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Por Mario Mendes
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Não vou chorar por você, Madonna

Madge apelou para o papo reto, mas também falou o que todo mundo quer ouvir o tempo todo ultimamente.

Por Mario Mendes Atualizado em 2 fev 2017, 08h55 - Publicado em 14 dez 2016, 18h51

Primeiramente, sou um admirador de longa data de Madonna, desde quando ela era considerada apenas uma estreleta pop sem talento que seria esquecida em seis meses, depois da fulminante passagem do furacão artístico chamado Cindy Lauper. Dito isso, vamos em frente.

Semana passada a cantora, compositora, atriz, ex-material girl e polemista extraordinaire recebeu o título de Mulher do Ano da revista musical americana Billboard. Madge, como a chamam na Inglaterra – um taxista londrino me contou, na época que Madonna era casada com o diretor Guy Ritchie e vivia por lá, que como ela queria ser inglesa de qualquer jeito, nada melhor do que um nome de dona de casa classe média para começar – foi receber a honraria, não se fez de rogada e mandou ver na oratória.

Fez um discurso emocionado repassando 34 anos de carreira como artista, mulher e ser humano perseguido por esse mundo preconceituoso e cruel. A fala calou tão fundo no coração dos fãs – viralizando na rede feito fogo em mato seco – que houve pouquíssimos olhos secos e a quase solidariedade de todos.

Madonna apelou para o papo reto, mas também falou o que todo mundo está acostumado ouvir e quer ouvir o tempo todo ultimamente. Fez um inventário de mazelas e queixas, culpou the usual suspects, sacou o clichê do empoderamento feminino e não deixou de fora a arma de fogo, a faca e o estupro. Nem parecia coisa da Madonna que a gente respeita e gosta porque sempre meteu o pé na porta e nunca posou de vítima.

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Para começo de conversa, que história é essa de “Estou aqui em frente a vocês como um capacho. Quer dizer, como uma artista feminina”? OI! Madonna, você é aquela artista que não só recuperou o sutiã queimado pelas feministas, como o vestiu por cima da roupa, para todo mundo ver, e saiu beijando em seus clipes tanto a boca de um santo negro (em Like a Prayer) quanto a de uma garota linda (a modelo Luciana Silva, em Justify My Love). Mesmo mostrando o quanto gosta de ser mulher, você brincou com a sexualidade e com o mix de gêneros antes de qualquer LGBTismo ser inventado.

Você misturou crucifixos com peitos de fora, tocou fogo em cruzes – e perdeu um contrato milionário de um patrocinador porque as imagens foram consideradas blasfêmia – e disse com todas as letras para o Papa João Paulo II que se ele quisesse lhe ver, que fosse em um de seus shows porque você é que não ia se abalar até o Vaticano para uma audiência com Sua Santidade. Também teve o episódio no Oscar, quando você disse ao Michael Jackson que o visual dele era muito careta, o momento em Na Cama com Madonna quando você sinalizou que Kevin Costner era “de vomitar” e aquele convite público feito à princesa Diana, para ela dar um tempo em seu apartamento em Nova York, quando a barra pesou e o casamento real acabou em divórcio. Sem falar na canção Human Nature, do seu álbum Bed Time Stories, quando você disparou à queima roupa: “Eu não me desculpo/Ooops, eu não sabia que não podia falar de sexo/Ooops, eu não sabia que não podia falar de você”.

OK, Bowie foi a sua inspiração, mas ele podia usar maquiagem, salto alto sair ileso porque era homem. Assim como Prince “está correndo por aí usando meia-calça, salto alto, batom e mostrando a bunda”, e também tudo bem porque era homem. Mas, um momento, eles com certeza foram chamados de bicha por causa disso – por quem considera “bicha” uma ofensa, claro. Há sempre um preço a pagar por cada ousadia na vida.

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No discurso, Madonna também sustenta que envelhecer é um pecado para as mulheres. Em minha experiência – sou um ano mais novo que a artista – digo que envelhecer é um pecado mortal, ponto. Principalmente em uma sociedade cada vez mais jovem e mais veloz. Ela se queixa que, por ter envelhecido, suas músicas pararam de ser tocadas no rádio. Well Madge, vários profissionais envelhecidos de ambos os sexos diariamente perdem colocações e deixam de ser executados na grande parada de sucessos da vida. Acontece.

Acho mesmo que o problema de Madge é esse: idade. Dias antes da entrega do prêmio, ela apareceu com o apresentador James Cordel, na popular série de vídeos Karaoke Carpool, e declarou que sempre teve um comportamento rebelde, apesar de levar mas uma vida convencional, mas que  é uma pessoa quadrada. Talvez ela finalmente esteja se tonando uma senhora convencional. Pelo menos esse discurso foi convencional, quadrado, politicamente correto.

No final da fala do prêmio, Madonna voltou a Prince e Bowie para dizer que eles se foram – junto com Tupac, Michael, Whitney Houston e Amy Winehouse – mas ela continua por aqui, forte e sacudida. Bom lembrar que seus contemporâneos Cindy Lauper e Boy George também. Assim como as princesas consortes Beyoncé, Britney Spears e… Lady Gaga. A concorrência, portanto, ainda é feroz.

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Por isso Madge, melhor você engolir choro, enxugar as lágrimas e aprontar outra das suas. Daquelas bem descabeladas e mostrando a língua geral. A velha Madonna nunca se fez tão necessária.

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