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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Deltan junto com o PT: impeachment só queria golpear a Lava Jato

Tese é desrespeitosa com a verdade e com os movimentos pró-impeachment, que, não obstante, tocam flauta para ele de joelhos. Bingo! Lacrei mais uma!

Por Reinaldo Azevedo
Atualizado em 27 abr 2017, 08h09 - Publicado em 26 abr 2017, 21h29

Ah, nada como um dia atrás do outro, não é mesmo? Achou um clichê, querido leitor? Pois é… Às vezes, só mesmo uma obviedade ululante dá conta de uma burrice ululante.

Se vocês entrarem em páginas de alguns dos movimentos que apoiaram o impeachment, encontrarão lá verdadeiras odes — na maioria das vezes, na forma semiágrafa de memes — a Deltan Dallagnol, o cavaleiro impoluto. É… Talvez isso ajude a explicar a irrelevância na qual tais grupos mergulharam, solapados que foram pela guerra empreendida pela esquerda — que está errada, mas não é burra.

Oh! Quanta porrada tomei quando afirmei que a militância do MPF estava ressuscitando a esquerda! Ah, de quantos xingamentos fui alvo quando acusei a direita xucra de estar armando a mão do inimigo.

Houve até um buldoguezinho babão, que nunca ganhou a vida com o suor do próprio rosto, que decretou, ora vejam, a minha morte! É, ele disse que eu estava acabado…  Afinal, eu me atrevia a criticar o Ministério Público Federal! Que crime!

Mais um clichê de um tempo que já não há: “Parem as máquinas”. Deltan, o Numinoso, está lançando um livro. Chama-se “A Luta Contra a Corrupção – A Lava Jato e o futuro de um país marcado pela impunidade”. Na capa, o autor com cara de herói, olhando o futuro, numa foto artificialmente granulada, com apelo antigo. Sim, ele já está em nosso panteão.

Pé no traseiro dos movimentos pró-impeachment
Deltan dá um pé no traseiro dos movimentos pró-impeachment e adota a tese dos petistas, muito especialmente de Dilma, segundo a qual o impedimento da agora ex-presidente foi só uma tentativa de barrar a Lava Jato. Logo, o modo que havia de não praticar tal desatino seria, ora vejam, ter lutado contra o impeachment.

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Conclui-se, pois, que os grandes heróis em favor da continuidade da Lava Jato foram Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Vanessa Grazziotin. Além, claro!, de José Eduardo Cardozo e do PT, como um todo. Afinal, eram contra o impeachment.

Escreve Dallagnol:

Em 12 de maio de 2016, o clima de instabilidade política levaria ao afastamento provisório da presidente Dilma pelo Senado Federal, mas não seria capaz de parar a Lava Jato. Ainda que esse fosse o plano. Apenas 11 dias depois, veio a público a gravação de uma conversa de março entre Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, e Romero Jucá, recém-empossado ministro do Planejamento e um dos principais líderes do PMDB”.

Não sabia?
Você não sabia, leitor? Você, que atendeu ao chamamento de movimentos favoráveis ao impeachment, estava sendo apenas um inocente útil de movimentos que, inocentes e inúteis, serviam ao propósito de parar a Lava Jato!

Como autor, este senhor é um mistificador. Ora vejam… Como, em março, Jucá havia falando em “estancar a sangria” — e, em nenhum momento, está ao menos sugerido que isso implicaria parar a Lava Jato —, então o afastamento de Dilma, em maio, só poderia fazer parte daquele plano. É tão estúpido que nem errado está.

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Mais: ele omite, nesse trecho ao menos, que Machado já estava trabalhando para o Ministério Público Federal e, portanto, industriando as suas conversas — isto é: buscava fazer com que os interlocutores atacassem a operação.

Fator Sergio Moro
Há algo ainda mais estupefaciente. Até as pedras sabem que o que ressuscitou as ruas — e isto foi fundamental para formar a maioria no Congresso em favor do afastamento de Dilma — foram os grampos das conversas entre Lula e Dilma, que Sergio Moro decidiu divulgar, ao arrepio da lei, note-se. Quem chamou a divulgação de ilegal? Teori Zavascki.

Justiça se faça: em parte, o impeachment se deve àquela decisão ilegal de Moro, não é mesmo? Por uma questão lógica “deltânica”, o juiz, então, atuava contra a Lava Jato, já que favorecia o impeachment.

A tese é uma insanidade. Mas não me surpreende. Sobretudo porque tenho tutano e sei o que escrevo.

