GOLPE E SURREALISMO: QUANDO AS PALAVRAS DIZEM O CONTRÁRIO DA INTENÇÃO
Estamos mergulhados num ambiente de puro surrealismo. A Folha Online produziu nesta quinta um parágrafo que há de entrar para a história. Leiam: “Zelaya foi derrubado do poder no último dia 28 em um golpe orquestrado pela Justiça e pelo Congresso e executado por militares, que o expulsaram para a Costa Rica. O golpe foi […]
Estamos mergulhados num ambiente de puro surrealismo. A Folha Online produziu nesta quinta um parágrafo que há de entrar para a história. Leiam:
“Zelaya foi derrubado do poder no último dia 28 em um golpe orquestrado pela Justiça e pelo Congresso e executado por militares, que o expulsaram para a Costa Rica. O golpe foi realizado horas antes do início de uma consulta popular sobre uma reforma na Constituição que tinha sido declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema. “
Deve ser o primeiro “golpe” da história da humanidade desfechado pela união do Judiciário com o Legislativo – os militares, claro, foram o braço operativo. Aí alguém poderá dizer: Pô, Reinaldo, em tese ao menos, Congresso e juízes podem dar golpes”. É, em tese, podem, vá lá. Mas voltem às ultimas palavras do trecho destacado: a consulta ” tinha sido declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.” Se tinha e se Zelaya insistiu nela, dando ordem aos militares para que desobedecessem o Congresso e a Justiça, quem, então, estava tentando dar um golpe?
Por que estamos no território do surrealismo? Porque o significado se divorciou do significante. As palavras, na ordem em que ali estão, dizem uma coisa, mas a intenção é dizer outra. Acima, o que se tem é a exposição clara de que Zelaya é o golpista, mas são acusados de desfechar um golpe aqueles que o contiveram.
Quem redigiu aquele parágrafo não foi uma pessoa. Foi uma época.