Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Marine, Trump, Brexit: dez meses que sacudiram o mundo

Mistério, mistério: por que será que franceses raivosos não levaram nenhum político dos partidos tradicionais para o segundo turno?

Por Da Redação Atualizado em 23 abr 2017, 15h37 - Publicado em 23 abr 2017, 15h36

Sim, ela vai perder no segundo turno – é o que dizem as pesquisas. Lembram do que as pesquisas diziam antes dos recentes choques de realidade?

O que há de errado com a raiva? A maioria dos brasileiros pode perfeitamente entender a frase: “Está todo mundo com raiva dos políticos”. Por que franceses, americanos e ingleses também não podem ter raiva?

Foi este sentimento que produziu, em grande parte, as turbulências que começaram em junho do ano passado. Primeiro, a votação em plebiscito pela saída do Reino Unido da União Europeia. Depois, obviamente, Donald Trump. Hoje, a votação em Marine Le Pen. Emmanuel Macron, o sem-partido e primeiro colocado, de acordo com as projeções iniciais, também se beneficiou do mesmo sentimento, obviamente.

 

Assista:

Macron: o próximo presidente francês?

 

Em todos estes casos, a esmagadora maioria da imprensa se arrepiou todinha para falar com desprezo e sarcasmo nos “angry white men” que haviam cometido o sacrilégio de não votar de acordo com o que os sábios haviam determinado. Vamos dispensar os leitores de lembrar a grande votação feminina etc etc etc.

Aliás, muitos continuam a falar, aparentemente sem ter aprendido nada nas recentes lições. A distorção é tamanha que dá até para fazer uma pequena aposta: sempre que a palavra raiva é invocada, podemos concluir que o resultado será o oposto do que o noticiado.

Continua após a publicidade

 

Leia também:

Macron e Le Pen passam para segundo turno na França

 

Os 21,3% de votos em Marine Le Pen, por exemplo, parecem ter sido garantidos quando a revista The Economist escreveu apenas três dias antes da votação no primeiro turno: “Os franceses vão às urnas com raiva e divididos”.

Por que os franceses estão com raiva? (Divididos é uma bobagem, pois as diferenças partidárias existem desde a época de Vercingetorix, e talvez até um pouquinho antes dele). Preguiçosamente, a revista fala nos motivos de sempre: crescimento econômico abaixo de pálido, desemprego especialmente alto entre os jovens e “tensões raciais e religiosas exacerbadas por ataques jihadistas”.

Estas “tensões” provocaram a morte de 247 pessoas desde 2012 pelos seguintes meios: fuziladas, esfaqueadas, atropeladas, decapitadas, atropeladas de propósito ou uma combinação de vários desses métodos. O ano de 2012 é considerado o marco inicial desse movimento, digamos, pois quando Mohammed Merah assassinou três militares e, dois dias depois, três crianças e um professor numa escola judaica.

O “francês de extração argelina” – ah, os malabarismos do politicamente correto – tornou-se ídolo celebrado no YouTube e inspirou até um casal a dar seu nome ao filho recém-nascido, iniciativa que a justiça tentou bloquear por causa das tais “tensões raciais e religiosas”.

Continua após a publicidade

As manifestações recentes e democráticas – é preciso lembrar? – que chacoalharam o mundo desde o Brexit parecem pétalas de rosa docemente caídas quando comparadas a grandes mundiais movimentos alimentados pela raiva.

O mais notável de todos é conhecido como “as revoluções de 1848”. As mudanças desencadeadas em toda a Europa nesse ano memorável são quase impossíveis de ser

resumidas, mas vamos tentar. Alemanha e Itália, em consequência delas, vieram a se unificar. A servidão foi abolida na Hungria e na Áustria e a monarquia absolutista derrubada nos lugares onde ainda subsistia. O estado-nação tal como viria a se consolidar veio dessa raiva toda.

Em nenhum outro país 1848 foi um ano tão momentoso quanto na França, onde ficou conhecido como a Revolução de Fevereiro. A monarquia restaurada foi abolida. Em seu lugar, nasceu a Segunda República. O povo continuou com raiva e fez mais um agito, em junho do mesmo ano. A rebelião foi sufocada, com a sanguinolência habitual na França. Em dezembro, Luis Napoleão Bonaparte, sobrinho do próprio, foi eleito presidente (três anos depois, restaurou, uma monarquia sem muito futuro)

Continua após a publicidade

Só para não esquecer: uns sujeitos chamados Karl Marx e Friedrich Engels escreveram em Bruxelas o Manifesto do Partido Comunista em 1848. Nos meios acadêmicos onde a atual onda de raiva é tratada como “racismo, sexismo, islamofobia, homofobia” e todos os outros pecados mortais de sempre, a raiva de 1848, fora a parte “burguesa”, é celebrada com entusiasmo incontido até hoje.

“Revoltar-se é uma condição natural da vida. Até a minhoca se volta contra o pé que a esmaga. Em geral, a vitalidade e a dignidade relativa de um animal podem ser medidas pela intensidade de seu instinto de revolta”, escreveu um mestre no assunto chamado Mikhail Bakunin.

Em 1848, Bakunin lutou nas ruas de Paris, depois foi para Alemanha e Polônia para tocar o anarquismo. Ainda teve tempo de viajar até Praga, onde escreveu o Apelo aos Eslavos, num congresso abreviado pelo bombardeio austríaco que também encerrou o levante na cidade.

Assim foi a vida em 1848, cheia de revoluções e contra-revoluções. Situado no oposto do espectro político de Bakunin, Alexis de Tocqueville ficou horrorizado com o que viu nas ruas de Paris e destruiu muitas esperanças românticas sobre 1848 ao descrever o confrontos entre “os que não tinham nada, unidos pela ganância; os que tinham alguma coisa, unidos por um terror em comum”.

Continua após a publicidade

Todas, todas, todas as pesquisas indicam que Macron ganhará de longe, no segundo turno. Provavelmente estão certas – exceto pelo espectro de 1848.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.