Na Folha de 17 de julho de 2015, escrevi uma coluna intitulada “Os filhos do PT comem seus pais”.

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Ela segue abaixo. Eu demonstrava o que havia é há de comum entre os fanáticos da Lava Jato — a turma que chamo TFPT — e o espírito do PT dos anos 80. A similaridade de pensamento, de comportamento, de visão de mundo não poderia resultar em outra coisa: Dallagnol e o PT acham que o impeachment de Dilma era, na verdade, uma forma de tentar pôr fim às investigações.

Bem feito para os que se ajoelham diante de Dallagnol e tocam flauta em sua homenagem.

Não é possível que não sintam ao menos um pouquinho de vergonha. Opa! É possível, sim. Há pessoas que nascem sem certas enzimas. Por que não poderiam nascer destituídas de vergonha na cara? Cérebro também é química.

Abaixo, o que escrevi há quase dois anos.

Escrevo para que o tempo se encarregue de dizer se erro ou acerto. Não para ganhar curtidas de imbecis.

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*

Que a Petrobras tenha se transformado num antro de bandidos, eis uma evidência. Pedro Barusco, o gerente de Serviços, peixe médio, aceitou devolver US$ 97 milhões. Isso a que chamamos “petrolão” reúne, sem dúvida, uma penca de ações criminosas. Mas será mesmo necessário violar a legalidade para cassar corruptos? A resposta é “não!”.

Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal, cada um por seu turno e, às vezes, em ações conjugadas, têm ignorado princípios básicos do Estado de Direito. Não é difícil evidenciar que prisões preventivas têm servido como antecipação de pena. Basta ler as petições dos procuradores e os despachos do juiz Sergio Moro para constatá-lo. Mandados de busca e apreensão, como os executados contra senadores, um ano e quatro meses depois de iniciada a investigação, são só uma exibição desnecessária de musculatura hipertrofiada do poder punitivo do Estado. O desfile dos carrões de Collor –que nem ouvido foi– excita desejos justiceiros, não de Justiça. Estão tentando transformar Dora Cavalcanti, defensora de Marcelo Odebrecht, em ré.

Delações premiadas exibem contradições inelutáveis entre os autores e versões antagônicas de um mesmo delator. Parece estar em curso uma espécie de “narrativa de chegada”. A cada depoimento, ao sabor de sua conveniência, as personagens vão ajustando a sua história. Acumulam-se riscos de anulação de todo o processo, o que seria péssimo para o país.

Infelizmente, procuradores, policiais e juiz parecem não se contentar em fazer a parte que lhes cabe na ordem legal. Mostram-se imbuídos de um sentido missionário e doutrinador que vai muito além de suas sandálias, daí as operações e fases receberem nomes esdrúxulos e impróprios como “Erga Omnes” e “Politeia”. Politeia? Quem quer viver na Coreia do Norte de Platão? Eu não quero!

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Um dos doutores do MP disse em entrevista ser necessário refundar a República. Moro aventou a hipótese de soltar um empreiteiro em prisão preventiva desde que sua empresa rompesse todos os contratos com o poder público, uma exigência que acrescentou por conta própria ao Artigo 312 do Código de Processo Penal. Em petições e despachos, há reptos contra o… lucro!

Os filhos do PT comem seus pais. Chegou a hora de a companheirada se tornar vítima de seus religiosos fanáticos, formados nas escolas de direito contaminadas por doutrinadores do partido e esquerdistas ainda mais obtusos. É uma pena que não só os petistas paguem o pato. Esses vetustos jovens senhores são crias de exotismos como “direito achado na rua”, “combate ao legalismo”, “neoconstitucionalismo” e afins, correntes militantes que consideram a letra da lei o lixo dos “catedraúlicos”, pecha que um desses teóricos amalucados pespegava em juízes que insistiam em se ater aos códigos.

O PT de 2015 está experimentando a fúria dos “savonarolas” que criou. Eles se sentem fazendo um trabalho de depuração. E podem, com o seu ativismo, pôr tudo a perder. Os corruptos vão aplaudir a sua fúria.

Rui Falcão se traiu e, num ato em defesa do mandato de Dilma, afirmou: “É isso que eles pretendem fazer agora: expelir a Dilma dentro de um processo democrático”. Huuummm… Troco o verbo “expelir” por um sinônimo mais afeito à política: “depor” fica bem. No mais, Falcão está certo. Boa parte do país quer mesmo “depor Dilma dentro de um processo democrático”.

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