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A ERA DA BOÇALIDADE

Escrevi ontem sobre a interpelação que o PT decidiu fazer ao tucano José Serra por conta da afirmação de que Dilma Rousseff, sua adversária,  tinha “responsabilidade” na armação do tal dossiê e na operação que estava destinada, segundo um delegado que integraria o grupo dos novos aloprados, à espionagem, inclusive com escuta telefônica. O PT, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h07 - Publicado em 8 jun 2010, 05h01

Escrevi ontem sobre a interpelação que o PT decidiu fazer ao tucano José Serra por conta da afirmação de que Dilma Rousseff, sua adversária,  tinha “responsabilidade” na armação do tal dossiê e na operação que estava destinada, segundo um delegado que integraria o grupo dos novos aloprados, à espionagem, inclusive com escuta telefônica. O PT, como está claro no documento, tem algumas curiosidades transcendentais, a saber: o que Serra quer dizer com “dossiê”?; que sentido atribui à palavra “bunker”? Pelo visto, a interpelação pode se transformar numa espécie de “Escolinha do Professor Serra”. Abordagem jocosa à parte, há um trecho da interpelação que chega a assustar em razão do cinismo. Constitui em si mesmo um escândalo.

Ao analisar os motivos que teriam levado Serra a fazer aquela afirmação, a interpelação do PT resolveu fazer uma leitura do resultado das eleições de 2006, recontando assim o passado. Leiam:

“Ao acusar Dilma, Serra tenta desestabilizar a campanha petista, a exemplo do que ocorreu em 2006, quando a candidatura de Aloizio Mercadante ao governo paulista foi abatida em meio ao escândalo dos aloprados. A idéia é reeditar o clima de 2006. Até hoje, tucanos creditam a vitória fácil de Serra em 2006 à descoberta de uma operação para compra de dossiês contra o partido. A aparição de dinheiro destinado à compra também beneficiou Geraldo Alckmin, então candidato ao Planalto.”

O leitor não se assuste que não terá cometido nenhum erro de interpretação. A interpelação petista quer dizer rigorosamente o que vai acima: Serra estaria atuando de modo similar ao que fez em 2006, quando, segundo o documento, “a candidatura de Mercadante foi abatida em meio ao escândalo dos aloprados”. Observem que o texto não contesta que o tal escândalo tenha existido. Ao contrário: chega a lembrar que o próprio Lula batizou aquela canalha de “aloprados”, embora pertencessem quase todos à sua cozinha política e à sua churrasqueira moral.

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Se Serra atua, pois, segundo o próprio PT, do modo como atuou em 2006, então é porque as circunstâncias se repetem. Como, naquele caso, comprovou-se uma armação de petistas para abater a sua candidatura, é forçoso concluir que ela se repete agora. É mentira, evidentemente, que Mercadante tenha sido “abatido” por aquele episódio — ele foi abatido pela falta de votos mesmo! —, mas digamos que tivesse sido como dizem. Pergunto: qual teria sido, para esses valentes, o comportamento razoável de Serra em 2006? Qual seria o comportamento razoável agora?

A interpelação é um documento precioso de um tempo da política brasileira, em que aos petistas tudo é permitido, inclusive posar (oi, Emir Sader!) de vítimas enquanto confessam abertamente um crime. Eles não negam as ações dos “aloprados”, como se pode constatar. Mas insistem na tecla de que foram os principais prejudicados. A tese fabulosa é a seguinte (exposta em primeira pessoa):
1 – nós, petistas, tentamos mesmo armar contra eles em 2006;
2 – deu tudo errado;
3 – a gente quebrou a cara, e nosso candidato ao governo de São Paulo se deu mal;
4 – a gente acha que Serra acabou beneficiado;
5 – logo, isso nos torna vítimas e inocentes e faz do tucano o beneficiário indireto da nossa ação destrambelhada, o que é expressão de sua… culpa!

E o que dizer deste trecho: “A aparição de dinheiro destinado à compra também beneficiou Geraldo Alckmin, então candidato ao Planalto.? A “compra”, pois, segundo os advogados do PT, estava mesmo decidida. Onde já se viu mostrar o dinheiro? Foi uma grande injustiça com os aloprados, gente! Imaginem como poderia ser sem graça um mundo em que os petistas se obrigassem a fazer política apenas nos limites dados da Constituição e das instituições…

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Tenho para mim que a interpelação significa ainda um pequeno passo para o direito, mas um grande salto, para trás, para o Homo sapiens sapiens… Se bem entendi, ao tentar caracterizar a grande “armação” dos tucanos em 2006 e em 2010, os advogados do PT os censuram por terem tentado fazer o que é um imperativo até dos culpados: defender-se!!!

Concluo
Já classifiquei a tese de ridícula. Caracterizei seu aspecto assustador. E digo agora que ela também revela a face perigosa do PT. Os advogados arranjados pelo partido realmente conseguiram extrair o que eu chamaria de o sumo — e a suma — da legenda. A culpa pelos malfeitos dos petistas está nas vítimas, que resistem a seu assédio, a suas armações, a suas lambanças. Estamos diante de um jeito “Hamas” de ser: então a gente não pode jogar alguns milhares de mísseis naqueles caras ou tentar violar suas águas territoriais que eles vão logo reagindo? Que gente mais bruta!

É isto: eis o triunfo da mentalidade terrorista; os sobreviventes são culpados por não se deixarem abater. Essa interpelação petista é um retrato e uma síntese de uma era: A ERA  DA BOÇALIDADE!

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