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Ontem fugi por um tempo. Fui bater um papo, a título de apresentação da obra, com o poeta Bruno Tolentino sobre o livro A Imitação do Amanhecer (Editora Globo), de sua autoria, que é uma espécie de realização prática do que é uma poética em O Mundo Como Idéia. O evento se deu na livraria […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h31 - Publicado em 28 jun 2006, 05h13

Ontem fugi por um tempo. Fui bater um papo, a título de apresentação da obra, com o poeta Bruno Tolentino sobre o livro A Imitação do Amanhecer (Editora Globo), de sua autoria, que é uma espécie de realização prática do que é uma poética em O Mundo Como Idéia. O evento se deu na livraria Fnac, em São Paulo. São 537 sonetos, divididos em três partes, que compõem uma narrativa. Não vou contar o livro porque há ali uma história. Mas basta dizer que um jovem inglês, recém-saído do que aqui é o ensino médio, se mete numa expedição no Oriente, que tem como ponto de ancoragem a cidade de Alexandria. Morre, e seu corpo é embalsamado. O judeu Daniel, responsável por devolvê-lo à família, apaixona-se por aquela imagem sem vida e vaga com ela por anos seguidos. É o fio narrativo que leva Tolentino a refletir sobre o amor, a morte, a divindade, a religião, o erotismo e a recusa em poemas escritos ao longo de 25 anos, entre 1979 e 2004. Como disse aqui outro dia, o livro já nasce póstumo. Escreverei a respeito de forma mais organizada e alentada, mas eu insisto para que vocês não se furtem àquele monte de maravilhas. Bruno é o maior poeta vivo da língua portuguesa e um dos maiores de todos os tempos. Sua importância é reconhecida mundo afora, mas, infelizmente, é pouco lido no Brasil e quase ignorado nos cadernos de cultura, que não conseguem alcançar a sua poesia, muito cedo aprovada pelo grande José Guilherme Merquior. Bruno, a exemplo de Mário Faustino, é o mestre do enjambement, o que lhe abre possibilidades para riquezas sonoras múltiplas e únicas. Mas isso fica para mais tarde. Por isso os abandonei tão cedo ontem. Mas volto agora. Fiquem com mais Bruno. Se perceberem uma solenidade estranha nas palavras, vocês estão certos. Ele não se acanalhou:

Soneto 1-94
Nus como Deus os fez, os dois breves instantes
da epifania e do desejo contam apenas
de uma frágil tensão entre duas constantes:
o anfiteatro escuro e a rapidez das cenas.
Uma guirlanda improvisada, de açucenas,
de jasmins enfiados em fitas ou barbantes,
é circundada pela noite, e dois amantes
no mesmo laço, machucando-lhe as pequenas,
suaves pétalas de encontro ao coração,
vão aprendendo juntos uma antiga lição:
a aparição do ser, que um relâmpago trouxe,
é um aroma também, mas vem como se fosse
a terra de ninguém: para apartar e não
para unir ou durar, nenhum laço é tão doce.

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