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A Consciência Negra da Glória Maria é mesmo consciente?

Num momento de absurda cisão social, ser negro ou ser branco é um fato que antecede as opiniões das pessoas

Por Maicon Tenfen
Atualizado em 20 nov 2017, 08h19 - Publicado em 20 nov 2017, 08h14

Tudo pega fogo no Império da Boçalidade que se tornou o Brasil. Não seria diferente com o racismo, tema polêmico por excelência, ainda mais às vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra.

O estrafego começou quando a jornalista Glória Maria – tão famosa que parece fazer parte da “família brasileira”, outra entidade que motiva debates encarniçados – postou no Instagram a famosa frase atribuída ao ator americano Morgan Freeman:

“O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece”.

Lá veio um berreiro digno das redes sociais.

Como é que a Glória Maria pode endossar uma coisa dessas? Ela não sabe que é a exceção e não a regra? Ela não entende que o seu post conformadinho destoa de um movimento de autoafirmação étnica que vai mudar a História do nosso país?

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O episódio enseja três questões fundamentais:

1) Considerar as pessoas a partir de suas características físicas se tornou uma “necessidade” também no Brasil?

2) Os movimentos sociais que valorizam o coletivo em detrimento do individual são autoritários?

3) Glória Maria tem o direito de expressar as próprias opiniões onde quer que seja?

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A resposta é “sim” para as três perguntas.

1) Hoje, por trás de cada palpite ou ação social, pisca em neon a condição biológica dos indivíduos. “Isso foi dito pelo ‘negro’ fulano de tal, aquilo foi feito pelo ‘branco’ beltrano de qual”. Quem acha que isso é uma conquista está subvertendo as motivações mais profundas da luta pela igualdade. Chamar atenção para esse fato, creio, foi o objetivo de Glória Maria ao citar a frase do Freeman. O racismo não existe por causa da escrotice do William Waack e não deixará de existir por causa do bom-mocismo do Lázaro Ramos (para ficarmos apenas na Globo). A verdadeira estratégia não é política, mas cultural.

2) O caráter combativo dos movimentos sociais trouxe avanços no campo legislativo, mas está criando cisões que podem ter consequências perversas no cenário político. Em outras palavras, mesmo que os textos da lei, conquistados por grupos de pressão, tenham evoluído para patamares mais satisfatórios de civilidade, isso não significa que os resultados sejam necessariamente produtivos. Hoje, enquanto ações de censura são solicitadas à esquerda e à direita, pré-candidatos à presidência da República estão se lançando com discursos de ódio que, entre outas razões, encontram acolhida graças à radicalização dos movimentos sociais.

3) E se a Glória Maria fosse branca? E se fosse índia, japonesa, descendente de alemães? Ela é brasileira, ponto. Deseja um país melhor, como a maioria de nós (ainda acredito que os vilões sejam minoria, apesar do estrago que conseguem fazer). A jornalista respondeu às críticas das redes sociais com honestidade e bravura, sem ceder a essa mania ridícula das celebridades, que é pedir desculpas por tudo. “Não tenho que mudar minhas ideias por imposição de quem quer que seja”, escreveu. “Como lutar contra a desigualdade se não aceitamos as diferenças? (…) Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar”!

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Essa talvez seja a grande lição do Dia da Consciência Negra de 2017. Todos têm direito à liberdade de expressão, todos têm direito à individualidade, mesmo quem, por ser negro, branco ou amarelo, viu o seu nome sequestrado pelos movimentos sociais.

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