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Ex-presidente com cabeça a prêmio e mulher louca para falar

Atingido pela central brasileira de corrupção, Toledo pode ir direto para a cadeia se for extraditado para o Peru, mas a ruiva de sua vida vai dar trabalho

Por Vilma Gryzinski
11 fev 2017, 16h55

É de dar inveja aos brasileiros que se impressionam com o número de poderosos recolhidos no sistema prisional de Curitiba: o Peru pode ter, em algum momento do futuro próximo, dois ex-presidentes na cadeia.

Alberto Fujimori, descendente de japoneses apelidado de El Chino, já cumpre pena por uma lista que começa com nada menos que crimes contra a humanidade.

Alejandro Toledo, o primeiro presidente com plena ascendência indígena chamado de El Cholo, está com prisão preventiva de um ano e meio decretada e cabeça a prêmio, com recompensa equivalente a quase 100 mil reais a quem facilitar sua localização.

A Lava Jato peruana já identificou 11 milhões de dólares, de um total de 20, repassados ilicitamente  pela construtora brasileira que irradiou corrupção entre os suspeitos de sempre de um colar de países latino-americanos e até figuras políticas  mais insuspeitas.

Os principais envolvidos, incluindo um diretor local, da empresa cantaram tudo desde que foram submetidos ao modus operandi da central brasileira de investigação de corrupção: ou fala ou se ferra.

O método pode dar resultados interessantes se eventualmente for incluída no pacote a mulher de Toledo, Eliane Karp, uma antropóloga especializada em rituais de magia de povos indígenas da região de Cuzco e práticas políticas de outras fronteiras selvagens da América Latina.

Protegida pela distância e pelos passaportes – nasceu em Paris, belga e israelense e americana -, Eliane está soltando a língua que a tornou nada simpática na época em que foi uma primeira-dama do barulho.

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Por rede social, ela ameaçou diretamente o atual presidente, Pedro Pablo Kuscynski, conhecido pelas iniciais. Ele foi ministro da Economia e primeiro-ministro durante o governo de Alejandro Toledo e tem uma reputação comparativamente impecável.

“Que vergonha, PPK. Você, que fez tantos negócios e lobbies, não me faça falar. Eu sei o que você fez da última vez”, escreveu ela. A última frase foi em inglês, como uma versão modernizada do filme de terror adolescente.

Estava furiosa como uma operação policial na casa do casal em Camacho, um “conto surrealista”, “sem provas”, “amparado numa lei do Congresso de maioria fujimorista”, “sem a presunção de inocência”, emanada de um “judiciário altamente politizado”, insuflada por uma “imprensa que decida, acusa e pressiona” os promotores.

Fora a parte fujimorista, nada que não tenhamos visto antes, incluindo a ameaça direta ao presidente. “Não sei, não falo inglês”, tentou brincar PPK, que fez boa parte de sua carreira de economista nos Estados Unidos e renunciou à cidadania americana para assumir a presidência, aos 78 anos, como um técnico sem carisma, mas digno de crédito, ao contrário dos populares e complicados antagonistas Fujimori e Toledo.

El Cholo foi eleito na esteira do extraordinário e autoritário desastre que El Chino comandou na etapa tardia de seu governo. Toledo parecia bom demais para ser verdade: filho de uma família miserável, ex-engraxate que conseguiu uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, chegou a Stanford e começou governando com uma abrangente proposta de união nacional.

Governou também numa parceria complicada com a mulher, com quem se reconciliou durante uma viagem a Israel depois de seis anos de separação. Com sua flamejante cabeleira, e seu destempero verbal Eliane Chantal Karp Fernenburg tinha uma imagem popular devido à defesa dos direitos da população indigena, que e majoritária no Peru. Era admirada como “a mulher mais inteligente do Peru”.

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O poder não fez bem ao casal, um fenômeno que aconteceu com outros defensores de nobres ideais esquerdistas. Néstor e Cristina Kirchner na Argentina, Daniel Ortega e Rosario Murillo na Nicarágua, Mauricio Funes e a brasileira Vanda Pignato, enquanto durou o casamento, em El Salvador, todos foram acometidos,em graus variados por males tristemente conhecidos.

Alguns transformaram-se no oposto absoluto, como retratos perversamente invertidos, do que defendiam em termos de honestidade e honradez. Eliane foi acusada de depositar na própria conta um cheque de 10 mil dólares destinado a vítimas de um terremoto, de transferir para laranjas do marido cinco milhões de dólares de um fundo para povos andinos e usar a mãe, sobrevivente do genocídio nazista contra os judeus, para comprar uma casa de luxo.

“Sei que me chamam de princesa belga pelas costas, mas as massas me amam”, disse certa vez, como uma Evita andina.

Eliane, que  é professora em universidades importantes, incluindo Stanford,  não está envolvida nas denúncias contra o marido e dificilmente vai parar de brigar pelo Facebook. Mas os antecedentes brasileiros indicam que casais que fazem política juntos também continuam unidos nas encrencas.

Ameaças de delação proferidas à distância são bem diferentes de acordos de cooperação feitos sob o peso da justiça. Em quaisquer circunstâncias, não faltará gente interessada no que Eliane tem a dizer.

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