Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Moro: “Nem tudo está perdido”. A fala é, sim, infeliz!

Eis que, com a morte, o ministro passou a ser visto como uma espécie de guardador de arcanos, de segredos, que ninguém mais domina

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 2 fev 2017, 13h30 - Publicado em 23 jan 2017, 07h07

O arquivo do que escrevi ao longo desses mais de 10 anos de blog está à disposição. Se e quando mudo de ideia ou avaliação ao revisitar alguns temas, aviso. Se não, então é… porque não. Concordei com o ministro Teori Zavascki muitas vezes. Discordei outras tantas, muito especialmente de seus votos no julgamento do mensalão. Ele compôs a maioria de seis ministros que, ao arrepio da lei, declararam a sobrevivência dos embargos infringentes. Lembram-se? Havendo quatro votos divergentes contra uma condenação, o réu tem direito a ter seu caso votado de novo.

Por que faço essa lembrança? Porque a deificação em curso de Teori Zavascki nada tem a ver com o apreço pelo morto. Parece-me mais esperteza não virtuosa de alguns vivos. Eu explico. Eis que, com a morte, o ministro passou a ser visto como uma espécie de guardador de arcanos, de segredos, que ninguém mais domina. É como se só ele tivesse a chave. Assim, qualquer que seja a solução, com a sua morte, sempre estaremos diante de uma resposta precária ou suspeita. E nunca faltará quem diga, quando contrariado: “Ah, Teori teria feito diferente”.

As falas chegam a assumir contornos dramáticos, e me parece evidente que a pressão busca tirar do futuro relator do petrolão a autonomia de que deve dispor um juiz para tomar decisões. Há um surdo alarido a pressionar o nome a ser escolhido para relatar o caso: “Faça o que queremos, ou diremos por aí que, com Teori, seria diferente”.

Até parece que o ministro não apanhou de dar gosto quando declarou sem valor as escutas telefônicas, executadas fora do prazo legal, que traziam o registro de conversas de Lula com Dilma. Até parece que o ministro não virou alvo da fúria de alguns que agora o idolatram quando censurou o juiz Sergio Moro por ter divulgado as conversas da então presidente. Até parece que o ministro não era acusado, em certos nichos, de ter atuado para evitar a prisão de Lula.

Mas eis que isso ficou pra trás, não é? Cumpre agora declarar a santidade de Teori, de canonizá-lo como “aquele que fazia tudo o que queríamos que fizesse”. Para que isso? Ora, se o novo relator contrariar esse ou aqueles anseios, então se vai gritar: “Lava Jato corre riscos…”.

Continua após a publicidade

Leio que, no velório de Teori, em conversa com um interlocutor, o juiz Sergio Moro teria dito: “Nem tudo está perdido…”. Nem tudo? Isso faz supor um dano irreparável para a investigação, mas sem perda total. Digam-me cá uma coisa: o que foi que se perdeu do ponto de vista institucional ou processual? Resposta: nada!

Os que agora se ocupam de anunciar o Teori sem máculas e único que seria capaz de manter a Lava Jato no caminho virtuoso querem é se apresentar como intérpretes do voto que o ministro daria.

Por mais que se preze o ministro que se foi, convém ter um pouco mais de respeito pelas instituições. Humano que era, Teori também cometia falhas e omissões em seus juízos. O mesmo acontecerá com o futuro relator do petrolão. E nem por isso se estará diante de uma conspiração.

O acaso segue sendo o maior criador de mitos da história.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.