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Duas mulheres. Uma é viciada em crack, a outra, em trabalho

Vejam esta foto de Luiza Sigulem, da Folhapress, publicada na Folha Online. Volto em seguida. À esquerda, vocês vêem Desirée Mendes Pinto, 35, grávida de quatro meses, viciada em crack e presa, pela quinta vez!, traficando a pedra. À direita, sua sogra, a faxineira Teresa Beatriz Viega, 68, cujas mãos e cuja idade sugerem ser […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h43 - Publicado em 19 jan 2012, 15h23

Vejam esta foto de Luiza Sigulem, da Folhapress, publicada na Folha Online. Volto em seguida.

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À esquerda, vocês vêem Desirée Mendes Pinto, 35, grávida de quatro meses, viciada em crack e presa, pela quinta vez!, traficando a pedra. À direita, sua sogra, a faxineira Teresa Beatriz Viega, 68, cujas mãos e cuja idade sugerem ser viciada em… trabalho! Teresa, informa o jornal, estava à procura de Desirée para lhe oferecer ajuda. Ao saber da prisão da nora, desabafou, pensando no neto: “Ao menos na cadeia ela vai se alimentar melhor”. Na cadeia também está seu filho, João, o pai da criança, que é soropositivo. A reportagem de Emilio Sant’Anna e Afonso Benites está aqui.

Por que Desirée e o marido vivem nesse desvario, e Teresa, aos 68, faz faxina para sobreviver? Eis uma boa questão. Boa parte da imprensa, dos especialistas e dos poetastros que tratam do assunto gosta de fazer digressões sobre as razões do desvio, da adesão ao crime, da decadência. Mas pouco se investigam os motivos por que a esmagadora maioria dos pobres — A ESMAGADORA MAIORIA, ENTENDEM? — faz como Teresa: trabalha para sobreviver, enfrenta as dificuldades que a vida oferece — e toda vida é, a seu modo, difícil — e não se droga. Ao contrário: vemos ali uma senhora já idosa, trabalhadora, asseada, disposta a percorrer a cracolândia porque preocupada com a nora e com o neto que vai nascer.

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Aonde quero chegar? As pessoas se drogam pelos mais variados motivos. Ricos infelizes podem recorrer a substâncias químicas, legais e ilegais, para enfrentar seu sofrimento. O mesmo pode acontecer com os pobres. Os que têm dinheiro acabam se tornando meio invisíveis — embora alguns acabem nas sarjetas, mas estimo que sejam casos excepcionais. Os pobres, dados, até havia pouco, a tolerância do Poder Público com as drogas e o discurso irresponsável dos proxenetas e cafetões morais dos viciados, começaram a se juntar nas cracolândias.

Não pode existir nas cidades um local com aquelas características, em que doentes — admitamos que os viciados são doentes — convivem com os fornecedores da causa de sua doença! A verdadeira violência, é evidente, não está na ação da polícia, mas na tolerância cruel. O que pode haver de mais desumano do que admitir a existência de um Vale dos Caídos, em que pessoas são tratadas como dejetos? O padre Júlio Lancelotti celebrou outro dia o escárnio que foi a tal churrascada na cracolândia porque viu ali a saudável convivência entre os diferentes. Não ocorreu à sua teologia belzebu que os “descolados” que foram lá fazer proselitismo podiam voltar para o conforto de suas casas. Os zumbis não tinham a opção de voltar para a vida.

Sim, é preciso, sim oferecer tratamento aos viciados, tomando, no entanto, o cuidado para que não se crie a indústria do vício. Escrevi aqui dia desses que não se pode aplicar um método Pavlov às avessas, como parece querer o Ministério Público naquele texto inacreditável em que anuncia a abertura do inquérito civil para investigar eventuais violações de direitos na cracolândia. O estado não pode ser babá de viciado, de modo a recompensá-lo sempre com contínuos agrados.

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O trabalho de prevenção — é uma questão de lógica elementar — chama-se “repressão”. O tráfico e o consumo de drogas não podem ter nenhuma forma de compensação. Por essa razão, a internação compulsória do viciado tem de estar no horizonte das autoridades que cuidam do assunto. Se a sociedade vai arcar com o custo do tratamento de quem insistiu em fazer escolhas erradas ou de quem, por qualquer razão, não pode escolher, tem de fazer também as suas exigências. Viciados não caem da árvore da vida, não são uma variante, sei lá, cultural, que tem de ser tolerada. O custo é muito alto. As donas Teresas, que compõem a maioria dos pobres do Brasil, também requerem atenção.

O governador Geraldo Alckmin diz não haver prazo para a PM deixar a cracolândia. Que não haja mesmo! Cracolândias, em São Paulo ou em qualquer lugar, nunca mais! Os supostos defensores dos direitos humanos que criticaram a ação da polícia confundem esses pobres desgraçados com rebeldes que contestam o sistema. É uma perspectiva estúpida e cruel. O sistema não está nem aí para eles, nem eles para o sistema. Impedir que se reúnam no Vale dos Desgraçados é que é expressão do humanismo. A Polícia Militar finalmente se interessou por eles. Os vigaristas ideológicos só os queriam como expressão da diversidade. E, como se viu, já aproveitaram para cuidar da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

Aliás, espalhem esta também: Haddad, a exemplo de Gabriel Chalita, atacou a ação da polícia.

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