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Uma triste história argentina: a mãe heróica que virou bandida

Envolvimento com corrupção, desvio de verbas e até irmãos parricidas transformou Hebe de Bonafini em procurada pela justiça

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h20 - Publicado em 5 ago 2016, 09h39
Lenço manchado: Hebe de Bonafini escapa da polícia, mas não da própria trajetória

Lenço manchado: Hebe de Bonafini escapa da polícia, mas não da própria trajetória

O lenço branco na cabeça evoca uma saga de coragem quase inconcebível, do tipo que só mães desesperadas conseguem ter. Hebe de Bonafini foi uma dessas mães, as que andavam pela Praça de Maio num silêncio que dizia tudo: queriam saber de seus filhos, jovens militantes de esquerda devorados pela máquina de triturar gente da ditadura argentina.

Ontem, no mesmo lugar, quase trinta anos depois da caminhada pioneira das mulheres que se tornariam conhecidas como Mães da Praça de Maio, Hebe desafiou uma ordem judicial de detenção, por ter se recusado a prestar depoimento num dos mais escandalosos casos de desvio de dinheiro público da Argentina. Cercada de simpatizantes kirchneristas, subiu num utilitário  e furou o cerco policial.

Seria seu último ato heróico se não fosse pelo degradante processo de corrupção moral – para não falar na do tipo mais convencional – em que esta mulher hoje com 87 anos afundou.

O caso atual já vem de vários anos e envolve o desvio de verbas públicas, no total d 50 milhões de dólares, destinadas à Fundação Mães da Praça de Maio para a construção de casas populares.

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O fato de que uma instituição dedicada à defesa dos direitos humanos tenha entrado no ramo da construção civil já demonstra as distorções da era Kirchner. Mais incrível ainda são as pessoas de quem Hebe se cercou para cuidar da fundação e, principalmente, das verbas: os irmãos Pablo e Sergio Schoklender, assassinos dos próprios pais.

Em 29 de maio de 1981, os dois estavam na sala do apartamento da família quando a mãe acordou e os interrompeu. Pablo arrebentou a cabeça dela com uma barra de ferro usada em musculação. Ainda estava viva quando Sergio a estrangulou. Os irmãos discutiram se deviam também matar o pai, que dormia, e concluíram que sim. Enrolaram os corpos em lençóis e sacos de lixo e puseram no porta-malas do carro da família.

Com dinheiro roubado dos pais, foram para um hotel de Mar del Plata, onde Sergio chamou uma garota de programa. Acabaram presos, condenados e transformados em celebridades carcerárias. Hebe os conheceu lá e os recebeu, com empregos, quando terminaram a pena. Rapidamente, Sergio se tornou o homem forte da fundação, provocando os previsíveis boatos.

Hebe de Bonafini já havia se transformado numa esquerdista de paródia, do tipo que usa palavrões para todos os que não pensam exatamente do mesmo jeito e olhos profundamente fechados para todo o resto. Quando aconteceu o 11 de setembro, disse que brindava com champanhe. Amava Hugo Chávez e recebeu de Néstor Kirchner e depois de Cristina o que mais queria: a reabertura dos processos contra militares da ditadura.

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Entre outros, foi condenado a prisão perpétua o ex-capitão Alfredo Astiz, conhecido como Anjo Louro. Infiltrado nas Mães da Praça de Maio como parente de preso desaparecido, ele foi responsável pela captura, tortura e morte da fundadora original, Azucena Villaflor, e outras mulheres do grupo, incluindo duas freiras francesas cujo caso deu uma dimensão internacional à barbárie argentina.

É impossível falar de Astiz sem lembrar que, durante a Guerra das Malvinas, ele comandava uma unidade da Marinha nas ilhas Georgias do Sul, onde foi rendido e preso pelos ingleses.

Infelizmente, também se tornou impossível falar nas mães que desafiaram a ditadura sem evocar o histórico de Hebe de Bonafini, protetora de parricidas corruptos e, inacreditavelmente, até de um general acusado de crimes similares aos que tanto combateu, mas favorecido por ela porque Cristina Kirchner o havia nomeado comandante do Exército.

A mulher que manchou com a desonra o lenço branco de uma causa nobre hoje é considerada fugitiva da justiça.

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