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Quem botou aquele riso boçal na cara do Aécio? A Carminha!

Por que os brasileiros não acreditam nas autoridades que tomam "decisões técnicas" com base na Constituição?

Por Maicon Tenfen Atualizado em 20 out 2017, 00h49 - Publicado em 20 out 2017, 00h21

É fácil encontrar escritores norte-americanos que cultivam o chamado thriller de tribunal. De autores populares como John Grisham e Scott Turrow a cânones contemporâneos com a envergadura de uma Harper Lee, muitos se especializaram em escrever histórias de advogados ou juízes que esperneiam contra os vícios do sistema e fazem a Justiça prevalecer.

A obra-prima de Harper Lee, O Sol é Para Todos, teve o poder de cristalizar a imagem do advogado-herói no imaginário de toda uma nação. Atticus Finch, o protagonista (interpretado no cinema por Gregory Peck), empreende uma luta solitária contra a desigualdade racial no sul dos Estados Unidos. Não importa se vai vencer no final, importa apenas que ele acredita na Justiça e está fazendo a coisa certa.

A mensagem do romance é óbvia e reconfortante: por mais iníqua que seja a sociedade e por mais torpes que sejam os poderosos, sempre teremos alguém para defender os fracos e oprimidos. A simples existência desse gênero literário diz muito a respeito dos sobrinhos do Tio Sam. Ingênuos ou não, no fundo acreditam na eficácia do poder judiciário.

E nós, brasileiros, em que acreditamos?

Procurei, procurei, mas não consegui encontrar o protótipo do advogado-herói na nossa literatura. Começando pelo Brás Cubas de Machado de Assis e terminando pelo Mandrake de Rubem Fonseca, são todos personagens malandros, picaretas, impostores e oportunistas. A mensagem pode ser óbvia para nós também, mas não tem nada de reconfortante: não há ninguém interessado em nos defender.

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Mandrake, a propósito, que teve série na HBO, é um bon vivant amoral que usa a discurseira jurídica para resolver os problemas dos ricos e dos corruptos. O seu cinismo revela muito do que pensamos das leis e de quem toma decisões com base na Constituição. Advogados, bacharéis, juristas e afins não passam de espertalhões que tiraram o diploma para cagar na cabeça dos outros.

— Mas que falta de fé! — diriam os leitores de Harper Lee. — Por que não acreditam nas virtudes potenciais da República?

— Ora, por quê! — seria a resposta. — Ainda temos condições de acreditar em alguma coisa?

Do executivo e do legislativo é melhor não dizer nada. Acontecimentos recentes — e antigos! — confirmam que são poderes tomados por compadres que se ocupam de proteger as imposturas uns dos outros. Esperança ainda existia no judiciário. No tempo do Joaquim Barbosa houve um princípio de otimismo em relação a Brasília, mas agora o que sobrou foram os Brás Cubas desavergonhados de sempre.

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Ninguém está falando de cobras criadas como o Gilmar Mendes e o Ricardo Lewandowski, esses nunca tiveram jeito, mas sim da branda, cândida e frágil Carmem Lúcia — ou Madre Superiora, como é chamada pelos colegas. Aquela carinha de Família Adams deve ter enganado milhões quando apareceu na TV e deu a entender que lutaria contra a corrupção.

Pois bastou que a Madre Superiora deparasse com a responsabilidade de Minerva para se acovardar. Quando ficou cara a cara com o goleiro da impunidade, acabou dando um bico para o mato, de propósito, através de um voto gago, confuso e destrambelhado. O resultado está aí, na TV Senado, como se fosse uma pegadinha de domingo: o riso calhorda e desaforado de Aécio Neves.

Não é à-toa que a Carmem Lúcia se parece com aquela tia-avó fraquinha de quem beijamos a mão para pedir a bênção. Ela deve ter medo de quem fala mais grosso. Tinha tudo para inspirar o Atticus Finch que nos falta, mas preferiu parodiar a amoralidade de um Mandrake. Tem pinta de freirinha, não de bon vivant, mas isso não a impediu de usar a discurseira jurídica para resolver os problemas dos ricos e dos corruptos.

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