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Pavinatto: a “suruba” no país da esbórnia dos estado-dependentes

A palavra “suruba” não pode ser empregada assim, sem um aporte intelectual. O autor decidiu refletir sobre alguns vícios

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 2 mar 2017, 20h57 - Publicado em 2 mar 2017, 20h54

Tiago Pavinatto é advogado formado pela USP, onde é doutorando. Escreve com propriedade e inteligência sobre diversos assuntos. Às quintas, ele publica um artigo no blog “Estado da Arte”, do Estadão. Leia abaixo trecho do artigo intitulado “Vira-vira”. A partir da palavra recentemente celebrizada pelo senador Romero Jucá — “suruba” —, Pavinatto tenta entender um tanto dos nossos vícios.

Não, não exatamente daqueles a que, eventualmente, as surubas dão curso. Ele fala é do vício da burocratização da vida, dos afetos e, caramba!, até dos amores contingentes, como se dizia quado o mundo era menos xucro.

No Brasil, querem o Estado regulando o direito dos casados, dos amantes, dos ficantes, dos chegados…

Leiam um trecho. Segue o link para a íntegra.

*

Congregatis ergo illis dixit Romerus: “Suruba é suruba. Aí, é todo mundo na suruba”.

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Verbum domini.

Muito embora o famigerado pernambucano Senador pelo Estado de Roraima, Romero Jucá, estivesse tecendo uma crítica tosca, em forma e conteúdo, à também ignara campanha pelo fim do foro especial por prerrogativa de função, popularmente conhecido como foro privilegiado, nosso assunto é outro. Não nos deteremos nesse tema de competência jurisdicional, sendo de muito bom alvitre registrar, contudo, que a sua existência é necessária para a administração de um país grande como o Brasil, um elefante branco, verdadeira manada alva; que a previsão constitucional desse foro precisa de uma profunda reforma e não de revogação.

Do ocorrido, nos interessamos pela suruba.

Vocábulo brasileiríssimo, suruba, ensina Antenor Nascentes, vem do tupi. Significando também “porrete grande”, “cacete”, “bengalão”. Raul Pederneiras registra a expressão carioca “descascar a suruba” como sinônima de “esbordoar”. O Houaiss ainda apresenta uma definição obsoleta da palavra, na qual ela significa “muito bom”, “excelente”, “capaz” — nada diferente daquilo que Hamílcar de Garcia já não tivesse inserido na edição brasileira do sagrado Caldas Aulete, com os significados “supimpa”, “forte”  e “cutuba”. Muito embora Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, em seu magnífico Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, tenha inserido suruba como algo análogo a tudo mais que se possa atribuir ao termo “impureza”, posto que seu significado ordinário seja mesmo “orgia sexual de que tomam parte várias pessoas”, a mencionada edição do Caldas Aulete oferece outro significado que viria do Sul: “namoro escandaloso”.

Nos idos de 2012, no Município de Tupã, interior de São Paulo, um homem e duas mulheres oficializaram união em um cartório de notas. O namoro escandaloso virou união estável e, a essa união, nossos juristas telúricos, acadêmicos de meia pataca e pitaco inteiro, deram o nome de poliafetiva, que, tal qual sua matriz homoafetiva, semanticamente, é palavra vazia, mas, politicamente, tem embutido certo auê.

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Poderia ser, com justeza, denominada união plurilateral… mas nossos novos civilistas (e aguardamos a descida de Pontes de Miranda do Reino da Norma Fundamental para separar o joio do trigo) insistem em usar do tosco verniz da falsíssima erudição para dar como nova uma realidade que a Companhia do Pagode já detectara na década de 1990: é a dança do maxixe! (Aquela do homem no meio com duas mulheres fazendo sanduíche.)

Há muito, uma relação familial não se resume à finalidade reprodutiva. O modelo romântico, se é que um dia existiu fora dos romances, poesias, contos e canções, embora desejado, buscado e sonhado no íntimo do homem médio, já está descontruído. Cai o véu da fantasia romântica, sobe o da fantasia sexual (e o intrigante livro de Gary Wilson, “Your Brain on Porn”, nos mostra como a pornografia virtual de fácil acesso e com ilimitadas ousadias circenses tem afetado os relacionamentos).

As uniões plurilaterais já são realidade buscada nos cartórios e tribunais brasileiros, proposta em formato legal pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família e sustentada numa doutrina esdrúxula e paradoxal, uma vez que defende a plena liberdade do indivíduo para se relacionar  através de mais regulamentação do Estado.

Mas parece não haver mais escândalo diante da suruba, esse namoro outrora escandaloso — ao menos numa metrópole (Asa Branca e Sucupira, pelos brados e preces de suas beatas beatificadas por si próprias, ainda resistirão) – e, se a ideia vingar, Jucá vira profeta por ricochete: “É todo mundo na suruba”.
(…)
Leia a íntegra aqui

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