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Os números da violência e a farsa da campanha do desarmamento

Escrevo este post em homenagem a todos aqueles que, enfrentando as correntes da mistificação politicamente correta e de cretinismos ideológicos, fazem a coisa certa, ainda que, olhem que estupendo!, sejam criticados por isso. Escrevo este post, em suma, em homenagem àqueles que preferiram salvar vidas a aderir ao proselitismo fácil que toma conta do debate […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h55 - Publicado em 13 dez 2011, 19h04

Escrevo este post em homenagem a todos aqueles que, enfrentando as correntes da mistificação politicamente correta e de cretinismos ideológicos, fazem a coisa certa, ainda que, olhem que estupendo!, sejam criticados por isso. Escrevo este post, em suma, em homenagem àqueles que preferiram salvar vidas a aderir ao proselitismo fácil que toma conta do debate sobre segurança pública.

Divulgaram-se ontem dados do Ministério da Saúde, segundo os quais morreram 35.233 pessoas vítimas de armas de fogo em 2010, o que corresponde a 70,5% dos 49.932 homicídios do país. Luiz Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, afirmou ao jornal O Globo: “Houve uma redução de 11% no número de homicídios entre 2004 e 2010. Conseguimos quebrar a linha ascendente, mas, para mudar essa realidade, para reduzir os números, é preciso reforçar a Campanha de Desarmamento para a sociedade civil, aumentar a fiscalização nas ruas e o policiamento nas fronteiras.” Lia-se ainda:
“Segundo dados do Ministério da Justiça, entre 2004 e 2010, a Campanha do Desarmamento, criada a partir do Estatuto do Desarmamento, recolheu, em todo o país, quase 1 milhão de armas. Este ano, em sete meses, foram entregues 35 mil armas. O Brasil tem pouco mais de 2.860 postos de recolhimento. ‘Ter aumentado a capilaridade do programa, ter feito com que as indenizações, entre R$ 100 e R$ 300, fossem pagas em 24 horas, além de termos permitido que as entregas fossem anônimas foram medidas importantes. O anonimato fez com que 91 fuzis fossem entregues este ano’, conta Barreto.”

Voltei
Sim, há escolhas na fala de Barreto que são de natureza ideológica e, entendo, perniciosas, perigosas mesmo. Mas deixo isso para o fim. No momento, quero lidar apenas com números. Há várias bases de dados sobre segurança pública. Vou escolher uma que o governo que o sr. Barreto representa considera certamente confiável: O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2011 (com dados até 2010), editado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O doutor aponta uma queda de 11% no número de homicídios no Brasil e acha que isso se deve, principalmente, à campanha do desarmamento… É mesmo? E fala das armas recolhidas no período. Os números indicam que ele poderia escolher outra coincidência qualquer. As chuvas por exemplo. Ou o consumo de carboidratos… Atenção para a tabela que segue, extraída do anuário. Refere-se ao que chamam “Crimes violentos Letais Intencionais” (homicídio doloso, latrocínio e crime seguido de morte). Comparem-se dados de 2006 com os 2010! Atenção! Houve um aumento de ocorrências por 100 mil habitantes em 14 estados, a saber:

Crimes Violentos. Letais Intencionais – por 100 mil habitantes
Estado 2006 2010
CE 21,8 28,2
DF 25,2 26,9
MT 29 31,3
PB 22,8 38,8
PR 26,3* 32,9
RO 32,9 37,3
SE 28,8 38,2
TO 16,9 19
AL 54,5 70
AC 24,5 28,9
AM 21,1 23,9
BA 27,4 33,8
PA 34,4 36,6
RN 26,5 30,1

*Dado de 2007

No período, reduções importantes no número de ocorrências se deram em São Paulo, onde os mortos por 100 mil passaram de 15,4 para 11,1 (hoje, menos de 10); em Pernambuco, de estratosféricos 52,6 para 38,1, e no Rio, de 38 para 28,8 — ainda quase o triplo de São Paulo.

