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Por Vilma Gryzinski
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Histórias de Israel: o rabino xiita e o general de esquerda

Libanês que foi agente infiltrado no Hezbollah vê filho condecorado, em meio a agito político sobre a atuação das forças armadas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h20 - Publicado em 16 Maio 2016, 14h58
O pai, o filho e uma guerra nada santa: Avraham e Amos Sinai, com sua trajetória única

O pai, o filho e uma guerra nada santa: Avraham e Amos Sinai, com sua trajetória única

Um libanês muçulmano que fugiu para Israel e se converteu ao judaísmo já é um espanto em si. Mas a trajetória que levou o xiita Ibrahim Yassin a se tornar o rabino Avraham Sinai é tão inesperada que não parece verdade.

Aliás, muitas coisas estão acontecendo atualmente em Israel e seu entorno que provocam estranhamento à primeira vista, quando a realidade é que estão entranhadas na história de um país de ainda vai fazer 70 anos, com uma religião – e uma narrativa – de quase seis milênios.

O rabino Sinai apareceu em público na semana passada, quando seu filho Amos, integrante da conhecida Brigada Golan, foi um dos 120 militares que receberam uma comenda do presidente Reuben Rivlin. Para fins de propaganda, sua história é espetacular e provavelmente enfeitada. Mas vale ser contada.

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Quando era Ibrahim Yassin, ele viveu a infernal guerra civil no Líbano.Diz ter visto um grupo de combatentes palestinos – um dos principais componentes estrangeiros do conflito – amarrarem sua filha entre dois carros, cada um levado em direção oposta.

A mulher de Yasmin estava prestes a dar a luz, sem nenhuma assistência, quando Israel entrou diretamente no pantanal libanês. Yassin pediu ajuda a uma patrulha israelense, sua mulher foi levada de helicóptero para Haifa e ele se tornou um colaborador.

Naquela época, um grupo militar xiita chamado Hezbollah estava começando a agir, disputando o poder com a  outra organização criada pelo Irã, a Amal. Uma célula do Hezbollah capturou Yassin. Ele foi torturado pessoalmente por Imad Mugnieh, que depois se tornaria um personagem conhecido e ao qual voltaremos mais adiante.

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“Não tinha um dia em que eu não desmaiasse aos pés dele”, disse o ex-xiita a uma televisão isralense. Até que seu filho pequeno fosse levado ao calabouço e “queimado vivo na minha frente”. Yassin diz que convenceu o grupo de sua inocência, entrou para o Hezbollah  e, durante dez anos, operou como  um precioso agente de Israel.

Em 1997,  quando achou que ia cair, recebeu ajuda dos israelenses para fugir com a família. Converteu-se, mudou de nome, virou rabino e Amos, o soldado homenageado, é o quarto filho de Yassin, hoje Avraham Sinai, a prestar serviço militar nas Forças de Defesa de Israel, o nome das forças armadas do país, chamadas de Tsahal ou pela sigla em inglês, IDF.

Nessa época do ano, Israel tem datas importantes, como o aniversário de sua fundação e o Dia do Memorial do Holocausto (5 de maio). Num discurso nesse dia, o major-general Yair Golan, vice-chefe do estado maior das forças armadas, fez uma declaração execrável, habitualmente ouvida entre as esquerdas de todo mundo que, por má fé, ignorância ou antissemitismo puro e duro, comparam a repressão israelense aos palestinos à Alemanha nazista.

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“Se tem uma coisa que me apavora nas memórias do holocausto, é identificar os hediondos processos que aconteceram na Europa há 70, 80 e 90 anos e encontrar sinais de sua existência aqui, entre nós, em 2016”, disse Golan. A esquerda mais à esquerda de Israel diz coisas semelhantes, mas é claro que na boca de um general a repugnante comparação provocou uma bombástica discussão política.

Ainda mais depois que o chefe de Golan, Moshe Yaalon, o ministro da Defesa, apoiou indiretamente as declarações, conclamando todos os oficiais a “não ter medo de falar o que acham”. Yaalon também havia dito que perde o sono à noite por causa da minoria que “tenta influenciar a imagem e os valores” das forças armadas.

Desde antes da criação do estado de Israel, forças antagônicas disputam o comando político e a condução militar do país. Os ultra-nacionalistas, que perderam esse confronto lá atrás, renasceram em diversas correntes, integradas ou rompidas com o jogo político tradicional. O primeiro-ministro Yitzhak Rabin, por exemplo, foi assassinado pelo militante de um grupo que reunia todos os extremos: religioso, nacionalista e supremacista.

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O caso mais recente envolve um sargento ligado a essa matriz, Elor Azaria, que atirou num palestino já dominado, depois de um ataque a facadas, a modalidade de violência que mais preocupa os israelenses atualmente.

Houve uma enorme reação à prisão de Azaria entre os ultra-nacionalistas. Foi a ela que Yaalon se referiu. O ministro, que não tem nada de esquerdista, disse também que isso não é questão de direita ou esquerda e que as forças armadas não admitirão soldados “rápidos no gatilho, vinganças ou perda do auto-controle”.

Perda de disciplina é o pesadelo de qualquer comandante militar, ainda mais num país minúsculo, com os problemas que Israel tem. Mas, como Yaalon avançou pelo terreno político, teve que se retratar: as forças armadas, disse depois de chamado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, seguem as orientações dos governantes eleitos pelo povo.

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Parece óbvio e, evidentemente, não é, tanto pelo papel e a importância  dos militares de carreira na vida nacional, quanto pelo fato de que todos os israelenses, à exceção da maioria dos religiosos ultra-ortodoxos, têm que mandar seus filhos para fazer o serviço militar.

Curiosamente, um dos assuntos menos estrondosos dos últimos dias em Israel foi a morte, numa “grande explosão”, do comandante militar do Hezbollah, Mustafa Badreddine. Ele estava na Síria, operando o contingente dos libaneses xiitas que lutam para impedir a queda de Bashar Assad e a consequente derrocada para a minoria muçulmana, rompida e em estado de guerra com a maioria sunita.

O fato mais comentado, em Israel, foi que Badreddine não parece ter sido alvo de nenhuma operação israelense. Não há escassez de inimigos para o Hezbollah na Síria – 1 400 de seus combatentes já foram mortos lá e não parece que os vivos enfrentem perspectivas muito mais tranquilas.

Mas todos os antecessores de Badreddine foram mortos por Israel. Entre eles, Imad Mughniyeh, o iniciante que torturava o rabino Avraham Sinai quando ele ainda se chamava Ibrahim Yassin. Mughniyeh ascendeu ao topo no Hezbollah. Foi morto numa explosão em Damasco, em 2008. Seu filho, Jihad, também morreu num bombardeio israelense que acertou uma comitiva de líderes do Hezbollah e de seus operadores iranianos.

Ostensivamente, Israel só interfere na Síria para pegar homens marcados para morrer, por atentados terroristas praticados contra israelenses, ou impedir a transferência de mísseis antiaéreos de alta precisão para o domínio do Hezbollah no Líbano. É claro que o país opera em várias outras frentes, guiado por uma premissa que parece mais difícil de responder do que nunca, embora tão complicada quanto sempre: como defender melhor os seus interesses nacionais?

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