O mundo parece ter desistido do teatro do obsceno no Brasil
A mãe de todas as crises é de tirar o fôlego, mas cobertura desatualizada e preguiçosa na imprensa estrangeira reflete desinteresse pelo “filme de sempre”
Para nós, pode ser a catarse final. Para os de fora, é mais do mesmo.
Sem fôlego nem interesse em acompanhar os desdobramentos que nos estarrecem minuto a minuto, os jornalistas que se dão ao trabalho de atualizar o noticiário sobre o Brasil, mesmo que com compreensível atraso, vão deixando o assunto para lá.
Principalmente quando o tom da narrativa muda e, sem tirar do foco o atual presidente, passa a incluir seus dois antecessores.
A BBC, por exemplo, esconde lá no meio que os dois indigitados “receberam 50 milhões e trinta milhões de dólares para financiar campanhas políticas, segundo o testemunho”. O glossário da crise também só foi preguiçosamente atualizado em referência ao incumbente.
Um dos maiores indicadores de boas reportagens e análises que despertam atenção é o site agregador RealClearPolitics. Nos destaques da seção Mundo, aparecem artigos sobre Rússia, política externa americana, Balcãs, Nepal e Arábia Saudita.
Lá no meio, um fraco e desanimado comentário da Foreign Policy. O título praticamente diz tudo: “De novo, escândalo de corrupção presidencial atinge Brasil”.
A mãe de todas as crises e o pai de todos os delatores são assuntos sensacionais, com a torrente de obscenidades políticas e morais despejada em ritmo calmo e assustador como um rio de lava.
O neto do presidente que foi sem nunca ter sido, a Tia, o grão-eleitor da Tia, o incumbente. E o inabalável delator, o bilionário dono do “império cárnico” , na descrição do El País, contando tudo, nos mais íntimos e indecentes detalhes. Cada um deles mereceria infinitos espaços digitais. Recebem praticamente nada.
O único que faz um esforço é, justamente, o El País. Sua última reportagem sobre o tema fala, em tom algo exasperado, sobre os novos episódios de um “Brasil que está há meses trazendo à luz suas cloacas”.
O Financial Times, como é próprio de sua atividade, foca nas oportunidades e desoportunidades econômicas da crise. E faz graça, no título, com a atividade-meio do grande delator: “Açougueiro brasileiro deixa presidente na ponta da faca”.
E nós, onde ficamos?