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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Em palestra nos EUA, Chalita compara as favelas do Rio à costa grega, que atrai os milionários. Entendi: a Rocinha, um dia, será Mykonos!

Estava sem Internet! Alô, Telefonica! Tá tudo bem por aí? Desde ontem, o Sppedy está uma porcaria! * Poucos políticos são tão apaixonados por si mesmos e falam tanta bobagem quanto o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo. Atrás daquela fala doce, daquele discurso cute-cute, estão Michel Temer, José […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h21 - Publicado em 9 mar 2012, 16h43

Estava sem Internet! Alô, Telefonica! Tá tudo bem por aí? Desde ontem, o Sppedy está uma porcaria!
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Poucos políticos são tão apaixonados por si mesmos e falam tanta bobagem quanto o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo. Atrás daquela fala doce, daquele discurso cute-cute, estão Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros e patriotas do mesmo jaez. Leio na Folha que ele deu uma palestra para brasileiros e latinos em Nova York e que elogiou políticas do PT e criticou o pré-candidato tucano José Serra. Não me digam! Mas qual é o lead? Ah, encontrei: Chalita comparou as favelas brasileiras com a costa turística da Grécia. Santo Deus! É provável que Chalita esteja indo muito a Mykonus e pouco à Rocinha. No mundo ideal, todo político deveria ter direito a uma TMB (Taxa Mensal de Besteira). Esgotou, acabou. Só voltaria no mês seguinte. Num momento de rasgo poético, delirou:
“Algumas favelas se localizam nas áreas mais bonitas da cidade, então as pessoas estão comprando esses barracos e transformando em casas. Analistas dizem que várias dessas favelas estão parecendo com a Grécia pela beleza do oceano, pela montanha e [por] como as casas vão ficando bonitas.”

Um sonho de Chalita - Um dia a Rocinha será assim, como Mykonos, na Grécia! É só a gente amar!

Um sonho de Chalita – Um dia a Rocinha será assim, como Mykonos, na Grécia! É só a gente amar!

 

Que coisa mais bilu!!! Que “pessoas” estão comprado? Quais “analistas” dizem? Para onde estariam indo os que vendem os barracos? Que importa? É Chalita! Ele não está aqui para explicar nada. Seu negócio é fabricar metáforas. Se duvidar, chega em casa e escreve um livro sobre o assunto.

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Do mesmo partido do governador Sérgio Cabral, do Rio, Chalita também falou da necessidade de melhorar a segurança de São Paulo. E usou como exemplo virtuoso a cidade do Rio. É uma agressão estúpida, ainda que com bico doce, àquele que vive elogiando para ver se leva a cizânia ao PSDB: o governador Geraldo Alckmin. São Paulo é hoje a capital com o menor número de homicídios por cem mil habitantes — abaixo de 10. No Rio, é quase o triplo.

Na palestra, voltou a falar de sua origem pobrezinha… Seu passado é um verdadeiro “work in progress”. Ele é um pouco confuso sobre o seu passado. Escrevi a respeito em março do ano passado. Ora foi um pobre menino que vendia geladinho em estádio de futebol para sobreviver, ora recebeu uma fabulosa fortuna do pai, o que lhe permitiu comprar uma cobertura no bairro de Higienópolis de 1.000 m² — que teria deixado uma banqueira (dona de banco mesmo!) de queixo caído: “Nem eu tenho uma assim”.

Chalita é um gênio. Em 11 anos, seu patrimônio cresceu 1.925%, mais do que dobrou (crescimento de 115%) só entre 2008 e 2011. No ano passado, a VEJA tentou saber como se operou este milagre.Vejam o que conseguiu. Seguem trechos da reportagem de Fernando Mello então publicada.
*
Esso, esso, esso, Gabriel Chalita é um sucesso. Na literatura, ele é tão prolífico que deixa na lanterna gigantes como Machado de Assis e Honoré de Balzac. Machado produziu 38 obras em 69 anos de vida e o novelista francês, 89 em 51 anos. Chalita já deixou os dois para trás: aos 42 anos, publicou 54 títulos, todos com um estilo marcado pelo forte apego às frases feitas e por um fraquinho pelos diminutivos. Como político, sua trajetória não tem sido menos espetaculosa: eleito vereador aos 19 anos por Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, ele se tornou o terceiro deputado mais votado do Brasil no ano passado, logo atrás do palhaço Tiririca. Hoje, é pré-candidato a prefeito de São Paulo.
(…). A controvérsia e a incógnita marcam as duas faces do deputado e escritor.

