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Íntegra do meu artigo em “O Globo”: Opus diaboli

Junto-me aos que reclamam do formato que assumiu a versão digital de O Globo. Complicado, chato e demorado. Mesmo para computadores potentes. E há, entendo, um erro básico: jornal é jornal; micro é micro. Não adiante tentar misturar os formatos. O livro eletrônico não pegou. E não vai pegar. Reparem que o carro não é […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h18 - Publicado em 20 ago 2006, 02h27
Junto-me aos que reclamam do formato que assumiu a versão digital de O Globo. Complicado, chato e demorado. Mesmo para computadores potentes. E há, entendo, um erro básico: jornal é jornal; micro é micro. Não adiante tentar misturar os formatos. O livro eletrônico não pegou. E não vai pegar. Reparem que o carro não é um cavalo com rodas. Antes, era possível fazer links para textos do jornal — que só eram abertos por quem se cadastrava. Bom, tá dada a opinião de um leitor. Pedem-me a íntegra do meu texto de sábado no jornal. Segue abaixo. Chama-se “Opus diaboli”.
*
Tento caminhar um pouco todos os dias. Dizem que faz bem. É uma chatice, como todo exercício físico. Fumar é muito mais gostoso. Mas você deve andar, não fumar. Não conseguiria fazer esteira sem me sentir idiota. Em academia, nem pensar: há algo em mim parecido com pudor. Aquele que sua ao lado não é “meu semelhante, meu irmão”. Para não me sentir maluco além da conta, estabeleço um ponto qualquer de referência e para lá me dirijo com a determinação de um carteiro. Chego, respiro resignado e volto. E acendo um cigarro.

Parei em um quiosque, ao lado de uma banca de jornais, para comprar água. Vi uma coisa entre pia e demoníaca na capa de uma publicação. Era a revista de esquerda Caros Amigos — cujo logotipo tenta remeter ao cirílico, como num panfleto bolchevista. Até outro dia, início do período eleitoral, era um bolchevismo recheado de anúncios estatais. Eles voltarão. A chamada: “Os Códigos da Opus Dei”.

“Da Opus Dei, não”, “do Opus Dei”, pensei. A palavra “opus” (obra) pertence ao gênero neutro no latim, e a concordância se faz no masculino. O errado não é certo, e isso é uma evidência que as vitimas do relativismo moral jamais vão entender, especialmente os partidários da enrascada dialética. “Dialética” é aquele mecanismo por meio do qual você prova que Bush é pior do que Bin Laden ou que Israel é tão terrorista quanto o Hezbollah (e isso está na revista…).

Como dizem que pertenço ao Opus Dei, pensei ser uma boa oportunidade de ter acesso aos “códigos” que me regem sem que eu mesmo saiba. O título é uma alusão ao livro O Código da Vinci, de um certo Dan Brown. Li um ou outro artigo dando conta dos erros factuais que ele cometeu sobre a “Obra”, a vilã do livro. Atravessei as sete páginas de texto da “reportagem” que levou “meses” para ser produzida. E nada!

Tudo o que havia contra a “Obra” era relatado por desafetos. Ah, sim: ficamos sabendo do desconforto da repórter com prédios que ela diz serem impecavelmente limpos e arrumados. As personagens que ela tenta envolver numa aura de mistério são pessoas cujas relações com o Opus Dei são públicas. A profecia se autocumpre: a prova de que algo de estranho acontece está no fato de a Caros Amigos não descobrir o que é. A essência das teorias conspiratórias está na ausência de provas, não na abundância delas.

Não costumo ler publicações da esquerda brasileira porque são boçais. Na Caros Amigos mesmo há uma senhora que classifica de “suposto” o seqüestro de soldados israelenses pelo Hezbollah: ela desconfia da idoneidade antiimperialista até de Hassan Nasrallah, rá, rá, rá… Depois há um artigo que atribui a Israel as perversidades do grupo terrorista libanês e um outro que “prova” que a “invasão” do Líbano é parte de um grande complô dos EUA que começou com a saída da Síria do país depois do assassinato de Hariri. Huuummm… É possível haver uma esquerda informada? Já houve. Mas tudo assumiu o padrão PT. O apedeutismo é uma legião, como o demônio.

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Com todo respeito, a reportagem é uma trapaça. A qualidade de sua apuração se revela aqui: “(…) suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer a (sic) Opus Dei como uma estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por um controverso acordo com Hitler”. 1) Pacelli era o próprio Pio 12, moça!; 2) jamais houve acordo com Hitler, muito menos “controverso”; 3) Pio 12 agiu para proteger judeus, como prova o rabino David G. Dalin no livro “The Mith of Hitler’s Pope”. Há dias, novas evidências surgiram.

A tese central da reportagem remete à idéia de que o Opus Dei faz lavagem cerebral nos seus adeptos. Claro, você pode ser, como disse Régis Debrey de Guevara, um partidário “do ódio eficaz que faz do homem uma eficaz, violenta, seletiva e fria máquina de matar”. É um estagio superior da consciência. Mas só será adepto de uma prelazia papal se for abduzido. Não sou do Opus Dei, como, aliás, sabe o Opus Dei. Mas, definitivamente, combato o opus diaboli. Agora vou caminhar.

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