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Surrealismo explícito: Lula vai depor pela primeira vez a Moro. Em vídeo. E como testemunha! Pode gargalhar!

Para espanto de todos, Lula não é um investigado nesse inquérito: há duas delações que o põem na cena do crime; há o seu amigão, que admite o papel de laranja — com que propósito? —, e há um dos donos do grupo Schahin admitindo a negociata. Como explicar que Lula não seja um investigado nesse caso? Bem, não tem explicação nenhuma

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h33 - Publicado em 12 fev 2016, 06h19

Luiz Inácio Lula da Silva vai ficar pela primeira vez cara a cara com Sergio Moro. Quer dizer: quase! Vai falar por videoconferência. O ex-presidente deporá no dia 14 de março como testemunha de defesa de José Carlos Bumlai, o pecuarista que é seu amigão, no inquérito que investiga um empréstimo feito pelo grupo Schahin ao PT.

Onde está o escárnio? Ser Lula mera testemunha nesse inquérito, não um investigado, é um assombro e uma afronta ao bom senso. Por muito menos, o Ministério Público Federal já fez muito mais. Vamos lembrar.

Em 2004, Bumlai serviu de laranja do PT e assumiu como seu um empréstimo de R$ 12 milhões feito ao partido pelo braço financeiro do grupo Schahin. O pecuarista já confessou o seu papel. Disse que o dinheiro foi enviado ao PT de Santo André, por intermédio do grupo Bertin.

Bumlai, inicialmente, mentiu que pagara a dívida com embriões e esperma de boi. Diante do ridículo da coisa, recuou. Até porque a versão foi desmoralizada por um dos sócios do grupo: Salim Schahin deixou claro que o empréstimo foi feito ao PT e que nunca foi pago.

Então a empresa morreu com o prejuízo? Não! Em 2009, a dívida do partido já estava em R$ 60 milhões. E como foi saldada? Ora, o próprio Salim foi claro a mais não poder: o braço de infraestrutura do grupo fechou um acordo para operar o navio-sonda da Petrobras Vitória 10.000 entre 2010 e 2020. Valor do contrato: US$ 1,6 bilhão — sim, de dólares mesmo. Cobrar dívida pra quê? Aqueles R$ 60 milhões foram perdoados. Ou por outra: foram pagos pela Petrobras.

Agora o busílis
Em sua delação premiada, Fernando Baiano relatou precisamente essa transação e afirmou que Lula participou da negociação. Só Baiano? Não! Nestor Cerveró, igualmente num processo de colaboração negociado com o Ministério Público, disse a mesma coisa: o então presidente da República participara ativamente da negociação.

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Cerveró, aliás, foi adiante: garantiu que só conseguiu um cargo de diretor na BR Distribuidora, depois de ter deixado a Petrobras, por interferência de Lula, uma vez que havia ajudado a viabilizar o acordo do navio-sonda. Era gratidão. A mão suja que lava a outra. Em seu depoimento, Baiano assegurou que Bumlai lhe relatara que o então presidente havia mesmo arrumado a boquinha para Cerveró e que isso era parte da operação que incluía empréstimo e navio-sonda.

E, no entanto, para espanto de todos, Lula não é um investigado nesse inquérito: há duas delações que o põem na cena do crime; há o seu amigão, que admite o papel de laranja — com que propósito? —, e há um dos donos do grupo Schahin admitindo a negociata.

Como explicar que Lula não seja um investigado nesse caso? Bem, não tem explicação nenhuma.

A defesa
Afirmou a defesa de Bumlai em documento enviado a Moro:
“A proximidade entre Bumlai e Lula sempre foi muito explorada pelos que, maliciosamente, viam nela a oportunidade de encontrar malfeitos que pudessem ser atribuídos ao segundo, seja durante, seja depois de seus dois mandatos. Nesse período, não foram poucas as insinuações e por vezes até imputações de que o defendente seria um intermediário de negócios escusos de interesse do ex-Chefe do Executivo.”

Ok. O papel da defesa é defender, né? Mas não custa evitar o exagero. Por acaso estamos sendo convidados a acreditar que Bumlai assumiu como seu um empréstimo de R$ 12 milhões só porque é um contumaz admirador das ideias do petismo, é isso?

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A defesa de Bumlai resolveu recorrer à ironia:
“Na verdade, o crime [de Bumlai] é ser amigo de Lula e, pasme, Juiz, existe até fotografia de ambos numa festa junina, tornando irretorquível a consumação do delito do artigo 362 do Código Penal. Sua ameaça à ordem pública consiste em seu potencial de, no crescendo da indignação, delatar o ex-Presidente de alguma forma. Esta é a essência deste processo.”

Vamos explicar. O Código Penal tem 361 artigos. A defesa de Bumlai está dizendo que se inventou um crime para poder manter preso o seu cliente. E também acusa, de forma oblíqua, a Operação Lava Jato de submeter o pecuarista à prisão para forçá-lo a denunciar Lula.

De novo: papel da defesa é defender. O chato dessa versão é que, lembre-se outra vez, há três delações que põem Bumlai como personagem ativa de uma tramoia: Baiano, Cerveró e Salim Schahin, que emprestou o dinheiro e foi beneficiário do contrato do navio-sonda. Sem contar a insistência pretérita de Bumlai em assumir como seu um empréstimo quem nem sequer foi pago.

Amigos costumam fazer favores, e ninguém tem nada com isso. Se, no entanto, nesse fazer, há crime, a coisa deixa de ser um assunto privado, e os 361 artigos do Código Penal podem se interessar pela pessoa.

Texto publicado originalmente às 23h33 desta quinta
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