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Ainda sobre o professor Vesentini e a “Geografia Crítica”

Tenho publicado os comentários dos que acham que errei a mão com o professor José William Vesentini (ver notas abaixo), da Geografia da USP. Não, eu não acho. Ter dado destaque a suas críticas a mim não quer dizer que concorde necessariamente com elas. Não consigo, evidentemente, tratar de todos os assuntos, e ele não […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h23 - Publicado em 13 jun 2007, 02h37
Tenho publicado os comentários dos que acham que errei a mão com o professor José William Vesentini (ver notas abaixo), da Geografia da USP. Não, eu não acho. Ter dado destaque a suas críticas a mim não quer dizer que concorde necessariamente com elas. Não consigo, evidentemente, tratar de todos os assuntos, e ele não está entre as minhas prioridades. Na fila dos que merecem chineladas, há muita gente na frente. Mas não poderia deixar de dar relevo à contribuição do geógrafo Luis Lopes Diniz Filho, conforme segue.

Sou geógrafo e já fui aluno de Vesentini na graduação, isso há uns 20 anos. Pelo que conheço de suas idéias e de sua obra, tenho os seguintes comentários a fazer:

1- Que eu saiba, Vesentini nunca foi militante de partido algum, mas lembro-me muito bem de que ele se declarava simpatizante do PT na época em que fui seu aluno. Mesmo sendo profundamente crítico da democracia representativa, Vesentini justificava sua simpatia pelo PT com o argumento de que “nos países do Terceiro Mundo, a forma ‘partido’ ainda é importante” (estou citando de memória, é claro). É possível que ele tenha deixado de simpatizar com o PT de lá para cá, mas seria importante ter destacado isso em sua resposta, se for mesmo o caso.

2- Em suas aulas, assim também como em trabalhos acadêmicos, Vesentini conferiu uma importância central à categoria “luta de classes”, embora criticasse a forma como os marxistas a definem. Segundo ele, as classes sociais não devem ser entendidas como funções dentro do processo de acumulação de capital, mas sim como agentes sociais que se definem na prática das lutas políticas. Daí ele afirmar que, no Brasil, os militares constituem uma classe (!), assim também como os estudantes insurretos da Coréia do Sul (isso foi nos anos 80).

3- Vê-se, então, que Vesentini, embora antimarxista ferrenho, é um anticapitalista igualmente ferrenho, já que seus referenciais teórico-metodológicos provêm da esquerda não-marxista: Merleau-Ponty, Foulcault, Castoriadis e Clastres, entre outros.

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4- Por seu anticapitalismo, acabou por fazer coro a muitas das críticas marxistas à sociedade capitalista, conforme eu já destaquei num artigo: “[…] é inegável que esse autor, coerentemente com sua postura metodológica eclética, trabalhou com vários conceitos e teorias marxistas e chegando a conclusões que, paradoxalmente, coincidem à perfeição com aquelas desenvolvidas pelas vertentes mais ortodoxas do marxismo. Isso fica nítido no uso que faz do conceito de ideologia como ‘falsa consciência’ da realidade vinculada aos interesses das ‘classes dominantes’ e na tese de que a constituição dos sistemas nacionais de ensino teria por objetivos ‘assegurar a hegemonia da burguesia […] e a reprodução do capital’, além da função econômica de absorver ‘parte do exército de reserva, segurando contingentes humanos ou jogando-os no mercado de trabalho, de acordo com as necessidades do momento’ (VESENTINI, 1985, p. 54)”. DINIZ FILHO, L.L. A Geografia Crítica brasileira: reflexões sobre um debate recente. Revista Geografia, Rio Claro (SP), v. 28, n. 3, p. 307-322, 2003.

5- Essa visão anticapitalista aparece também nos seus livros didáticos. Vejamos este exemplo: “Por ser um sistema sócio-econômico voltado para o lucro, com a produção de mercadorias, o capitalismo cria nos indivíduos uma mentalidade competitiva, voltada para a disputa. E, para a maioria das pessoas, assim como para as empresas capitalistas, o importante não é o que é bom para todos ou o que é justo, e sim o que lhes dará lucros mais rapidamente, mesmo que a longo prazo isso traga conseqüências negativas para a Humanidade”. VESENTINI, J. W. Brasil: sociedade e espaço – geografia do Brasil. 26ª ed. SP: Ática, 1996, p. 269.

6- Esse exemplo mostra que Vesentini não é totalmente fiel à idéia de que “ensinar a pensar criticamente” significa mostrar ao aluno diferentes visões da realidade e dar a ele instrumentos intelectuais para refletir sobre elas. Nos trabalhos dos geógrafos críticos, entre os quais está Vesentini, a noção de “ensino crítico” é contraditória, pois significa ensinar a pensar criticamente e, ao mesmo tempo, inculcar nos alunos determinadas visões críticas da sociedade capitalista.

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7- Essa visão não parece ter mudado nas edições mais recentes do seu livro, conforme se lê em artigo publicado no site https://www.escolasempartido.org.

Em que pesem essas críticas, quero congratular Vesentini por se opor à invasão da reitoria da USP e por haver orientado uma tese na qual fica demonstrado que não existe ensino crítico em Cuba. Isso é importante, considerando-se que a grande maioria dos geógrafos brasileiros simpatiza com a ditadura de Castro.

A propósito, eu era simpatizante do PT na graduação e já me considerei parte da Geografia Crítica. Rompi com as duas correntes há anos.

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