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Por Mario Mendes
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Ensino médio: Saia já!

Ano passado houve polêmica juvenil por conta da proibição do uso de shorts por alunas de um colégio em Porto Alegre. As garotas queriam usá-los em sala de aula e a direção não permitiu. A discussão rendeu, falou-se de moralismo, machismo, sexismo, repressão e Idade Média – aquele período da história que muitos julgam conhecer […]

Por Da Redação Atualizado em 2 fev 2017, 08h58 - Publicado em 23 set 2016, 21h42

Ano passado houve polêmica juvenil por conta da proibição do uso de shorts por alunas de um colégio em Porto Alegre. As garotas queriam usá-los em sala de aula e a direção não permitiu. A discussão rendeu, falou-se de moralismo, machismo, sexismo, repressão e Idade Média – aquele período da história que muitos julgam conhecer profundamente porque assistem Game of Thrones desde a primeira temporada. Não lembro do desfecho da história porque na sequência rolou a questão de maior conteúdo e abrangência, com alunos do ensino médio ocupando colégios, primeiro em São Paulo e depois em outras cidades do país – nosso Maio de 68 temporão e caboclo.

Mas a polêmica do figurino em sala de aula voltou à baila esta semana quando o tradicional colégio carioca Pedro II liberou geral: agora meninos também podem usar saia nas dependências da instituição. Consequência do “saiato” (que mente brilhante teria cunhado o termo?) ocorrido no colégio dois anos atrás depois que uma aluna trans vestiu a saia de uma colega e foi convidada a destrocar o uniforme.

Claro que houve que houve zunzunzum, mas o reitor, Oscar Halac mandou o papo reto: “Não se trata de fazer ou não distinção de gênero. Trata-se de cumprir resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (órgão ligado ao Ministério da Justiça). Eu apenas descrevo as opções de uniforme; deixo propositalmente em aberto, para o uso de acordo com a identidade de gênero”. Caretas alegaram tratar-se de um absurdo, enquanto a claque progressista saldou a seta indicando um mundo melhor.

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A polêmica só não se estabeleceu e foi mais longe porque no meio do caminho houve a MP apresentada pelo governo Temer (OOOOH!) que propõe uma reforma no ensino médio alterando – entre outras coisas – o conteúdo do currículo escolar, deixando a Pátria Educadora (AAAAH!) tensa nas pontas das sapatilhas. Mas não é esse o propósito desse texto porque não estou devidamente aparelhado para e a discussão – e já tem gente demais abordando o assunto. Quero falar de saias.

Sobre a liberação do Pedro II acho ótimo. Considero que os alunos devem ter o direito de escolha para se vestir quando vai assistir aula. Mas me lembro o quanto eu gostava do uniforme do colégio e também de certas transgressões fashion ocorridas por conta do l’air du temps.

Por exemplo, nossas calças eram boca-de-sino como ditava a moda dos anos 70. As meninas enrolavam as cinturas das saias para diminuir o comprimento e transformá-las em mini e certa aluna, de inspiração feminista, apareceu um dia com os seios livres, leves e soltos sob a camisa imaculadamente branca do uniforme. Atenção: Angela Davis, a americana ativista dos Panteras Negras, aparecia noite sim outra também no noticiário do Jornal Nacional, com cabeleira afro, minissaia e nenhum sinal visível de sutiã sob as vestes. Ré em um julgamento que se arrastou por 18 meses, acusada de atividades subversivas, ela foi uma estrela política e um ícone fashion da década. O mesmo valendo para David Bowie, que inspirou outro colega a replicar o mullet que o astro do rock exibia na capa dos álbuns – e foi mandado para casa, para voltar com um corte de cabelo aceitável.

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A verdade é que, tempos depois, as saias das garotas ficaram curtas mesmos – inclusive de algumas professoras também – e os garotos que os cabelos ajudavam aderiram ao mullet Bowie sem maiores problemas – eu investi no afro estilo Jackson 5. Tudo questão de moda, comportamento e estilo de uma época.

Já tive minha experiência com saia. Ou melhor, com um kilt escocês, adquirido durante uma viagem a Edimburgo dez anos atrás. Era o festival de música da cidade e eu quis comparecer ao evento de encerramento “in full regalia”, como eles dizem. Repeti a dose em São Paulo. Jantei em um restaurante da moda, mas Caetano Veloso chegou e ninguém prestou atenção em mim. Fui hostilizado pelos frequentadores de um nightclub gay, porém saudado por uma galerinha teen reunida na porta de uma loja de conveniência. Quanto ao traje em si devo dizer que é bastante confortável. Recomendo.

Por isso meu total apoio aos rapazes de saia no Ensino Médio, não importa se héteros, gays, bis, trans ou simplesmente a fim de tirar uma onda. Provavelmente daqui algum tempo, quando relatarem o ato transgressor para uma geração futura, sejam brindados com olhares de suave condescendência, na melhor das hipóteses, ou chamados pelo vocábulo do momento que designe “careta”, na pior. Para os que experimentarem a possibilidade dois, apenas digo: “Bem feito!”.

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PS: Respondendo a inevitável questão da roupa de baixo sob um kilt, o uso é facultativo. Tudo depende do efeito que se deseja causar. E da temperatura também.

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