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Por Vilma Gryzinski
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O ejaculador de Hollywood: o produtor que podia fazer tudo

Pior que os tarados de ônibus do Brasil, Harvey Weinstein dava dinheiro e privilégios à elite progressista e submetia atrizes ao teste da banheira

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h43 - Publicado em 9 out 2017, 10h08

É até difícil  contar a quantidade de baixarias que estão aparecendo sobre o homem que foi o mais celebrado produtor de filmes de alto conteúdo artístico e orçamento relativamente baixo, para os padrões de Hollywood.

Como os episódios recentes sobre abusadores em ônibus e metrôs abriram as portas sobre  um tipo de comportamento repugnante, vamos usar termos que entraram recentemente para o vocabulário público brasileiro.

Lauren Sivan era uma repórter de televisão em Nova York quando foi com um grupo a um clube noturno badalado de nome moderninho, Socialista. Harvey Weinstein a convidou para conhecer a cozinha.

Encurralou-a num corredor, tentou beijá-la e foi rejeitado. Ali mesmo, masturbou-se na frente dela até ejacular num vaso de plantas.

Lauren poderia ter dado um tapa na cara, uma bolsada, um escândalo. Não fez nada. Só falou agora, dez anos depois do episódio asqueroso, depois que o New York Times publicou uma reportagem com relatos explícitos sobre os abusos repetidos de Weinstein quando chefiava a Miramax.

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O produtor e seu irmão Bob romperam com a Miramax e abriram a Weinstein Company, que terminou por demitir seu fundador depois de quatro dias de tentativas de administrar a crise com desculpas capengas.

No auge da Miramax, Weinstein ganhou cinco Oscars, pelo valor dos filmes e pela capacidade de influenciar, pressionar ou simplesmente comprar, com empregos e mordomias, pessoas com direito a voto na premiação. Expunha ao mundo, com a capacidade única de Hollywood, artistas europeus como Roberto Benigni ou Kate Winslet.

Só para dar uma ideia da intimidade que desfrutava no mundo do cinema, da política e das causas badaladas em geral, foi com ele que a filha mais velha de Michelle e Barack Obama, Malia, ganhou um estágio em Nova York. O casal não deve estar nada feliz agora.

Obama, Hillary Clinton e uma penca de senadores democratas, todos têm foto ao lado de Weinstein, sorrindo agradecidos pela generosidade do dinheiro que pingava nas campanhas políticas. Donald Trump Melania, Ivanka e o marido, Jared Kushner, também. Antes de Trump entrar na política e passar a ser odiado por Weinstein.

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Segundo o levantamento do Times, Weinstein fez acordos de indenização com oito mulheres assediadas antes que as acusações chegassem à Justiça. Só uma atriz envolvida quis falar: Ashley Judd disse que foi chamada para um café da manhã de trabalho, num dos hotéis legendários de Hollywood, o Península. Weinstein apareceu de roupão e propôs uma massagem. Ou que ela o visse tomar banho – não é exatamente difícil imaginar o que viria então.

Ashley tem uma história de misérias e conflitos com a mãe e a irmã, Naomi e Wynonna Judd, cantoras famosas de country, abusos dentro e fora da família, internações e declarações amalucadas. Na marcha contra Trump em Washington, logo depois da posse, disse que Ivanka era “o símbolo sexual predileto” do pai – no mínimo, uma violência brutal contra outra mulher.

Poderia ter falado sobre Weinstein antes, inclusive em sua biografia,  e só fez isso agora. Pesa o fato de que o relato dela bate com o de secretárias e assistentes que enumeram situações similares em que Weinstein aparecia de roupão ou nu, dando ordens ou propondo favores sexuais.

A garçonete de um restaurante no prédio de sua produtora também relatou inúmeros jantares que seguiam a mesma sequência: jovens aspirantes a atriz chegavam, tomavam champanhe e eram convidadas para “conhecer o escritório”.

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Voltavam umas duas horas depois à mesma mesa, para jantar. Eram todas muito jovens, lindas, de físico delicado. O mesmo tipo da atual mulher de Weinstein,  a inglesa Georgina Chapman, que criou uma marca conhecida de roupas de “tapete Vermelho”, a Marchesa.

Que atriz não gostaria de usar os vestidos da mulher do produtor famoso? Que atriz não saberia o que iria acontecer ao subir para “conhecer o escritório”? Quais delas resistiram ou cederam à oportunidade de ganhar um papel do homem que fez Gwyneth Paltrow ganhar um Oscar (Shakespeare Apaixonado)?

Existia uma “cláusula de barreira”? Famosas como veteranas como Meryl Streep “Quero agradecer a Deus… Harvey Weinstein”) eram dispensadas? Nicole Kidman? Jennifer Lawrence? Uma Thurman? Heidi Klum?

Muitas estão em silêncio depois da revelação dos escândalos que eram conhecidos até pelos guardanapos dos hotéis famosos que Weinstein frequentava. Não têm a obrigação de falar nada, mas a queda final do produtor tarado talvez dê um empurrãozinho.

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Possivelmente conheçam a fundo a frase, captada sem querer, em que Donald Trump comenta que homens famosos podem fazer o que quiserem com as mulheres que adejam em sua volta, inclusive ir logo passando a mão na parte mais íntima.

Como Weinstein e Trump nunca levaram um tapa na cara, num país em que executivos brasileiros em visita precisam até fazer um treinamento para não dar foras potencialmente criminosos como elogiar a aparência de uma colega de trabalho,  é um espanto.

Outros casos recentes de abusadores ganharam enorme destaque. Roger Ailes,  o genial inventor da Fox, foi demitido e morreu logo depois. Assediava apresentadoras de forma nada sutil, mas sem chegar aos finalmente de Weinstein. Depois, foi Bill O’Reilly: 15 milhões de dólares em múltiplas indenizações a mulheres acossadas. O apresentador Eric Bolling foi demitido num dia (fotos explícitas e não solicitadas) e seu filho se matou horas depois.

As simpatias políticas pesam nas reações a casos similares. Trump  é tratado regularmente como abusador pela oposição que vai dos democratas no Congresso ao mundo do cinema e da televisão e o pessoal da Fox é execrado. Os simpatizantes da direita tendem a desacreditar as acusadoras e ver conspirações perversas, nascida na esquerda, na queda de tantas personalidades.

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Curiosamente, Weinstein também evocou uma “conspiração de direita” para desacreditá-lo. E mais curiosamente ainda, com todo o seu histórico, comandou uma campanha pela reabilitação de Roman Polanski, o diretor que só pode voltar aos Estados Unidos para ser preso pelo estupro de uma menina de 13 anos, em 1977. Recentemente, pelo menos outras três mulheres já vieram a público dizer que também foram violentadas por Polansnki quando eram adolescentes.

É possível que Weinstein faça mais um mea culpa, doe mais dinheiro a causas liberais, contrate mais advogados e, mesmo longe do ápice que chegou a alcançar,  seja readmitido e perdoado.

Quem sabe até não produza um filme sobre um poderoso diretor que andava de roupão entre as mulheres mais belas do mundo, garimpando favores sexuais, mas acaba vendo a luz? Hollywood adora uma história de redenção.

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