Na Folha: A burguesia brasileira quer matar a democracia burguesa
É certo que não tive uma regressão esquerdista, mas é inegável que a direita brasileira está passando por uma degeneração fascistoide
“E a direita, hein? Vai destruir, mais uma vez, a política democrático-burguesa”.
Quem me envia a provocação acima é um amigo de esquerda, comunista mesmo! Mas é um esquerdista raro hoje em dia porque do gênero que estuda. Estudar, nestes tempos, é uma esquisitice em qualquer campo do pensamento. Por isso estamos mergulhados em anacolutos gramaticais, teóricos, conceituais, morais…
Em passado já remoto, escreveria sem receio: “Estamos, mais uma vez, diante da evidência da incapacidade da burguesia dos países atrasados de fazer a revolução burguesa”.
Mas eis que me assombro. Eu poderia escrever isso neste 2017, no centenário da revolução bolchevique naquela Rússia que… não conheceu a Revolução Burguesa!
E eu poderia fazê-lo hoje não porque esteja passando por alguma regressão trotskista ou jamais tenha deixado de ser um deles, como quer a extrema-direita mal saída dos cueiros, que não tem a mais remota ideia do que seja combater uma ditadura. O máximo de risco que correm hoje em dia alguns pivetes ideológicos é tomar um “block” e afogar as mágoas num beque.
É certo que não tive uma regressão esquerdista, mas é inegável que a direita brasileira está passando por uma degeneração fascistoide. Uma quadrilha foi flagrada assaltando o Estado e seus entes, a serviço de uma arquitetura política que tinha um partido, o PT, como seu principal pilar.
Sabia-se, no entanto, desde o início, que a legenda não exercia o monopólio da safadeza.
Mas só um parvo ou um mal-intencionado enterrariam em vala comum, como se fez, todos os políticos e todas as agremiações partidárias. No dia 17 de julho de 2015, não foi anteontem, fiz aqui um alerta contra o salvacionismo de alguns procuradores, que passaram a falar em “refundar a República”, como se tivessem recebido tal ordenamento de Deus.
O PT compreendeu com mais competência do que qualquer outro partido a natureza da nossa “burguesia periférica”.
E escolheu a dedo os protagonistas do capitalismo de Estado. Chegou a engendrar, como resta claro, um plano de poder além-fronteiras. O grito de guerra dessa ordem: “A classe empreiteira é internacional”.
Para arrancar o partido das dobras do Estado, quando este deixa de ser funcional, as mesmas elites que lhe deram suporte nos anos de glória não veem mal nenhum em pinchar no mato a criancinha junto com a água suja. E, só para a surpresa dos idiotas, o partido, que estava fora do jogo, renasce dos escombros.
(…)
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