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Não é que eles amem tanto o comunismo… Eles amam mesmo é a ditadura!

Por que Yoani Sánchez, mulher de aparência frágil, fala doce e textos nada inflamados, provoca a fúria de alguns dinossauros da ideologia mundo afora, inclusive no Brasil? A resposta não é simples.  Ainda que as esquerdas contemporâneas tenham mudado a sua pauta, e já não se encontrem mais comunistas de verdade nem em Pequim (restaram […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h48 - Publicado em 24 fev 2013, 10h58

Por que Yoani Sánchez, mulher de aparência frágil, fala doce e textos nada inflamados, provoca a fúria de alguns dinossauros da ideologia mundo afora, inclusive no Brasil? A resposta não é simples.  Ainda que as esquerdas contemporâneas tenham mudado a sua pauta, e já não se encontrem mais comunistas de verdade nem em Pequim (restaram alguns apenas nas universidades brasileiras), é certo que elas conservam o gene totalitário e o ódio à democracia e à pluralidade. Herdaram do passado uma concepção de sociedade que as coloca como a vanguarda da história.

Essa vanguarda seria a caudatária legítima de todas as lutas em favor do progresso, da igualdade e da justiça e, por isso, estaria habilitada a conduzir a humanidade para o futuro. Elas se consideram dotadas desse exclusivismo moral — e, em nome dele, tudo lhes seria permitido. Os que não aderem à sua pauta, pouco importa o conteúdo, seriam forças da reação, agentes do atraso, sabotadores do progresso. A história é rica em exemplos. A depender das necessidades, o comunismo internacional ora se alinhou com o nazi-fascismo “contra o imperialismo”, ora com o imperialismo “contra o nazi-fascismo”. Seus comandados defenderam com igual entusiasmo uma coisa e outra e, em ambas, vislumbraram o caminho para a redenção do homem. Afinal, os donos da história sempre sabem o que é melhor para a humanidade.

Esses grandes embates ficaram no passado. Desmoronou também a ambição de se criar um modelo econômico alternativo ao capitalismo. Setenta anos de história bastaram para evidenciar a impossibilidade, restando, a exemplo de Cuba, algumas experiências que vivem de esmagar as liberdades individuais e que se impõem pela violência. O capitalismo fatalmente chegará à ilha hoje tiranizada pelos irmãos Raúll e Fidel Castro não porque a história tenha acabado, e esse modelo de sociedade vencido. O capitalismo chegará justamente porque a história não acabou, e o estado comunista fracassou no seu intento de refundar o homem, a economia, a ciência, a natureza e até a metafísica. Não custa lembrar que as esquerdas é que eram partidárias do “fim da história”, não os liberais.

O comunismo fracassou. Curiosamente, aquele “império” ruiu mais com suspiros do que com estrondo, tais eram as suas fragilidades. Não foi o pouco de abertura econômica  proporcionada pela era Gorbachev que liquidou o modelo, mas o pouco de liberdade que ele resolveu inocular no sistema. O totalitarismo é uma doença anaeróbia do espírito. Não convive com o oxigênio da liberdade e do contraditório. Aquilo tudo foi abaixo. A existência de Cuba e da Coreia do Norte é a prova mais evidente de que o comunismo, como a humanidade o conheceu um dia, acabou. Mas as esquerdas sobreviveram com a sua mesma concepção de história.

A despeito de todos os desastres humanitários que já provocaram, continuam a reivindicar o monopólio do humanismo e da verdade e a vender a fantasia de que são as únicas forças moralmente habilitadas a nos conduzir para o futuro. Essa é a razão pela qual a noção de “crise” — entendida como um momento de transformação — é a que mais estimulou, ao longo do tempo, a imaginação dos historiadores e ensaístas de esquerda, a começar do pai original, Karl Marx. Eles julgam saber para onde conduzir a humanidade, ainda que esta, eventualmente, não queira…

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Yoani provoca a fúria do governo cubano e dos esquerdistas que se manifestam sem restrições nas democracias (justamente porque o comunismo perdeu…) não porque defenda a economia de mercado — todo esquerdista sabe, hoje em dia, que não há alternativa; não porque esteja colocando em dúvida supostas “conquistas” da revolução — ela é até bastante cordata a respeito. Os furiosos protestam porque Yoani é a evidência de que o exercício da liberdade individual desconstrói a fantasia totalitária, pouco importa em que modelo econômico ela esteja ancorada. E isso vale também para o Brasil.

Vivemos, a despeito dos totalitários em voga, num regime de plenas liberdades democráticas. É uma conquista da população brasileira, não desta ou daquela forças políticas em particular. Não existe mais em nosso país um embate relevante entre os que defendem e os que atacam a economia de mercado. O mercado venceu porque é a escolha mais eficiente, mais racional e mais adequada às habilidades e às aspirações humanas. Mas permanece, sim, um confronto inconciliável entre os que acreditam nas liberdades individuais e os que entendem que estas devam se subordinar aos anseios daqueles que se apresentam ainda hoje como “a vanguarda”.

Aqueles patetas fantasiados de Che Guevara que hostilizaram Yoani, a absurda participação de um funcionário graduado do governo na conspirata armada pela embaixada cubana, as grosserias que contra ela desferiram parlamentares de esquerda, tudo isso é a evidência não de amor pelo comunismo, mas do ódio à liberdade. Com a sua simplicidade, com a sua verve mais tímida do que encantatória, com algumas formulações muitas vezes óbvias sobre o que é ser livre, Yoani não trouxe à luz apenas as violências do regime político cubano; ela conseguiu denunciar também as tentações totalitárias que ainda estão muito vivas no Brasil. Não é que essa gente que saiu urrando contra ela ainda acredite no comunismo. Mas é certo que essa gente ainda acredita na ditadura. Em Cuba ou aqui.

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