Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

SERRA COMEÇOU A DUPLICAR ESTA VIA; MAS HÁ QUEM QUEIRA DESTRUÍ-LA. SIM, ELES FALAM A SÉRIO!

Às vezes, a loucura pura e simples, sem retoques, toma conta do debate público. E pronto! Tem-se uma causa. Por mais estúpida que seja. Se estamos em período pré-eleitoral e certo jornalismo precisa de um pretexto para demonstrar toda a sua furiosa isenção, aí o coquetel de bobagens pode ser assustador. É o que se […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h54 - Publicado em 11 set 2009, 06h41

marginal-tiete

Às vezes, a loucura pura e simples, sem retoques, toma conta do debate público. E pronto! Tem-se uma causa. Por mais estúpida que seja. Se estamos em período pré-eleitoral e certo jornalismo precisa de um pretexto para demonstrar toda a sua furiosa isenção, aí o coquetel de bobagens pode ser assustador.

É o que se vê na celeuma criada por causa da ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo. Petistas, onguistas, jornalistas, arquitetos, urbanistas… Todos eles têm uma solução fácil e energúmena para resolver os problemas de São Paulo. Para quem não é da cidade: as vias que recebem esse apelido correm paralelas ao rio Tietê e ligam as zonas Norte, Sul e Oeste da cidade. Também servem de acesso ao aeroporto de Cumbica e às rodovias Anhangüera, Bandeirantes, Castelo Branco, Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna. Foram construídas há 52 anos. E entraram em colapso faz tempo. O governo José Serra, em parceria com as concessionárias que administram os sistemas Anhanguera/Bandeirantes e Ayrton Senna/Carvalho Pinto, decidiu investir R$ 1,3 bilhão para construir 23 km de pista de cada lado do rio, com três novas faixas em cada uma, além de um conjunto de obras acessórias, como pontes, viadutos e alças de acesso.

Se ninguém atrapalhar, o complexo, gigantesco, fica pronto em outubro do ano que vem e significará, obviamente, um alívio e tanto para os motoristas que por ali trafegam. Mas os engenheiros de obras prontas — e de obras que jamais serão construídas — estão fazendo de tudo para que a vida dos usuários da Marginal continue um inferno.

Continua após a publicidade

Quem deu início ao movimento foi o urbanista Jorge Wilheim, que foi secretário de Marta Suplicy — e de mais um monte de gente (de Serra, nunca!). Sua expertise foi testada em dois túneis catastróficos construídos nas avenidas Rebouças e Faria Lima. Inaugurados, tiveram de ser fechados em seguida porque inundavam e ameaçavam matar os motoristas afogados. Segundo diz, ampliar as marginais é repetir o erro de dar prioridade aos automóveis…

Na Folha de ontem, lia-se a seguinte manchete de página: “Para urbanistas, Nova Marginal amplia erro”. A reportagem, evidentemente, só ouvia gente contra a obra. A Marginal está estrangulada, certo? Certo! Alguma resposta tem de ser dada, certo? Certo. E o que fazer? Ora, vamos seguir o que diz o arquiteto José Fábio Calazans na entrevista ao jornal. Prestem atenção:
Ele propõe a construção de um parque linear de 90 km ao lado do rio, de Mogi das Cruzes a Itapevi, com lagos para abrigar a água de dias excepcionais, como anteontem. A marginal atual seria substituída por pistas paralelas distantes 1,5 km das que existem hoje. O projeto, que deve consumir 15 anos, visa integrar o rio à cidade.

Vocês entenderam direito. Vejam a foto da marginal, que tem 24,5 km. de cada lado A solução, para daqui a 15 anos – nada menos – é destruir essas pistas, fazer jardins e, de ambos os lados, a 1,5 km dali, rasgar a cidade de fora a fora. Alguém aí tem idéia do que isso significaria em custo de desapropriação, por exemplo? Imaginem as dificuldades legais para fazê-lo, sem contar que as obras congestionariam todas as ruas e avenidas ao redor das marginais. Se o Brasil fosse a China ou a URSS de Stálin, o governante mandaria evacuar a área, passava fogo nos descontentes, como Lênin recomendava, e pronto!

