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Restos mortais de Jango chegam a Brasília para obscurecer ainda mais a história

Os restos mortais de João Goulart já estão em Brasília. A urna foi recebida pela presidente Dilma Rousseff, na companhia dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. FHC só não compareceu porque se recupera de uma diverticulite. Maria Tereza, a viúva de Jango, estava presente. Foram dispensadas ao líder deposto […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h59 - Publicado em 14 nov 2013, 15h29

Os restos mortais de João Goulart já estão em Brasília. A urna foi recebida pela presidente Dilma Rousseff, na companhia dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. FHC só não compareceu porque se recupera de uma diverticulite. Maria Tereza, a viúva de Jango, estava presente. Foram dispensadas ao líder deposto em 1964 honras militares próprias de chefe de estado. Dilma afirmou que o Brasil, assim, se reencontra com a sua história.

Urna com os restos mortais de Jango chega a Brasília (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Urna com os restos mortais de Jango chega a Brasília (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

As pessoas escrevam o que lhes der na telha, não é? Por enquanto ao menos, temos liberdade para isso. É bem verdade que há um monte de gente inconformada com tanta liberalidade. Sei bem do que falo. Fosse pela vontade de alguns patriotas, um comitê de sábios e de pessoas ideologicamente saudáveis diria quem tem direito à palavra.

Vai se investigar a causa da morte de Goulart. Andei conversando com algumas pessoas que entendem do assunto. Consideram praticamente impossível que, 37 anos depois, se encontrem substâncias que provem um eventual envenenamento. “As que resistiriam nesse tipo de material por tanto tempo dificilmente teriam sido usadas na forma de pílulas, como se supõe”, diz um deles. Pouco importa.

O que se busca é MENOS A EVIDÊNCIA DE QUE JANGO FOI ASSASSINADO DO QUE  A NÃO EVIDÊNCIA DE QUE NÃO FOI. Entenderam? Estão atrás da dupla negação. Será impossível comprovar, por exemplo, que a morte se deu mesmo por infarto. Basta que se conclua que nada se pode concluir. E já está de bom tamanho.

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E não! O país não “se encontra com a sua história”, como diz a presidente Dilma. Para que se encontrasse, seria preciso que o evento de agora contribuísse para jogar luzes sobre o período Goulart. Mas o que se vai ter é o exato contrário. O que se está a construir é a figura de um notável democrata, que foi derrubado pelas forças da reação — aquelas, sabem?, que estão sempre conspirando contra o povo…

Vai se passar a impressão de que o Brasil tinha, de fato, um grande destino se continuasse sob os cuidados daquele líder. Mas ok. Se até Carlos Marighella, que pregava num livrinho sobre a guerrilha o assassinato sistemático de inocentes, entrou para o panteão dos heróis nacionais, por que não João Goulart?

Em 1964, todas as forças relevantes — muito especialmente Jango — acreditavam que a história poderia avançar na base de golpes contra a democracia. Jango perdeu. No fim das contas, tudo é compatível com uma história oficial em que um ditador como Getúlio Vargas, que liderou um dos períodos mais autoritários e sangrentos da história republicana, é considerado um do fundadores da pátria. Parte da fortuna laudatória que o embala foi construída matando os outros, e a outra parte, matando a si mesmo.

São os nossos heróis trágicos.

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