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Ria se quiser, mas Hugh Hefner não vendia revistas pornô

Desde o princípio do seu império, o criador da Playboy quis difundir um estilo de vida

Por Maicon Tenfen 29 set 2017, 08h28

No princípio do século XX, quando um certo Edward Bernays inventou a profissão de relações públicas, pouca gente conhecia a teoria do Inconsciente do Dr. Freud.

Bernays, por isso, estava praticamente sozinho numa crença que se mostraria verdadeira ao longo dos anos: numa democracia de massas como a americana, as pessoas não se baseiam em informações fidedignas sobre o que escolhem fazer ou comprar, mas, ao contrário, deixam-se gerir por instintos e emoções que simplesmente não conseguem compreender.

Assim, para manter o público consumindo os produtos de valor agregado que fundamentaram o capitalismo moderno, bastava incentivá-lo, através de uma publicidade sutil, a buscar o máximo possível de prazer e satisfação individual. Contratado por fabricantes de cigarros, por exemplo, Bernays conseguiu convencer as mulheres de que fumar era um ato de liberdade.

Vieram as guerras mundiais, o crescimento do modelo industrial americano e, na aparente ingenuidade dos anos 1950, a consolidação do american way of life. Com esse ambiente de consumo estabelecido, os vendedores de ideias se viram na necessidade de buscar o público com mensagens mais diretas. As pessoas continuavam com o desejo de satisfazer os seus impulsos básicos, ainda que não tivessem consciência disso.

E Hugh Hefner estava lá, no seio do mercado editorial, trabalhando como auxiliar de escritório da Esquire, a principal revista masculina da época. Insatisfeito, pediu demissão e criou o projeto da Playboy na cozinha do seu apartamento. Na época já havia publicações que exploravam o corpo da mulher, mas nenhuma relacionava ao nu os valores que Hefner pretendia difundir.

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De alguma forma ele intuiu as verdades de Edward Bernays sobre a busca da satisfação individual, algo inconfessável na época. Para Hefner, já havia um público pronto a assumir esse padrão de consumo: homens solteiros, urbanos e assalariados. Desde o princípio estava claro que o negócio da Playboy não eram peitos e bundas sem um significado maior por trás.

Hefner não queria vender apenas uma revista de mulher pelada, mas um conceito, uma filosofia, um estilo de vida que reiterava: “não há nenhum problema em gostar de sexo”. O impressionante sucesso da publicação — que das 70 mil cópias do primeiro número chegou a um pico de 7 milhões de exemplares — confirma que ele estava certo em suas convicções.

Uma nova era estava nascendo. Dali em diante, o sentido de coletividade cederia espaço aos temperamentos individuais e as pessoas gastariam cada vez mais dinheiro na busca do prazer. É importante lembrar que a Playboy surgiu em 1953, antes das primaveras hippies, do sucesso de Herbert Marcuse e dos protestos contra a guerra do Vietnã. Sexo era um assunto proibido.

Mas um mundo de sexualidade corriqueira não podia ser só para os homens. Com o passar dos anos, o Império Playboy acabou se engajando em outras lutas comportamentais. Para o modelo criado por Hefner, não era legal ser racista ou homofóbico, muito menos sexista, já que o verdadeiro bon vivant não deveria sentir ciúmes ou passar pelo vexame de tentar controlar as mulheres.

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Deve ser por isso que ele se surpreendeu ao ser atacado pelas feministas no princípio dos anos 1970. Se estava vendendo liberdade, não conseguia entender por que o acusavam de “gostosificar” o corpo da mulher. Deu várias entrevistas sobre o assunto e participou de debates na televisão, aceitou discutir com militantes e foi praticamente massacrado.

No fim das contas, porém, as feministas foram o menor dos seus problemas. Perseguido por associações puritanas e pela justiça, viciou-se em pílulas para suportar o ritmo alucinado de trabalho. Perdeu pessoas próximas (uma assistente se suicidou e uma das coelhinhas foi assassinada pelo ex-marido psicótico) e se viu envolvido em escândalos que custaram as licenças dos cassinos da Playboy no Reino Unido.

Nas últimas décadas, enquanto a filha mais velha assumia os negócios, Hefner se tornou uma caricatura do estilo de vida difundido por sua revista. Isso fez com que o seu legado fosse varrido para debaixo do tapete. Muitos dizem que a Playboy é que inventou a revolução sexual. A afirmação é exagerada, mas possui o seu quê de verdade.

Como brincava um amigo, Hefner era o Walt Disney dos adultos. O Mickey Mouse era o coelho. Quanto à Disney World, bastava olhar para a sua piscina cheia de mulheres.

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