Continua após a publicidade

Aí o repórter da Folha escreve: “O diagnóstico de Calazans pode parecer radical, mas não é de uma voz isolada -três especialistas em urbanismo e drenagem ouvidos pela Folha concordam que a ampliação da marginal é um equívoco.”
Mentira! Calazans é voz isolada, sim. Só ele propõe uma estupidez como aquela. Outros que são contra a nova Marginal o são por razões distintas. O autor do texto usa a seguinte lógica: “Há algo em comum entre os torcedores do Santos, do Palmeiras e do São Paulo: eles não torcem para o Corinthians…” Segue a reportagem:

“É um erro histórico”, diz o arquiteto Vasco de Mello, que integra um grupo que questiona a obra do governador José Serra, orçada em R$ 1,3 bilhão. “As pistas vão ficar congestionadas em seis meses. Estão jogando dinheiro no ralo.” Segundo entendi, a “autoridade” técnica de Vasco de Mello está em integrar um grupo contra a construção da Marginal. Argumento? Não poderia ser mais definitivo: “As pistas vão ficar congestionadas em seis meses”. Profundo.

Um dos fortes motivos apontados para criticar a obra é a tal impermeabilização do solo – o governo sustenta, com bons argumentos, que há um plano ambiental, e há mesmo, que compensa a área que receberá asfalto. De todo modo, reconhecem até os críticos, a nova Marginal representará 19 hectares de impermeabilização num universo já impermeabilizado de 150 mil hectares – espantosos 0,012%. Clicando aqui, você tem acesso a informações sobre a obra e ao plano de manejo ambiental. Informa a página:
“Das 4.589 árvores existentes na Marginal do Tietê, 935 serão replantadas e 559 serão retiradas (destas, 127 são árvores mortas, com problemas como cupim). Outras 4.900 árvores serão plantadas nos canteiros da via expressa, o que ampliará o número original de árvores na própria área da via expressa. Outras 83 mil novas árvores serão plantadas nas ruas adjacentes. Além disso o programa de compensação ambiental prevê o plantio de 63 mil mudas no Parque Várzeas do Tietê. O projeto total inclui o plantio de 150.900 árvores.”

Continua após a publicidade

Leiam a opinião de outro engenheiro contrário à obra:
O problema principal da obra não é tanto a impermeabilização do solo, na visão do engenheiros Julio Cerqueira César Neto e Aluísio Canholi. (…) A marginal alagou, segundo Canholi, porque a chuva [de quinta-feira] foi excepcional. Medição feita pela equipe dele na ponte da Casa Verde constatou que a vazão do rio estava em 735 m3 por segundo às 16h de anteontem. Em setembro, o rio costuma correr à razão de 30 m3 por segundo, afirma.

Entenderam? A vazão do rio estava 25 vezes (!!!) acima do normal porque caiu um chuva realmente histórica em São Paulo. Não havia qualquer relação entre a obra e a chuva. Canholi é contra  a Marginal porque acredita que a cidade tem de rever a sua relação com o rio Tietê etc. Mas não aponta alternativa.

Ele não poderia faltar
Um debate equivocado não seria completo sem Gilberto Dimenstein, o professor de Deus. A capacidade deste senhor de ter idéias genéricas e erradas sobre qualquer assunto é impressionante. Na Folha Online, ele escreveu:

Continua após a publicidade

O caos que se transformou a cidade de São Paulo ajudou a mostrar o que considero o maior erro de toda a gestão José Serra: torrar centenas de milhões de reais para ampliar a marginal do Tietê. É uma obra absolutamente estúpida e, suspeito, com fundo eleitoral da pior espécie.
A cidade de São Paulo só não é um caos nas ONGs de Gilberto Dimenstein. Muito bem: qual é alternativa à ampliação da Marginal?