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O doutor Barreto deveria nos explicar por que, em 14 unidades da federação, o tal desarmamento não provocou a redução de homicídios. Deveria também deixar claro que a queda de 11% no número de homicídios entre 2004 e 2010 se deve, basicamente, a São Paulo e Rio. Nos dois casos, há uma política de enfrentamento da violência — diferentes, sim, entre si, mas que NÃO ESTÃO CETRADAS NA FRAUDE PUBLICITÁRIA DO TAL DESARMAMENTO.

O caso mais virtuoso, internacionalmente reconhecido, é São Paulo. Em 2002, o estado tinha 38 mortos por 100 mil habitantes. Hoje, esse número é inferior a 10, uma redução de mais de 73%. Por causa da campanha do desarmamento? Isso é de um ridículo atroz! NÃO! POR CAUSA DA EFICIÊNCIA DA POLÍCIA E PORQUE, EM SÃO PAULO, ESCOLHEU-SE PRENDER BANDIDO. O Rio, por exemplo, pode botar uma UPP em cada favela — o que não acontecerá — e não atingirá a marca paulista se a bandidagem continuar solta (a menos que ela migre para estados vizinhos). Houve, sim, no estado, uma redução importante porque houve um aumento do policiamento, mas o número ainda é escandaloso.

Há casos que são espantosos. Segundo o Mapa da Violência, em 2002, a Bahia, por exemplo, tinha 13 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2007, já havia chegado a 25,7. Em 2010, foram 33,8.

Fim dos mitos
Os números sobre a violência no Brasil servem justamente para desmistificar essa cascata cretina sobre a campanha do desarmamento. Eu também acho que o desejável é não ter armas. Mas fundamental é que os bandidos, que não costumam entregar seus “instrumentos de trabalho” para o estado, não as tenham. O que é preciso, como se faz em São Paulo, é que os usuários desses objetos estejam em cana e que a polícia atue com eficiência.

As pessoas que, de boa-fé, entregam as armas que têm ao estado certamente não estavam pensando em usá-las para impor a sua vontade aos outros. Os que têm esse objetivo não cedem ao apelo do Ministério da Justiça. Atribuir, ainda que de maneira oblíqua, a redução discreta do número de homicídios às campanhas do desarmamento corresponde a pegar carona em feitos alheios e a deixar de reconhecer o método que realmente funciona: polícia reprimindo crime e bandido na cadeia.

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Há uma média de 50 mil homicídios por ano no Brasil. Em números absolutos, é o país em que mais se mata (ao menos entre os que têm estatísticas mais ou menos confiáveis); está certamente no alto da tabela em números relativos. É uma carnificina! Não obstante, somos obrigados a ouvir essa conversinha mole de desarmamento e o ataque sistemático, às vezes acompanhado de uma verdadeira conspirata, contra aqueles que fazem um bom trabalho na área.

O outro mito que foi por água abaixo é aquele que procura relacionar violência com pobreza ou estagnação da economia. O índice de homicídios explodiu no Nordeste, por exemplo, região que mais cresceu nos últimos anos. O fato de toda área violenta ser pobre não implica que toda área pobre seja violenta. Só é quando essa pobreza condiciona a omissão do poder público e a impunidade. O que desestimula a ação de bandido é o policiamento preventivo eficiente e o temor que o vagabundo tem de ser pego. Sem isso, se ele não tiver um revólver, esmaga a cabeça de sua vítima, se preciso, com uma bíblia. A síntese da tese do Ministério da Justiça poderia ser essa: desarmando cidadãos de bem, a violência cai!

Anotem aí: enquanto o Ministério da Justiça estiver preso a essa ladainha que só reproduz a voz de algumas ONGs do miolo mole — algumas são parceiras objetivas do crime —, o Brasil continuará a matar 50 mil pessoas por ano, mais do que qualquer guerra. Ocorre que esse discurso é confortável. Com ele, José Eduardo Cardozo só precisa gastar alguns milhõezinhos com agências de publicidade.

E, finalmente, um conselho aos petistas: em nome da segurança dos brasileiros, busquem aprender com a Polícia de São Paulo em vez de se meter em conspiratas para difamá-la.


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