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Imprensa: Jornalismo criativo prova conspiração com fonte anônima

Usar um off como evidência de uma tramoia é só exercício de jornalismo criativo — vale dizer: é picaretagem

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 24 fev 2017, 08h54 - Publicado em 24 fev 2017, 07h25

Informei na segunda-feira de manhã que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) seria o ministro da Justiça. A escolha nasce de algum acerto extracurricular, para tentar livrar a cara deste ou daquele na Lava Jato? Com a devida vênia, é bobagem.

Mais uma vez, o que mais me incomoda nessa acusação de conspiração é a ausência de meios para que tal interferência se realizasse. Vivemos dias realmente notáveis. Ninguém mais precisa demonstrar um ponto de visa com argumentos. Mesmo alguns jornalistas já se dispensam dos fatos. No limite, há um recurso que os senhores diretores de redação precisam começar a disciplinar: a declaração em off que sustenta o lead.

Não que se deva desconfiar da honestidade e da honradez deste ou daquele, mas convenham: uma mentira deslavada pode ter como evidência outra mentira deslavada, não é mesmo?

Observem as diferenças. Posso escrever: “Um interlocutor de Temer, que prefere o anonimato, diz que o novo ministro das Relações Exteriores será Fulano de Tal”. O “meu” Fulano de Tal, por exemplo, é Sérgio Amaral. A informação pode ser publicada sem risco a ninguém. Se o escolhido for outro, não há prejuízo nenhum. Mesmo o jornalista que publicou a antevisão errada pode se escorar em hipóteses razoáveis: 1) o presidente mudou de ideia; 2) o convidado recusou a oferta; 3) houve pressão política de descontentes etc.

Coisa muito distinta ocorre quando se informa que o presidente escolheu, por exemplo, um ministro para tentar, de algum modo, aplacar o ânimo de seus correligionários, que estão preocupados com a Lava Jato. De saída, há a informação, então, de uma ação deliberada.

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Ora, essa deliberação requer evidências. E é nesse ponto que o “jornalismo de bastidores” está virando exercício de prestidigitação.  Não é raro que se encontre algo assim, com suas variantes: “Sob a condição do anonimato, um deputado da base do governo diz ser preciso fazer alguma coisa”. Aí não é possível.

Mas vou ainda além ao entrar no caso em espécie. Fiquemos com Osmar Serraglio. O que ele poderia, efetivamente, fazer para interferir na Lava Jato? Resposta óbvia: ora, mudar o diretor-geral da PF. Está claro, e já estava, que isso jamais acontecerá por determinação do governo.

A propósito: a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou, nesta quinta, uma nota parabenizando Serraglio (PMDB-PR) pela nomeação. Segundo o texto, o principal desafio será “encontrar soluções para acabar com a crise generalizada de segurança pública vivida pelo país”.

Como se nota, não há a preocupação de que o novo ministro possa interferir na Lava Jato.

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Não obstante, Serraglio teve de se ajoelhar de frente para Curitiba, como em regra somos todos convidados a fazer hoje em dia, estejam os bravos rapazes certos ou errados. Em sua primeira declaração, o nomeado deixou claro que recebeu orientação expressa para se manter longe da Lava Jato — como se houvesse modo de se aproximar da coisa. E não há.

Alguém aí imagina, nos dias que correm, um ministro da Justiça a chamar o diretor-geral da PF para dizer algo como: “Olhe, precisamos dar um jeito de controlar essa operação…”?

O que mais é preciso para que fique claro que a Lava Jato não corre risco nenhum?

Usar um off como evidência de uma tramoia é só exercício de jornalismo criativo — vale dizer: é picaretagem.

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Antigamente, o off era o começo de uma investigação. Agora é ponto de chegada — e isso na hipótese de que tenha existido e de que não seja ele também puro exercício de ficção.

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