O que vimos é resultado de uma série de governantes que desrespeitaram a natureza da cidade, tornando cada vez mais difícil a vazão da água –as obras da marginal colocam Serra nessa lista. As obras impermeabilizam ainda mais a cidade e, de quebra, significaram a derrubada de milhares de árvores.
A impermeabilização, como já vimos, é ridícula. E a derrubada das árvores é mentirosa. A afirmação de que as novas pistas colocarão mais carros na rua é própria de um juízo perturbado. Reparem: ele diz que as pistas não resolverão o problema.

Quando começaram a planejar as marginais, na década de 1960, poucas vozes urbanistas (a paisagista Rosa Klias, por exemplo) alertaram para o estrago e diziam que ali poderia ser construído o maior parque linear do mundo –e, além de criar uma imensa área de lazer na cidade, aquilo serviria para conter as enchentes.
A obra é de 1957 – não “começou” a ser planejada na década de 60. De todo modo, a cidade não pode recuar 50 anos para corrigir os erros então cometidos.

Continua após a publicidade

Satanizando o carro
Onde estava toda essa gente quando Lula decidiu enfrentar a crise internacional baixando o IPI de automóveis e lançando alguns milhares de carros por mês em São Paulo? O que os Dimensteins e assemelhados propõem? Que o governo federal incentive a compra e o uso do automóvel e que o governador de São Paulo destrua as marginais para que eles não tenham onde transitar? Talvez um tanto tocado pela democracia chinesa, o correspondente da Folha em Pequim, Raul Juste Lores, acha que é por aí, sim: “Se as Marginais Tietê e Pinheiros encolherem, talvez milhares de paulistanos comecem a exigir mais transporte público em vez de novos túneis e viadutos. Para um caos que parece irreversível, será auspicioso”. O que isso quer dizer, leitor? Nada! Só frase de efeito.

“De burrinho”
Diante da proposta de destruir as marginais, o governador Serra indagou: “E o pessoal vai andar de burrinho para ir até Guarulhos?” Mais ou menos isso. Ou, sei lá, a gente não deve ser tão esperançoso. Quem propõe destruir as Marginais certamente será cavalgado. Pelo burrinho!

Há um óbvio, evidente e perceptível investimento em transporte público em São Paulo, especialmente Metrô e CPTM (que investirão R$ 20 bilhões entre 2007 e 2010). O Rodoanel, que alguns especialistas apontam como solução, já tem trechos inaugurados. A ampliação da Marginal dá uma resposta rápida e eficiente para um problema que já está instalado. A mobilização contra a obra, quando não é politicamente motivada, é fruto ou da desinformação ou da opinião de “especialistas” que imaginam estar vivendo na URSS stalinista.

Só para encerrar: uma enchente bíblica como a experimentada por São Paulo, vem sempre acompanhada de outras desgraças. O Ministério Público Estadual pediu a interdição das obras da Nova Marginal por causa da enchente de quinta-feira. O que a obra tem a ver com o transbordamento do Tietê? Nada! Rigorosamente nada! Ela mal começou. A promotora Maria Amelia Nardy Pereira acredita que é preciso ter “estudos mais aprofundados sobre a impermeabilização do solo”.

Resta o quê? Sugerir aos paulistanos que se organizem para resistir a essa mistura de misticismo, desinformação, maluquice teórica e vigarice política. E é preciso também se documentar para prestar contas à população, que paga impostos e quer serviços. Se a obra ficar pelo meio do caminho por causa de todos esses supostos amantes da natureza, é preciso que os paulistas e paulistanos saibam de quem cobrar a fatura.

Vejam o site com o projeto da Nova Marginal. Raramente se viu no país — ou nunca! — uma obra que fosse tão ecologicamente responsável.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.