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Por Vilma Gryzinski
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Os escorpiões que vivem entre nós

As pragas estruturais da América Latina estão assanhadas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 set 2017, 06h00 - Publicado em 15 set 2017, 06h00

Talvez passem para a história como os Cinco Dias de Setembro, talvez sejam enterrados na memória por outra avalanche de espantos. Mas entre 5 e 10 deste mês, os dias transcorridos entre a surpreendente autodelação do sujeito que proclamava “nós não vai ser preso” e seu recolhimento a uma cela, outros acontecimentos, fora do eixo Brasília-Brasília de corrupção cosmológica, criaram quase que uma constelação de grandes ou pequenas pragas sobre a América Latina.

No Uruguai, o país do brilhante escritor que criou a empulhação das “veias abertas da América Latina”, um vice-presidente renunciou. Não um vice qualquer. O popular Raúl Sendic já estava com os espetos prontinhos para fincar na parrilla presidencial de 2019. Seria o equivalente, no Brasil, à eleição do deputado Zeca Dirceu. Sendic é filho de um dos líderes da insurreição armada que empurrou para as trevas da ditadura um Uruguai democrático, vitimado pelo mesmo fenômeno de jovens brilhantes, idealistas e envenenados pelas tais veias entupidas de asneiras sobre a perversi­dade de uma conspiração capitalista mundial. O inimputável Pepe Mujica, outro ex-tupamaro, tentou aliviar e comparou o uso de cartão corporativo para compras miúdas aos apartamentos cheios de dinheiro de corrupto no Brasil e um convento de freiras idem na Argentina. Detalhe: o cartão era da empresa de petróleo que Sendic presidia, o que praticamente já diz tudo.

Embriagado pela mesma síndrome de vitimologia, especialmente forte no México, Vicente Fox, um ex-presidente que perdeu qualquer suspeita indevida de dignidade, tuitou contra sua nêmesis, Donald Trump, reclamando de uma mudança de legislação relativa a imigrantes clandestinos. Fox jamais chegou perto de uma autocrítica sobre os motivos que levam mais de 11 milhões de mexicanos a viver nos EUA, pouco mais da metade legalmente, os demais por baixo do pano. Depois do tuíte e do terremoto monstro, o México voltou ao normal: dezenove pessoas torturadas, picadas e decapitadas em guerra de gangues de drogas em Michoacán. Um dos cartéis chama-se Los Viagras.

Reabre-se, assim, o baú de explicações sobre a combinação de atraso sistêmico e canalhice institucional que nos empurra de volta ao buraco. É destino? Colonização tóxica, cultura do atraso? Estrutura produtiva manca, economia de subsistência tosca, classes governantes cegas? Alguns dos outros motivos levantados por estruturalistas como Celso Furtado, um de pelo menos uma dezena de pensadores espetaculares cuja genialidade mereceria ser mundialmente admirada, mas que se tornaram prisioneiros do carma de decifrar um enigma chamado Brasil?

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Ao final dos Cinco Dias de Setembro, em Americana, no interior de São Paulo, um caso quase despercebido teve seu desfecho. Um pedinte foi preso depois de ameaçar motoristas com escorpiões vivos, expostos em recipientes variados. Desfecho, no caso, é uma expressão de desejo. Tal como certas malas de dinheiro, após um pequeno intervalo, pedinte, motoristas e escorpiões continuarão onde estavam. Mas será que desta vez expurgaremos corruptos peçonhentos? Ou “nós não vai ter jeito” nunca?

Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2017, edição nº 2548

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