Uma nova alemã para o mundo odiar
Agora que Angela Merkel é boazinha, líder de direita ocupa o lugar dela
Durante bastante tempo, Angela Merkel foi abominavelmente retratada por simpatizantes esquerdistas em todo o mundo como nazista, de uniforme e tudo, por não ceder às exigências feitas pelos gregos de cancelar os repetidos empréstimos feitos pela União Europeia. Depois que abriu as fronteiras da Alemanha às massas de imigrantes do Oriente Médio e da África, num gesto de grande valor humanitário e alto risco político, a primeira-ministra conquistou uma certa simpatia. A nova alemã que o mundo se dedica a detestar é Frauke Petry, líder de um partido pequeno de extrema-direita, ou direita pura e dura.
Devido à instabilidade provocada pelo súbito aparecimento de 1,1 milhão de refugiados, a maioria muçulmanos, só no ano passado, o partido de Frauke, chamado Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla original) está saindo do nicho reduzido que ocupava. Originalmente, o partido era focado na oposição à União Europeia, como seus similares em outros países. Como a causa contra a imigração em massa de muçulmanos, que a nova direita dura europeia considera uma invasão culturalmente devastadora, se tornou mais urgente, Frauke e a AFD mudaram o foco.
Como Angela Merkel, Frauke, de 40 anos, vem da antiga Alemanha Oriental, estudou química e usa o sobrenome do primeiro marido, com quem teve quatro filhos. Ao contrário de Merkel, é magra, sorridente e costuma usar saias curtas, mostrando as belas pernas. No ano passado, trocou o marido, pastor luterano, por Marcus Pretzell, que era deputado pelo partido dela, mas mudou de lado e entrou para o Partido Democrata Cristão, o mesmo de Merkel.
Frauke não parece ter se sentido nem um pouco traída. Um colunista da revista Der Spiegel escreveu que ela e o companheiro são protagonistas da louca paixão da direita alemã. Num debate frente a frente, ele também disse que Frauke é a cara simpática das “hordas que marcham em Dresden e batem nas pessoas”. Hooligans alemães realmente têm comportamento violento – por que levariam esse nome se não fosse assim? – , mas em geral são os manifestantes do Pegida, o movimento chamado Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente, que levam pancada da polícia.
Pegida e AfD têm muita coisa em comum, incluindo a origem em Dresden, o que sempre provoca suspeitas de que a Rússia putinista manipule-os de alguma maneira. Pelo lado oposto, a ultra-direita alemã voltou a espalhar suspeitas sobre o passado de Angela Merkel e a liberdade de movimentos que tinha na antiga Alemanha Oriental, só possível, alegam, para os que eram colaboradores da Stasi, a onipresente polícia política. Inventaram até que o codinome dela era Erika.
Frauke Petry provocou um grande agito no fim do ano passado, quando disse que a polícia deveria, “se necessário, usar armas de fogo” para impedir a entrada de imigrantes que forçam passagem na fronteira com a Áustria. “Não quero que isso aconteça, mas o uso da força existe como último recurso”, atenuou. O sindicato dos policiais imediatamente reclamou que isso seria contra o estado de direito. É compreensível que na Alemanha existam tantos controles sobre o uso da força, mas o partido de Frauke se beneficia quando os agentes policiais cruzam os braços e ignoram deliberadamente crimes cometidos por imigrantes.
O presidente da Conferência Episcopal Alemã, cardeal Reinhard Marx, disse sobre a declaração de Frauke Petry que “infelizmente sempre existe um certo potencial para o extremismo de direita e o racismo na Alemanha”. Está, sem dúvida, correto. Ressalve-se que até a igreja católica alemã, defensora inquebrantável do acolhimento aos imigrantes, pediu uma diminuição no fluxo de refugiados, pois “o país não pode receber todos os necessitados do mundo”.
Será que existe um caminho do meio entre Angela Merkel e Frauke Petry? Segundo pesquisas recentes, a AfD já está com 12% das preferências do eleitorado. E 40% dos alemães acham que Merkel cometeu um erro grave ao abrir as fronteiras.