Sim, eu avisei, mas não vibro com a “flopada”. Estou é preocupado
Estou chateado e preocupado ao constatar que a extrema direita minoritária conseguiu esmagar o que havia de liberal nas ruas
Um leitor pergunta, e mal esconde a ironia, se estou contente com o insucesso da jornada deste domingo e se eu iria escrever textos na linha “bem que avisei”. Sim, eu bem que avisei.
Mas não! Não estou contente. Os únicos a ganhar com a trapalhada deste domingo são os esquerdistas, que, de forma clara e insofismável, levaram muito mais gente às ruas.
Poderia até conservar uma pontinha de satisfação porque resta evidente que eu operava com os critérios corretos. Mas lamento profundamente o descaminho dos que, à reforma permanente, que faz parte do credo liberal, preferiram a pauta reacionária, contra a política e os políticos, porque, afinal, as redes estão nessa “vibe”. Bem, a coisa “flopou”. Nem sei se é assim que se empregam esses vocábulos. Se ficar com cara de dinamarquês dançando samba, vocês me desculparão certamente.
Sabem como é… Às vezes, as pessoas “curtem” uma coisa no Face, uma segunda na face e ainda uma terceira nos fatos.
Não! Não estou contente. Ao contrário.
Estou chateado e preocupado porque é evidente que as esquerdas saberão tirar proveito do grande mico deste domingo.
Estou chateado e preocupado com flagrantes colhidos na rua que indicam que mais os movimentos do que as pessoas não estão sabendo distinguir o som da flauta do som da cítara, como pregava Paulo, o apóstolo que via com palavras.
Estou chateado e preocupado com a alheamento dos mais entusiasmados em relação às verdadeiras aflições da população.
Estou chateado e preocupado com a permanente depredação das instituições.
Estou chateado e preocupado ao constatar que a extrema direita minoritária conseguiu esmagar o que havia de liberal nas ruas.
Assim, não me venham perguntar se estou satisfeito. Tenho muitas outras razões para a satisfação intelectual. Feliz eu fiquei quando consegui mudar uma tradução oficial do Vaticano.
Não preciso que um troço desastrado como esse aconteça. Aliás, dentro dos limites da minha profissão e de suas exigências éticas, tentei impedir que acontecesse.
Possibilidade virtuosa: um mea-culpa reconhecendo os erros, com uma autocrítica sincera. Possibilidade viciosa: agir como o médico doido que, ao perceber que ministrou o remédio errado, resolve dobrar a dose para mostrar que o importante é ser convicto.
Infelizmente, acho que o médico doido vai ganhar.