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Por Mario Mendes
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Ninguém gosta de São Paulo

Por quê? Ora, porque é feia, suja, malvada, violenta, estressada, malcheirosa, elitista, higienista, antipática, sem graça e todo mundo mora longe

Por Mario Mendes Atualizado em 2 fev 2017, 08h49 - Publicado em 25 jan 2017, 19h05

Todo mundo ama Paris. Todo mundo ama Nova York. Nem todo mundo ama Londres. E o Rio de Janeiro continua lindo. Agora, ninguém gosta de São Paulo. Por que? Ora, porque é feia, suja, malvada, inóspita, desumana, poluída, violenta, estressada, malcheirosa, fascista, elitista, machista, higienista, antipática, sem graça, sem charme, sem ritmo e todo mundo mora longe.

Desde que me entendo por gente – sou paulistano da Pompéia – ouço dizerem que São Paulo não dá mais, é dose pra leão (a forma antiga do “matar um leão por dia”), vou vender tudo e morar no interior, vou voltar para minha terra, isso aqui é lugar para doidos. Com honrosas e pouquíssimas exceções, ninguém foi embora. Continuaram por aqui e seguiram, ou seguem, reclamando.

Carlinhos Oliveira, o brilhante e esquecido escritor carioca, em memorável crônica para o Jornal do Brasil – onde reinou entre os anos 60 e 80 – dizia que ninguém gostava mais do Rio de Janeiro do que os paulistas. Ele, claro, se referia aos paulistanos – inclusive no final, convidava mais e mais cidadãos de São Paulo a irem ao Rio e “por favor, não esqueçam de trazer a Bruna Lombardi”.  Quando li, pensei: “Claro que adoram o Rio, porque odeiam São Paulo”, tanto que a primeira coisa que os paulistanos fazem quando surge o fim de semana ou feriado prolongado é fugir da cidade. Daí reproduzem no lugar onde foram se amontoar um pedaço do seu caos de todo dia.

OK, pode-se dizer  que se come muito bem em São Paulo, mas em conversa paulistana da turma que saca é comum alguém lembrar que o melhor restaurante do mundo, o Noma, fica em Copenhague, na distante Dinamarca. O chef mais famoso do mundo, Ferran Adrià, é da Catalunha, vive e trabalha por lá.  O melhor hambúrguer do planeta só mesmo em Manhattan. E, francamente, onde já se viu falar em pizza de brigadeiro, essa invenção paulistana feita a partir daquele docinho de chocolate que causou engulhos no refinado paladar do chef inglês Jamie Oliver?

Também se festeja muito a diversidade étnica da cidade: orientais da Liberdade, africanos e haitianos no Centro, coreanos e bolivianos no Bom Retiro, o paulistês italianado do Bixiga e da Moóca, alemães na Zona Sul e na Zona Norte, mais armênios, espanhóis, argentinos, árabes, baianos, lituanos, gaúchos, cariocas, escandinavos, portugueses, amazonenses, paraenses, gregos, troianos, indígenas etc por toda a parte. Mas não se esqueça, a elite branca de Higienópolis e as pessoas quem fazem compras nos shoppings Iguatemi, JK e Cidade Jardim estão sempre a espreita montando um esquema para evitar que gente diferenciada chegue no pedaço. Por isso mesmo elegeram seu próprio prefeito, que só veste Ralph Lauren e Zegna – exceto nas manhãs de segunda-feira, quando se veste de gari.

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Por falar em prefeito, sua declaração de guerra ao pixo e ao grafite é o talk of the town da semana em que a cidade completa 463 anos, e mais um motivo para se destilar ódio à cidade. Os muros pintados de cinza na Av. 23 de Maio têm servido de metáfora para tempos sombrios e de sofrimento nos próximos quatro anos. Só esqueceram que arte urbana  de rua está sujeita às intempéries, à ação do tempo, à demolição, à reforma e à pintura. Também esqueceram que São Paulo sendo São Paulo há sempre um tubo de tinta spray de plantão na clandestinidade. Afinal, aqui “é Curíntia”.

E também tem o trânsito. Quando chove trava. Quando não chove também. E quem nunca perdeu aula, consulta, encontro, compromisso ou a dignidade por causa do trânsito não é paulistano de verdade. Ah, se  pelo menos todo mundo fosse jovem, bonito, soubesse cantar e dançar, a gente bem que poderia transformar o próximo engarrafamento na cena de abertura de La La Land.

Em tempo: Já tive minha crise com São Paulo, cansei e fui embora. Mas voltei. Tanto por contingências da vida como por pura e simples saudade. Ao menos por enquanto, continuo por aqui. Porque é a a única cidade que tenho e a única que sou. E está de bom tamanho.

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