O dono da opinião e a opinião que tem dono. Ou: Um tal Boechat
Fiquei sabendo que Ricardo Boechat, na rádio (acho que é na Band), me atacou, mas sem citar o nome porque não valeria a pena e coisa e tal. Chegou a fazer especulações sobre o que vai acontecer quando eu morrer. Tudo por causa, claro!, das mentiras que contei sobre o pensamento de Niemeyer. Como sou […]
Fiquei sabendo que Ricardo Boechat, na rádio (acho que é na Band), me atacou, mas sem citar o nome porque não valeria a pena e coisa e tal. Chegou a fazer especulações sobre o que vai acontecer quando eu morrer. Tudo por causa, claro!, das mentiras que contei sobre o pensamento de Niemeyer. Como sou um homem bom, chamei a defesa que o arquiteto fazia de alguns homicidas de seu “lado idiota”. É claro que merecia qualificação mais dura.
Boechat não fala o meu nome, mas eu falo o dele. Abaixo, segue uma reportagem de 2001 da VEJA explicando por que ele foi sumariamente demitido do jornal O Globo e da TV Globo.
Pois é, Boechat… Você pode não gostar das minhas opiniões, mas são minhas. Sobre as suas, com quem se deve falar no momento?
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Escândalo no setor de telefonia faz Globo demitir Ricardo Boechat
O jornalista Ricardo Boechat, que assinava a coluna mais lida do jornal O Globo, foi demitido neste domingo, depois que uma reportagem de VEJA revelou bastidores da guerra entre o grupo canadense TIW e o presidente do Banco Opportunity, Daniel Dantas, pelo controle de das empresas de telefonia celular Telemig Celular e Tele Norte Celular. Nesta segunda-feira, o jornal carioca não explica a saída de Boechat, mas informa na capa que a coluna Swann volta a ser publicada. O jornalista também foi afastado do Bom Dia Brasil, da Rede Globo.
Reportagem de VEJA desta semana divulga uma série de ligações telefônicas que desvenda a guerra entre dois grupos pelo controle de empresas de telefonia móvel. Em uma das ligações, Boechat conversa com Paulo Marinho, assessor de Nelson Tanure, aliado da TIW e acionista majoritário do Jornal do Brasil. Em um telefonema de 15 de abril, o jornalista conta a Marinho o teor do texto que seria publicado no dia seguinte sobre a disputa no setor de telefonia e explica detalhes dos procedimentos internos do jornal.
Pela conversa, fica claro que a direção de O Globo não sabia sobre o grau de ligação do jornalista com Tanure nem que a reportagem havia sido discutida com Marinho. Não há menção a favor, pagamento ou outras práticas irregulares de compensação. Dez dias depois da publicação, o texto foi usado como peça de processo na ação judicial dos fundos de pensão, aliados da TIW, contra o Opportunity.
Bastidores
De acordo com o Jornal do Brasil, Boechat conversou na manhã de domingo com o editor-chefe do jornal, Rodolfo Fernandes. O jornalista perguntou se deveria escrever um artigo explicando seu diálogo ou apresentar pedido de demissão. Como resposta, escutou que sua situação já estava insustentável. À noite, o diretor-executivo do jornal foi até a casa de Boechat e oficializou a demissão.
A decisão de demitir o jornalista foi unânime, ainda segundo o Jornal do Brasil. Os responsáveis pelo jornalismo das Organizações Globo consideraram que a conduta de Boechat feriu as normas do código de ética da empresa. Eles concordaram que o jornalista não poderia ter lido seu texto para Marinho nem discutir questões internas do jornal.
Instrução
As conversas gravadas sugerem que a participação de Boechat foi além da reportagem por encomenda que acabou por derrubá-lo. Em outro diálogo, não reproduzido por VEJA, Boechat instruiu Tanure sobre como agir e o que falar em uma conversa com o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho. O objetivo era passar a imagem de um empresário sem ambições políticas nem projeto de poder, o que seria visto com maus olhos no concorrente dono do Jornal do Brasil. Análise feita pelo perito Ricardo Molina comprova que a voz gravada na fita é de Boechat e aponta que não há indícios de que a gravação tenha sido editada.