Butterfield. Nixon ofereceu um resumo do material a ser feito por um senador simpático. Cox recusou. Nixon decidiu demiti-lo. O episódio ficou conhecido como “Saturday Night Massacre” e revoltou os parlamentares e os cidadãos. O impeachment tornou-se inevitável e Nixon renunciou poucas semanas depois. (A história está em “The Final Days”, de Bob Woodward e Carl Bernstein.) O fato de Michel Temer nem de longe poder fazer o mesmo implica um equilíbrio político interessante: muita corrupção, muita investigação e média (mas crescente) punição.

(Entre em contato pelo meu site pessoal, Facebook e Twitter)

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