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Resposta a Olavo de Carvalho – É preciso aprender a ser mestre

Há modos de discordar das pessoas. Pode-se ser muito duro qualificando o debate e o interlocutor. Mas, para tanto, é preciso que a nossa atenção esteja voltada para o objeto em análise e, no caso de um mestre, para os que podem aprender com a experiência. Desde quando a vaidade do pregador conduziu a um bom lugar? Eu poderia classificar essa pergunta de um “princípio elementar das ideias bem-sucedidas”

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h44 - Publicado em 11 jan 2016, 16h07

Olavo de Carvalho enviou o seguinte comentário:

Dividir a direita em “democratas” e “golpistas” é um simplismo indigno da sua inteligência, caro Reinaldo. Ademais, é um princípio elementar de ciência política não julgar movimentos políticos somente pelos “valores” que eles dizem representar, – isto é, pela imagem que buscam ostentar –, mas pela substância das suas ações e pela qualidade da sua estratégia. Escreverei algo mais detalhado sobre isso, e espero que possamos trocar umas ideias a respeito.

Comento
A área de busca do meu blog é bastante eficiente. Coloquem lá o nome “Olavo de Carvalho”, sem aspas, e vocês verão o que vem. Mesmo divergindo, sempre expressei meu reconhecimento a seus dotes intelectuais. E o defendi, sim, de ataques que considerei injustos. Olavo pode passar a dizer o que quiser a meu respeito. Mas nunca terá uma vírgula a opor à minha fraterna lealdade. Nem ele nem ninguém. Nem os que me amam nem os que me odeiam, ainda que por pragmatismo. Que empreste agora o peso do seu nome para correntes que buscam me desqualificar dá testemunho do que ele decidiu fazer dessa lealdade. Isso é com ele. Constato um fato.

Mas não se espere uma guerra. Não vou cair nessa. Tenho mais o que fazer. E Olavo também. Seus ataques a lideranças de grupos pró-impeachment já haviam chegado a mim. Ignorei o assunto porque as pessoas a que ele se refere dispõem dos próprios meios e de competência para responder — se julgassem conveniente. Rompi o silêncio quando vi meu nome tragado pela baixaria dos acólitos.

Escreve Olavo: “É um princípio elementar da ciência política…”. Bem, Olavo, tal assertiva não é igualmente digna da sua inteligência. É uma tática elementar da tentativa de desqualificação do outro transformar uma opinião ou uma platitude num “princípio elementar”, como se o oponente já estivesse vencido no debate antes mesmo de começar. Afinal, se o sujeito ignora que dois mais dois são quatro, as suas considerações sobre aritmética já estão prejudicadas. Sugiro que você releia “Como Vencer um Debate Sem Ter Razão”, de Schopenhauer. Há uma edição excelente, com comentários muito lúcidos de um certo… Olavo de Carvalho.

Olavo sabe muito bem que isso não é “princípio elementar” de coisa nenhuma. Ele apenas procurou me atribuir o que não escrevi. Não julguei nem julgo o MBL e o Vem Pra Rua apenas a partir do juízo que fazem de si mesmos. Ao contrário: já demonstrei apreço pela substância, sim, de suas ações. E por sua estratégia. E, nesse particular, eu e Olavo divergimos radicalmente.

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Mas não é só divergência. Lamento profundamente os termos a que ele tem apelado para se referir aos rapazes e moças do movimento. Seus livros evidenciam que ele é capaz de muito mais. Não serei eu a propor a Olavo, aos 68 anos, que cuide da sua “De Senectude”, como, aos 54, já cuido da minha. Ah, Olavo! Você se fez professor de filosofia. Chegou a hora de aprender a ser mestre. E o bom mestre não é feito pelos discípulos. Os bons discípulos é que são feitos pelos mestres. Eu poderia chamar isso de um “princípio elementar da convivência civilizada”. Mas é só uma opinião.

Há modos de discordar das pessoas. Pode-se ser muito duro qualificando o debate e o interlocutor. Mas, para tanto, é preciso que a nossa atenção esteja voltada para o objeto em análise e, no caso de um mestre, para os que podem aprender com a experiência. Desde quando, Olavo, a vaidade do pregador conduziu a um bom lugar? Eu poderia classificar essa pergunta de um “princípio elementar das ideias bem-sucedidas”. Mas, de novo, é só uma opinião.

Sempre preferi que Olavo estivesse participando do debate público, não o contrário. Na medida das minhas possibilidades, sempre procurei dar visibilidade às vezes em que contribuiu para elucidar conceitos, posições, contraposições. Mas, a partir de certo ponto, ele perdeu a mão. E resolveu emprestar seu nome a depredadores do debate civilizado.

Pretendo esgotar aqui essa questão. Olavo não é notícia. Eu não sou notícia. O MBL, o Vem Pra Rua e outros movimentos é que estão por aí, afrontando as dificuldades para fazer valer alguns princípios civilizatórios. Já concordei com eles. Já discordei deles. Mas faço uma coisa e outra qualificando-os como interlocutores, não o contrário. E os defendi, sim, da baixaria, como já fiz antes quando o próprio Olavo de Carvalho era o alvo. Ou não fiz, Olavo?

E, por óbvio, Olavo não me deve nada por isso. A não ser o respeito devido a pessoas das quais discordamos, quando reconhecemos que estão na luta das ideias de boa-fé.

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Eu não perdi a esperança, Olavo, de aprender um pouco mais. Faça o mesmo. É uma sugestão sincera. E não escrevo isso porque quero parecer bonzinho. Eu também sei ser mauzinho. Mas já estou naquela altura da vida em que acho o exemplo tão importante quanto as palavras.

É um princípio elementar da sabedoria.

Olhe pela janela, Olavo… Os adversários reais ainda estão entre os girassóis. Depois se volte para os lírios, que não fiam nem tecem. São citações, como você sabe. Não servem para excitar a fúria circense dos Bolsonaros da vida.

Você pode muito mais.

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