Saber, por exemplo, quantos livros Chalita vendeu é uma tarefa árdua. Perguntado, o escritor responde sempre: “Pelos meus cálculos, foram uns 10 milhões”. A marca o colocaria à frente de J.K. Rowling, autora da série Harry Potter (3,6 milhões de exemplares vendidos no Brasil), e próximo de Augusto Cury, fenômeno editorial da década (11 milhões de livros vendidos desde 2002). A pedido de Chalita, suas editoras também não divulgam os seus números de venda. Uma espiada nas planilhas da rede de livrarias Saraiva, no entanto, autoriza a suspeita de que o cálculo não é o forte de Chalita. Considerada um termômetro do mercado editorial, a Saraiva negociou apenas 70.000 exemplares do autor nos últimos três anos.

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Se não é bom com números, Chalita tampouco consegue ser preciso em suas citações. No ano passado, ao reeditar “Cartas entre Amigos” – escrito em parceria com o padre Fábio de Melo, seu amigo do peito -, a editora Globo teve de extirpar da versão original duas passagens erroneamente atribuídas a Machado de Assis e Cora Coralina. Infelizmente, para os leitores do deputado, outras escaparam aos olhos dos revisores. Usuário obsessivo do Twitter, Chalita escreve mensagenzinhas a cada quinze minutinhos, em mediazinha. São, em geral, frases de conteúdo “literário-filosófico”, como ele gosta de classificá-las, algumas vezes retiradas de seus próprios livros (“Eu te amo”. Se tiver dúvida, não diga. Se tiver certeza, não economize” ou “Matérias-primas de que somos feitos são duas, paradoxalmente duas: pó e amor! O pó nos iguala. O amor nos identifica”). Sem maldade, pessoal: o pó de Chalita é, no máximo, o de pirlimpimpim.

O deputado não bebe e não sai muito à noite, mas é festeiro à sua moda. Gosta de celebrar cada compra de um imóvel ou reforma de apartamento. Em 2004 (…), convidou seis assessores para uma “inauguração-surpresa” em seu dúplex no bairro de Higienópolis. “Quando chegamos lá, soubemos que a inauguração era da nova banheira de hidromassagem dele”, conta um dos convidados. Vestido com um robe de chambre, Chalita levou o grupo à sua suíte. onde a banheira estava instalada. Lá, anunciou que iria mostrar “como se banha um homem de estado”. Em seguida, tirou o robe e, tchibum-tchibum, de sunga, deslizou para dentro d”água. Para sua decepção, um curto-circuito impediu o funcionamento da hidromassagem e pôs um fim abrupto à celebração.

Católico, Chalita conta que na juventude queria ser padre, mas, com a entrada na política, trocou a batina pelo terno (hoje, ele prefere os Armani). Vaidoso, orgulha-se da “barriga tanquinho”, conquistada à base de muuuita malhação. Um assessor que ele considerou “fora de forma” já teve de acompanhá-lo em uma de suas habituais caminhadas aceleradas de 5 quilômetros em São Paulo – e nem o fato de estar trajando roupa e sapatos sociais o salvou da vigorosa experiência estética.

Na política, guardadas as devidas proporções, Chalita troca de partido quase com a mesma frequência com que lança um livro novo. Até agora, foram três mudanças de sigla. Começou no PDT, foi para o PSDB, passou pelo PSB e acaba de filiar-se ao PMDB. Trata-se de uma união de mútuas e significativas vantagens, em que o deputado já chega com status de pré-candidato a prefeito da maior cidade do país e na qual o PMDB poderá ganhar do PT e do governo federal algo que o interesse – e todo mundo sabe que algo é esse – em troca da desistência da candidatura Chalita.
(…)
Os 741.000 reais em bens que declarava possuir em 2000 transformaram-se em 7 milhões de reais em 2008 e hoje chegam a 15 milhões, uma variação de 1925%. Chalita atribui a prosperidade galopante às palestras que ministra pelo Brasil, aos 10 milhões de livros que “estima” ter vendido e ao “salário impressionante” que recebeu como diretor de escolas e professor de faculdades particulares até o fim da década de 90 (“Uns 20.000 dólares mensais, pelos meus cálculos”). O dúplex onde ele mora em São Paulo está avaliado em 6 milhões de reais. Tem 1.000 metros quadrados, piscina coberta com teto retrátil, oito vagas na garagem e uma academia de ginástica, montada com a orientação de Fabio Sabá, seu ex-personal trainer alçado a secretário adjunto de Educação de São Paulo quando Chalita era titular da pasta.

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Há um mês, ele adquiriu um novo apartamento, também no bairro de Higienópolis. A compra do bem lhe custou 4,5 milhões de reais e foi paga à vista. Para fechar o negócio, nem precisou vender seus outros dois imóveis (além do dúplex, tem um apartamento no Rio de Janeiro, cujo preço é 1,5 milhão de reais). Como conseguiu a façanha? “Vendi um apartamento que eu tinha em Santos”, explicou, com a tinta da melancolia no semblante. O flat negociado pelo deputado valia 200.000 reais no ano passado. Como conseguiu multiplicar esse capital por vinte é só mais um dos mistérios de Chalita. Ele é a Capitu da política brasileira.
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