Higienópolis: Federação israelita avalia medidas judiciais após ataques na web
Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida: A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) disse nesta sexta-feira, 13, que observa com “bastante preocupação” os ataques anti-semitas desencadeados na internet com as mudanças do Metrô em Higienópolis. A associação pede aos usuários do Twitter que não repliquem nem respondam aos comentários, por entender […]
Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:
A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) disse nesta sexta-feira, 13, que observa com “bastante preocupação” os ataques anti-semitas desencadeados na internet com as mudanças do Metrô em Higienópolis. A associação pede aos usuários do Twitter que não repliquem nem respondam aos comentários, por entender que as ações ajudam na divulgação das ofensas. “Isso nos mostra que existe um antis-emitismo enraizados em algumas pessoas”, afirmou o vice-presidente da entidade, Ricardo Berkiensztat.
Ele afirma que a Fisesp está “monitorando as redes sociais” e avalia medidas judiciais para que os envolvidos nos ataques sejam punidos pela justiça, e as mensagens retiradas da internet. “Vamos seguir a legislação brasileira. Quando nos sentirmos atacados, vamos requerer uma ação da justiça, porque isso configura discriminação e racismo”, acrescenta.
Na quinta-feira, o humorista Danilo Gentili envolveu-se em uma polêmica na rede ao fazer piada com os moradores de Higienópolis. Berkiensztat, porém, disse não ver Gentili como anti-semita. “Ele tentou fazer uma piada, mas foi extremamente infeliz e irresponsável. Falar algo entre uma roda de amigos é uma coisa, mas com um milhão e meio de seguidores (no Twitter) é outra”, acrescentou. “O Holocausto é um tema muito sensível para nós, mexe com emoções e passado.”
Segundo o vice-presidente, a entidade não pensa em processá-lo. Em vez disso, quer se encontrar com o humorista. “Vamos tentar agendar um encontro com Gentili para mostrar o que o Holocausto significa para o povo judeu”, disse. Ao Estadão.com.br, o humorista afirmou que seu comentário, “de forma alguma”, foi antissemita. “Estou tão acostumado a esse ambiente de comédia que acabo estendendo-o ao Twitter. Tudo o que eu falo é para dar alegria a alguém”, comentou. Ele disse conhecer o Holocausto “dos livros de história”, mas adiantou que aceita o encontro com a federação israelita. “E, se a comunidade judaica quiser, também faço um show para eles”, concluiu.
Comento
Já escrevi aqui que a boçalidade, o preconceito, o ressentimento, o rancor e, por que não?, o anti-semitismo vêm de uma mesma matriz. A partir de matérias alopradas publicadas pela imprensa, surgidas do que chamei aqui de “pobrismo”, todas as indignidades vieram à luz. Como Higienópolis é um bairro que reúne um grande número de judeus, o anti-semitismo aflorou.
Danilo Gentili é um humorista. Sua profissão é fazer graça. O humor patrulhado pelo politicamente correto vira aula de educação moral e cívica. Mas atenção! Isso não significa que tudo lhe seja permitido — ou, para dizer de outra maneira, pode até ser, mas o humorista não está acima da lei. Se estivesse, teríamos quatro Poderes na República; Legislativo, Executivo, Judiciário e o Humorismo. E esse quarto Poder seria o único soberano. Gentili, segundo sei, num misto de jornalismo e humor, circula pelos corredores do Congresso para apontar comportamentos condenáveis dos políticos.
Ele já esteve presente ao lançamento de um livro meu. Fez graça, tentou estereotipar autor e leitores presentes, fez lá a sua onda. Respondi com pilhérias no limite do que me é possível — o humorista é ele, não eu. Por isso, ao tratar da mensagem boçal que ele postou no Twitter, não concorro de novo na área em que ele é especialista.
“Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”. Foi isso o que ele escreveu. Não dá! É inaceitável. É um comentário anti-semita, sim, Danilo. A ser verdade que tudo o que você fala “é para dar alegria a alguém”, a quem você tentava alegrar quando escreveu isso?
Reitero: o humor não é inimputável. O que vai acima agride direitos protegidos pela Constituição, e Danilo deve saber disso. Louvo, e acho positiva, a disposição de Berkiensztat para o diálogo. Não vou ficar aqui arbitrando se Gentili teve ou não uma intenção anti-semita — até acho que não, mas isso é irrelevante. Ele tem de saber que não compõe o Quarto Poder da República.
Não sei se Berkiensztat aceitará a sua oferta para um show. Não represento nenhuma entidade judaica. O que sei é que os judeus não precisam de shows gratuitos; precisam é de respeito. Tenho pra mim que sua oferta busca banalizar o peso de seu agravo.
Gentili é um bom humorista. Precisa tomar cuidado para não ser engolido pela piada; mas isso é com ele.