As crises tucanas de 1992 e 2017
O orgulho de servir a Fernando Collor em 1992 e o dilema de 2017
“Hoje de manhã, eu tive uma discussão pelo rádio com o Pimenta da Veiga [ex-deputado federal por Minas Gerais e prefeito de Belo Horizonte pelo PSDB], em que eu reclamei do comportamento dos tucanos que estão levando uma semana para deliberar sobre o assunto, pensar. Mas ele disse assim: “não, tem que pensar mesmo, discutir em detalhes”. Palavras do então ministro da Educação, José Goldemberg, no Roda Viva , em 6 de abril de 1992. Assumira o cargo em 2 de agosto de 1991.
Quando foi entrevistado, Goldemberg vivia uma época de reconstrução do governo Fernando Collor. Iniciava sua quarta coalizão, incluindo o PTB e o PL na base, além do PFL e PDS. E o PDT votava sistematicamente de acordo com a orientação do governo, fazendo as vezes de “partido-satélite”. Essa base durou de 15 de abril a 30 de setembro de 1992. Assim como ocorre em agosto de 2017, é difícil definir se o PSDB está ou não está. Collor tinha dois ministros filiados ao partido – Celso Lafer (Relações Exteriores) e Hélio Jaguaribe (Ciência e Tecnologia) – e um Goldemberg, com “amigos à beça emplumados”. Esse trio garantia um pé na canoa furada de Collor e um pouco de “deniability” para os caciques partidários. Afinal, o senador Fernando Henrique Cardoso havia declinado o convite para comandar o Itamaraty, dissuadido por Mário Covas.
Celso Lafer estava orgulhoso de pertencer ao governo, mesmo após a publicação de graves denúncias. “Sirvo à República ao participar do Governo Collor, pois tenho a convicção de que seu projeto de reconstrução e modernização do país, dentro do respeito às leis, às liberdades e às garantias individuais, é o que nos levará tanto ao desenvolvimento e à justiça social, quanto à plena consolidação das instituições democráticas” (Celso Lafer, Folha de S. Paulo, 19 de Julho de 1992)
(A citação consta do delicioso “Diccionario de bolso do Almanaque Philosophico Zero à Esquerda” de Paulo Eduardo Arantes)
Na China, declarações de puxa-saquismo aumentam a chance de ascensão partidária dos líderes locais. No Brasil, apenas sujam a biografia. Mais uma citação lembrada por Paulo Arantes: “O presidente Collor ainda é moço e poderá regressar – até triunfalmente – ao cenário nacional. (…) Um julgamento definitivo de seu papel na História do País só poderá ser feito daqui a anos. (…) Apesar das irregularidades cometidas por ele, desejo enaltecer o projeto modernizador e as qualidades de comando do Presidente. (…) Malgrado os óbvios problemas no âmbito de sua assessoria pessoal (…), é inegável que o Presidente captou em 1989 o anseio da população brasileira por um projeto modernizador da economia e a inserção do país no cenário mundial. O Presidente mudou para sempre o discurso pequeno, mesquinho e atrasado dos políticos brasileiros, e muitas teses que defendeu permanecerão, apesar de sua partida. (…) Não foi o presidente do consenso, mas um homem corajoso que enfrentou forças poderosas para modernizar o País” (José Goldemberg, O Estado de S. Paulo, 5 de Janeiro de 1993.
Naquela época, o PSDB se safou e construiu, com Itamar Franco (PMDB), uma ponte para o futuro. Terão a mesma sorte agora?
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