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Petistas, Raduan, Freire e Chaui: os covardes acanalham a espécie

No evento em que o laureado escritor vomitou impropérios e mentiras sobre o Brasil, vimos os covardes e omissos a vaiar um homem corajoso

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 22 fev 2017, 08h03 - Publicado em 19 fev 2017, 04h16

Já deveria ter escrito a respeito. Mas os dias não andam fáceis. Vamos lá. É raro que um evento chegue às raias da caricatura, como aquilo a que se viu na sexta, durante a entrega do Prêmio Camões a Raduan Nassar. E o que se viu mesmo? Lembro: um homem corajoso (no passado e no presente), como Roberto Freire, foi vaiado por um bando de covardes. Já chegou ao ponto.

O escritor Raduan Nassar foi agraciado com o Prêmio Camões de Literatura, concedido pelos governos de Portugal e do Brasil. A solenidade se deu nesta sexta, no Museu Lasar Segall. Atenção! A distinção foi transformada pela esquerda numa armadilha. Aos 81 anos, recebendo a distinção máxima para a literatura em língua portuguesa — 100 mil euros —, o velhinho serviu de instrumento de vingança de apoiadores do mensalão, de aloprados, do petrolão e de quantos outros roubos e safadezas tenham sido praticados no Brasil ao longo de 14 anos.

Raduan fez um discurso que talvez Dilma ou Lula não tivesse coragem de fazer. Alinhavou contra o governo Temer acusações que chegam a ser aberrantes, como se o país vivesse sob uma ditadura fascista. Para ele, o golpe está consumado, e “não há como ficar calado”. Acusou Alexandre de Moraes, indicado para o Supremo, de praticar violência contra movimentos sociais. É mentira. E partiu para ideologização mais rasteira: “Esses fatos configuram, por extensão, todo um governo repressor. Governo atrelado ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração de riqueza”. A plateia, composta, na esmagadora maioria, de sedizentes intelectuais do PT, urrava de prazer, delirava, zurrava.

Cumprindo o seu papel, o escritor atacou ainda o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal e criticou a nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência. E, não poderia deixar de ser, elogiou a ex-presidente Dilma Rousseff.

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Sintetizo assim o rompante de Raduan: “A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança”. Foi a resposta que Antero de Quental, aos 23 anos, deu a Antônio Feliciano de Castilho, 65, no ano de 1865, num dos embates da chamada “Questão Coimbrã”. Tratava-se, nesse caso, de uma pendenga entre jovens poetas realistas e os românticos mais maduros.

O embate de sexta, no Brasil, foi bem mais primitivo. O que se viu ali foi ideologia em estado bruto.

O corajoso da noite
É evidente que Raduan não foi o corajoso da noite. Na verdade, comportou-se como um covarde sorrateiro. Quem demonstrou destemor e não se vexou de enfrentar uma plateia hostil e defensora do governo criminoso do PT foi Roberto Freire, ministro da Cultura. Já gostava dele, apesar de algumas divergências. Agora, passei a ser admirador mesmo. Não se deixou intimidar pela claque fascistoide.

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Em sua resposta, necessária, Freire indagou, por exemplo, por que Raduan aceitou, então, um prêmio de um governo que considera ilegítimo. Recusasse, ora bolas! Foi o que fez o francês Jean-Paul Sartre, em 1964. Não quis o Nobel. O motivo apontado foi tosco, mas, ao menos, sincero. Declarou sua simpatia pelo socialismo e deixou claro que não queria ser laureado pela academia sueca. Ponto.

É pouco provável que Raduan tenha aceitado o prêmio por causa do dinheiro. Não tardará, se já não aconteceu, e saberemos que fez uma doação a uma entidade ou causa. Ele foi à cerimônia porque tinha uma tarefa a cumprir diante da plateia de esquerdistas.

Vaias e interrupções
Freire lembrou o óbvio em seu discurso. O Brasil é uma democracia, e a premiação a Raduan era um emblema disso, já que reconhecido adversário do governo. Mais: lembrou que o ambiente de uma ditadura é bem outro. Se Raduan falou o que bem entendeu e foi ovacionado pela plateia, com Freire, a coisa foi bem diferente.

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Os fascistoides o interromperam aos gritos de “Fora Temer”. Augusto Massi, professor de literatura e poeta — de poesia ruim —, babava contra Freire: “Acho que você não está à altura do evento”. Marilena Chaui, aquela!!!, vociferava: “O silêncio é precioso”.

De corajosos e covardes
Freire começou a militar no PCB 20 anos, em 1962. A partir de 1968, isso passou a significar risco de vida — e alto. Para se ter uma ideia: entre 1974 e 1976, 10 dos 29 dirigentes do partido haviam sido presos. Em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog havia sido assassinado no DOI-Codi. Três meses depois (17 de janeiro de 1976), foi a vez do operário Manuel Fiel Filho. No mesmo local. Os dois eram ligados ao PCB. Aquele ano chegaria ao fim com a chamada “Chacina da Lapa”, ocorrida no dia 16 de dezembro. Nesse caso, dois dirigentes do PCdoB foram metralhados: Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Um terceiro, João Batista Franco Drummond, preso pouco antes, ao deixar a casa, morreu sob tortura. No DOI-Codi, claro!

Por que esse breve histórico? Sem entrar no mérito do que, para mim, era um equívoco ideológico de Freire — não sou de esquerda e repudio seus pressupostos —, noto que era preciso ter coragem para sê-lo. E a coragem é uma virtude em si. É claro que pode até estar a serviço de uma má causa. Mas o corajoso merece respeito, não importa o tempo que viva ou a ideologia que abrace.

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Já o covarde não serve para nada. Nem em tempos de paz nem em tempos de guerra.

Delinquência intelectual
Quem é Augusto Massi para dizer que Freire não está à altura do evento? Eu respondo! Um covarde, que só faz esse tipo de provocação porque sabe que nada lhe vai acontecer, ora! O sujeito é dois anos mais velho que eu. Se tivesse militado em favor da redemocratização do país, alguém disso teria tido notícia. Mas nada há. Talvez se dedicasse a seus versinhos sem consequência.

O mesmo vale para dona Marilena Chaui. Foi o surgimento do PT que alçou esta senhora ao estrelato militante na USP, no começo da década de 80. Tem 75 anos. É um pouco mais velha que Freire. Quem ouve hoje em dia o seu discurso radical fica com a impressão de que quebrou muitas lanças contra a ditadura. Ninguém nunca ouviu falar da dona!

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Concluo
É claro que ninguém precisa correr risco de vida em defesa da democracia ou de suas ideias, como Freire, para ganhar o direito a uma fala.  Agora, se estamos no embate político, borra-botas e borra-sandálias não vaiam os corajosos. Não na minha pátria moral.

Reitero: coragem e covardia são traços de caráter. A primeira pode até estar a serviço de um propósito ruim. Mas para que serve mesmo um covarde? Respondo: para acanalhar a espécie.

Parabéns, Roberto Freire! Pela coragem em tempos de guerra e em tempos de paz.

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