“Mas isso vai mudar a eleição?”. Ou: o dever do jornalismo
Começo repetindo um trecho da Carta ao Leitor, de VEJA: “A publicação da reportagem a vinte dias do primeiro turno das eleições fará brotar acusações de que o objetivo é prejudicar a candidata oficial, Dilma Rousseff. São especulações inevitáveis. Mas quais seriam as opções? Não publicar? Só publicar depois das eleições? Essas não são opções […]
Começo repetindo um trecho da Carta ao Leitor, de VEJA:
“A publicação da reportagem a vinte dias do primeiro turno das eleições fará brotar acusações de que o objetivo é prejudicar a candidata oficial, Dilma Rousseff. São especulações inevitáveis. Mas quais seriam as opções? Não publicar? Só publicar depois das eleições? Essas não são opções válidas no mundo do jornalismo responsável, a atividade dedicada à busca da verdade e sua revelação em benefício do país.”
A imprensa que se preza não publica ou deixa de publicar uma reportagem com base nos números de pesquisas eleitorais. Isso não é fazer jornalismo, mas administrar simpatias — ou vendê-las. A função da imprensa independente é publicar o que apura, doa a quem doer. Se uma notícia é boa para o líder, quem está atrás pode acusar o adesismo do veículo; se é ruim, aí o que lidera a corrida tende a apontar a suposta tentativa de mudar o resultado.
Este escriba, por exemplo, não está preocupado com isso. Num texto de ontem em que comentava os números do Datafolha, escrevi de modo quase premonitório, depois de apontar algumas lambanças:
“Sé é assim a cada canto, em cada coisa, nos mínimos detalhes, por que supor que seria diferente no coração mesmo do poder? É uma questão de lógica. Não se trata de teoria conspiratória, de acusar os superpoderes do petismo para fazer guerrinha eleitoral – não disputo o poder; não é problema meu; eu diria até que essa gente me fornece matéria-prima para muito divertimento -, mas de reconhecer que existe um grupo no poder que tem um método. E ele não é bom porque despreza o estado de direito e rebaixa as instituições.
A farsa de uma “guerra ideológica” é só o cenário onde se dá, de fato, a guerra por recursos, por bens, pela grana, pelas benesses do estado. Outros governos poderão ter manipulado o dinheiro público em benefício de grupos, mas duvido que tenha havido algo parecido com isso ao que se assiste hoje. O estado está se desconstituindo. Nada mais se resolve nos canais tradicionais da administração. LULA É SÓ A FACHADA DE UM GOVERNO PARALELO. E Dilma é candidata a substituí-lo.”
Assim, não tenho a menor idéia se o que chamo “a mãe de todos os escândalos” vai ou não interferir no comportamento do eleitor. O que sei é que os eleitores têm o direito de saber o que aconteceu. Esse é o nosso trabalho. Nos posts que seguem, cumpre lembrar quem é Erenice.