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Estado Islâmico, homem-célula e terror como um fenômeno cultural

Por incrível que pareça, por estupefaciente que seja, o EI se tornou um fenômeno de comunicação, que atrai, inclusive, milhares de jovens do e no Ocidente

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h05 - Publicado em 20 dez 2016, 23h08
Caminhão usado pelo terrorismo para atingir pessoas numa feira de Natal, em Berlim (Fabrizio Bensch/Reuters)
Caminhão usado pelo terrorismo para atingir pessoas numa feira de Natal em Berlim (Fabrizio Bensch/Reuters) ()

Sim, foi um ataque terrorista aquilo que se viu em Berlim, com um saldo de 12 mortos e 48 feridos. Parece claro o que aconteceu: no banco de passageiros do caminhão que foi jogado contra a população, estava o corpo do polonês Lukasz Urban, de 37 anos, com tiros e facadas. O terrorista sequestrou Lukasz, matou-o, tomou a direção do veículo e cometeu a enormidade, repetindo o modus operandi de Nice.

O Estado Islâmico, que vê diminuir o seu espaço, reivindicou a autoria do atentado. Um primeiro suspeito preso, um homem que chegou à Alemanha na recente onda de imigrados, foi solto. A polícia não conseguiu provar a sua vinculação com o atentado.

Mas terá sido mesmo o Estado Islâmico? Por incrível que pareça, e para má sorte do mundo, um pergunta tão clara como essa já não comporta uma resposta simples. Ainda que não, pode-se dizer que “sim”. O que isso quer dizer?

A Al Qaeda inaugurou o modelo do terrorismo em rede, que não obedecia a um comando central. Bastava — e basta ainda; a rede existe — que um grupo se organizasse e demonstrasse algum poder de, literalmente, fogo, para que passasse a ser um elo na corrente da irmandade terrorista.

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O Estado Islâmico trouxe uma atomização ainda maior, já observei aqui certa feita. Agora só é necessário o “homem-célula”. Sim, é o terrorismo em rede, mas, para horror dos horrores, nesse caso, estamos falando mesmo é da rede mundial de computadores. Por incrível que pareça, por estupefaciente que seja, o Estado islâmico se tornou também um fenômeno de comunicação, que atrai, inclusive, milhares de jovens do e no Ocidente.

É asqueroso ter de constatar, mas estamos diante também de um fenômeno cultural. A imbecilidade extremista do grupo seduz aqueles que não toleram os matizes, a complexidade do mundo, as incertezas. Daí que tantos jovens sejam abduzidos por aqueles horrores.

Mais ainda: os métodos a que recorrem os filhos espirituais do Estado Islâmico desafiam os serviços de inteligência porque já não se trata apenas de ter de rastrear armas ou explosivos. Um caminhão pode ser uma arma. Ou uma panela com pregos.

É por essa razão que devemos ter muito cuidado, no Brasil ou em qualquer lugar, com aqueles que dizem falar em nome do bem, do belo e do justo e que não aceitam que suas ideias sejam jamais contraditadas, sem que pese sobre o adversário a suspeita de sabotagem. Ainda que em escala brutalmente menor, o Brasil já passou por isso e não pode repetir o erro.

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Volto ao ponto. Ao se referir ao atentado, a chanceler Angela Merkel expressou aquele que é seu maior temor político: que haja mesmo imigrantes da leva recente entre os promotores do atentado.

Se isso aconteceu, é sua própria política de tolerância que estará em xeque. E a consequência imediata será o crescimento da repulsa, que hoje já atinge camadas consideráveis do povo alemão, à entrada de imigrantes.

Este, aliás, é o outro efeito deletério de uma brutalidade como a que se viu em Berlim: os imigrados inocentes, que já chegam sem nada de seu, que deixaram para trás uma vida e uma história, que já despertam uma natural desconfiança, ainda têm de arcar com o peso adicional da suspeita.

A tragédia é maior do que parece.

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